Casas sem banheiro no Japão: minimalismo, cultura ou necessidade?
Moradias incentivam o uso da infraestrutura urbana e a interação social, mas têm motivações econômicas
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A onda de microapartamentos que se espalha pelas grandes cidades não é uma tendência vista apenas no Brasil. Esse movimento está se tornando popular, também, no Japão, onde moradores vêm adotando uma vida minimalista. É cada vez mais comum encontrar imóveis minúsculos sem banheiro ou chuveiro para atender quem busca uma moradia barata e bem localizada.
Reportagem publicada pela Nikkei Asia descreve um destes apartamentos: uma propriedade com 40 anos de idade, cozinha de cerca de 3,3 m², uma sala no estilo japonês e um banheiro que não possui chuveiro. O aluguel do imóvel – localizado em uma região badalada no bairro de Shibuya, em Tóquio – custa cerca de 40.000 ienes (US$ 300), incluindo água e gás.
Para tomar banho, o morador se desloca a uma das duas casas de banho públicas que ficam nas redondezas. O apelo desses apartamentos consiste em oferecer um estilo de vida com mais interação social aos moradores, além do valor de aluguel mais baixo. E o cenário não é novo. Mundo afora, metrópoles crescem e formam um ambiente imobiliário que privilegia imóveis compactos. Porém, o Japão possui algumas peculiaridades.
Questões culturais
“Existe um plano de fundo cultural para esse movimento. Desde as primeiras construções japonesas, os banheiros estavam fora das casas”, contextualiza a arquiteta e pesquisadora Marina Lacerda. “O entendimento de intimidade e de privacidade deles é diferente do nosso. Nos banhos públicos termais, por exemplo, não existe o constrangimento de ficar nu como existe sob o olhar ocidentalizado”, acrescenta.
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Os apartamentos sem banheira ou chuveiro, aliás, eram empreendimentos comuns no Japão dos anos 1950 aos anos 1970. Durante o boom econômico do país no pós-guerra, o serviço de gás tornou- se tornou mais acessível e o número de propriedades sem banheiros diminuiu até virar uma raridade. O retorno a esse estilo arquitetônico, buscado por pessoas dos 20 a 30 anos, é a resposta a uma busca por mais “simplicidade e conexão”.
A ideia dessas propriedades é reforçar a perspectiva de que o morador pode enxergar a cidade inteira como “sua casa” e incentivar que as pessoas interajam mais entre si, fortalecendo o senso de comunidade. “O papel da casa no Japão é diferente. Os japoneses vêem a casa como um espaço utilitário, principalmente aquelas pessoas que têm uma jornada de trabalho intensa”, pontua Marina.
Contexto econômico
Apesar do retrospecto cultural, no entanto, Marina Lacerda acredita que o contexto econômico também é determinante para a consolidação da tendência no país. Ela acredita que, assim como se vê com frequência em São Paulo, a construção desses microapartamentos e estúdios também está associada à condição socioeconômica dos habitantes.
“Entendo que tenha uma população que realmente deseje esse tipo de empreendimento menor e sem banheiro. Porém, existe a mão influente do mercado imobiliário determinando como as pessoas devem morar e quais tipos de ambiente são possíveis de serem habitados”, comenta. “Tanto é que, quem tem acesso a arquitetos, como a elite japonesa, adota um tipo de discurso diferente em relação às moradias.”
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Ela destaca que existem arquiteturas contemporâneas que priorizam as estruturas de casas sem banheiros, mas esse movimento tende a estar mais ligado à população trabalhadora, que se locomove utilizando o transporte público lotado e que deseja morar em lugares mais bem localizados.
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