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Descubra como sua casa pode estar deixando você deprimido

Influencers viralizam na internet fazendo faxina e organização, ajudando pessoas a recuperarem a autoestima por meio da limpeza e decoração do lar

Por: Rafael Moura, Estadão Imóveis . 16/08/2022 - 6 minutos de leitura

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Pesquisa divulgada em 2020 pela Universidade de Aarhus, na Dinamarca, observou quase um milhão de dinamarqueses entre 1985 e 2013, avaliando 16 transtornos mentais. Os estudos comprovaram que crescer em contato com a natureza, com brincadeiras ao ar livre, significa 55% menos risco de desenvolver problemas de saúde mental na fase adulta.

Para a professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo (UP), Marilice Casagrande Lass Botelho, “os aspectos mais prejudiciais à saúde mental dos usuários dos espaços normalmente estão relacionados a questões de proporção (problemas ergonômicos), incidência inadequada de iluminação natural, presença de ruído e uso inadequado de cores e texturas”.

Ela explica que, quando se fala em um ambiente mal planejado, há muitos campos de estudo envolvidos nessa análise. Entre eles estão, principalmente, a ergonomia, que estuda a relação das pessoas com os ambientes; a engenharia humana, que sintetiza e integra a psicologia; a antropologia, fisiologia e medicina… e a antropometria, que é o estudo das medidas do corpo humano.

Organização ‘terapêutica’ do lar

Não apenas a decoração, mas também a organização do lar pode contribuir positiva ou negativamente com o bem-estar dos seus moradores. O canal GNT lançou recentemente a primeira temporada do programa “Desapegue se for capaz”, apresentado por Sabrina Sato em parceira com a especialista em organização, Micaela Góes, e a arquiteta Gabriela de Matos. O programa mostra casos de pessoas que acumulam centenas de objetos por anos, não conseguem desapegar e ficam sufocados.

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A proposta é que os participantes consigam desapegar de pelo menos 30% dos objetos acumulados, além de ganhar uma consultoria de organização, upgrade de reforma e decoração nos ambientes e uma casa mais arrumada. “Encarar esses objetos e escolher o que queremos manter na nossa vida vira um processo terapêutico: ter uma visão de tudo o que se tem, administrar e deixar mais claro o que queremos levar para o nosso futuro”, explica Carolina Ferraz, personal organizer

A profissional também atende clientes com comportamentos de acumulação – que possuem vínculos simbólicos com objetos e não conseguem desapegar, tornando o arranjo da casa insalubre. “Gente com esse quadro ouve dos outros que é fácil organizar, é só colocar as coisas no lugar. Essa atitude pode aumentar um quadro de ansiedade, pode fazer os indivíduos comprarem mais e aumentar ainda mais a bagunça, sentindo que são um caso perdido.”

Pós-graduada em Semiótica e Psicanálise, Carol lembra que um ambiente limpo e organizado contribui para a saúde integral do ser humano. “O fato de colocar os objetos do ambiente em um ponto específico pode ajudar a reduzir a ansiedade e diminuir estímulos cognitivos despertados por cores ou formas”, diz.

Faxina do bem 

Vídeos de influenciadores fazendo faxinas pesadas em lares viralizam na internet, mostrando o estado a que uma casa pode chegar quando os ocupantes desistem de arrumar. Um desses influenciadores é Guilherme Gomes, que começou a fazer faxina para ajudar uma prima e acabou chamando a atenção. “Eu divulguei umas fotos do antes e depois do trabalho. O resultado sempre impressiona. Daí passei a me dedicar ao serviço”, conta.

O influencer com mais de um milhão de seguidores no TikTok posta vídeos mostrando a condição que encontra e como a bagunça está relacionada à saúde mental. “A pandemia trouxe à tona problemas já existentes e o isolamento mostrou que aquela situação não era normal”, afirma. Segundo pesquisa da Organização Mundial da Saúde, na pandemia houve aumento de 25% dos casos de depressão no mundo.

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De acordo com Guilherme, os seguidores entram em contato pelas redes sociais pedindo socorro e ele escolhe alguns casos para intervir. “Mesmo querendo ajuda para mudar, as pessoas sentem dificuldade de desapegar de coisas fúteis”, conta. “Mas depois da limpeza e organização, elas têm esperança, agradecem o trabalho feito com sorriso, gratidão e muitas lágrimas de felicidade”, conta.

O manauense acredita que “a limpeza é o primeiro passo e o mais fundamental”. A sujeira da casa pode dizer muito sobre o momento de vida. “A organização reflete no interior de quem sofre com algum problema, a faxina ajuda o cliente a enxergar claramente como sua vida e mente estão desorganizados. Contar com ajuda psicológica e acompanhamento especializado, é importante.” Já Carolina acredita que a bagunça pode ser um efeito dos transtornos, não necessariamente a causa. “Indico para alguns clientes que procurem ajuda médica. Isso é parte do desafio, mas quando alguém topa ir em uma consulta, já temos 50% do problema sendo resolvido.”

Como o ambiente influencia na saúde mental

Uma das condições mais importantes para que um ambiente se torne mais confortável para os moradores é a iluminação natural. E esse não é um fator meramente emocional, mas biológico. A luminosidade no ambiente interfere diretamente no metabolismo dos seres vivos. Ter pouco contato com a luz natural muda a produção hormonal, o que é determinante para alterações de humor e padrões de sono, além do desenvolvimento de sintomas da depressão.

“Projetos bem planejados – com proporções espaciais e iluminação corretamente aplicadas, ventilação apropriada, baixo índice de ruído e paleta de acabamentos compatível com as funções ali desenvolvidas – geram espaços confortáveis e harmônicos, contribuindo assim para o bem viver”, destaca Carolina Ferraz. Nos espaços de trabalho da atualidade, novas formas são consideradas, como os chamados “espaços de descompressão”.

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Empregado desde a década de 1990, esse recurso tem impacto positivo. “Para compor o ambiente especial é utilizada uma decoração diferente. Mobiliário descontraído ajuda a relaxar, como pufs e sofás, mesas de jogos coletivos, televisão, instrumentos musicais, vídeo games e redes de descanso”, explica.

Não é à toa que essa estética vem sendo largamente utilizada por diversas empresas ao longo dos últimos anos. Essas áreas de convívio possibilitam o alívio da tensão do dia a dia, estimulam a criatividade das pessoas, promovem a socialização, diminuem o estresse e previnem, assim, depressão, ansiedade e até síndrome de burnout.

O que fazer para ter uma casa que não gere estresse?

Marilice lembra que incorporar características inerentes à natureza é uma estratégia que gera conexão entre os espaços construídos e o mundo natural. Elementos como água, vegetação, luz natural, madeira e pedra, por exemplo, são boas opções para transmitir sensação de bem-estar e conforto emocional. Tudo isso vai ao encontro dos preceitos da biofilia, termo que no grego antigo pode ser traduzido como “amor às coisas vivas”. 

“Com base nos estudos desenvolvidos pelo biólogo Edward O. Wilson, em 1984, ao se aproximarem da natureza e de outros seres vivos, os seres humanos desenvolvem sensação de bem-estar relacionada à paz e à tranquilidade. Comprovadamente, os benefícios são inúmeros, dentre eles a diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial”, afirma.

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Segundo a biofilia, a forma dos móveis e dos ambientes também contribui para que um lugar seja mais ou menos amigável à saúde mental. “O uso de formas e silhuetas que mimetizem estratégias encontradas no mundo natural, com formatos mais sinuosos e orgânicos, em vez das linhas retas e formas geométricas, é outro fator que pode ajudar a manter a saúde mental.”

Além disso, as cores também podem colaborar. “A psicologia das cores nos leva a entender que a cor não é um fenômeno físico, mas um comprimento de onda que pode ser percebido de forma distinta por diferentes pessoas”, detalha. Estudos demonstram que diferentes emoções estão relacionadas às diferentes cores. Assim, o vermelho, por exemplo, estimula o corpo humano, aumentando a pressão sanguínea e o número de batimentos cardíacos, além de transmitir sensações de alta intensidade e confiança.

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