Os números
da empresa impressionam. Em abril e maio as vendas caíram 18% em comparação ao
mesmo período de 2019, mas em junho e julho houve salto de 50%, sendo que julho
de 2020 fica marcado como o melhor mês da história para a Bossa Nova, ao
contrário dos outros anos. Conhecido como um mês fraco por causa do período de
férias, neste ano julho somou aumento de mais de 600% na demanda por imóveis de
campo em relação a 2019. Já as vendas de imóveis internacionais se mantiveram
estáveis.
“Quem pode,
troca um apartamento de 80 metros quadrados por uma casa em Jundiaí, a 45
minutos de São Paulo. Não acho que isso vá afetar todo mundo, mas vai acabar
sendo interessante, porque as pessoas que ficarem terão menos trânsito, um
aglomeramento menor.” Mesmo para quem fica, o quadro é outro. Levantamento da imobiliária digital
QuintoAndar
registrou queda em diversos bairros considerados queridinhos do público, como
Pinheiros (-7%), Vila Mariana (-2%), Butantã (-9%), Bela Vista (-10%) e Moema (-10%).
No pódio aparece São Caetano do Sul, com 66% mais buscas entre maio e junho em
comparação a janeiro e março, seguido por Diadema (56%), Campinas (20%), Osasco
(15%), São Bernardo do Campo (8%) e Taboão da Serra (6%).
Mudança de
imóvel… e de comportamento
Outro levantamento da mesma empresa constata que, enquanto a busca por
kitinetes ou studios caiu 6% e 10%, respectivamente, a demanda subiu 8% por
casas na rua e 20% por casas de condomínio. Ter maior número de cômodos também
pesa na decisão. A procura por imóveis com apenas um quarto sofreu queda de
10%, enquanto aqueles com 2, 3 ou 4 quartos tiveram alta de aproximadamente
30%.
Assine nossa newsletter e receba por e-mail as principais notícias e dicas.
Fique tranquilo, não enviamos SPAM.
Quero me cadastrar para receber informações relevantes por e-mail. Fique tranquilo, não fazemos SPAM.
Outra
mudança evidente foi a procura por profissionais da arquitetura e decoração.
Com mais tempo dentro de casa, o setor celebra a revalorização do profissional
que planeja espaços e propõe o uso voltado para a organização e qualidade de
vida. Segundo o aplicativo de serviços
GetNinjas, a procura
por arquitetos subiu 112% entre março e maio de 2020, em comparação ao mesmo
período do ano passado. Se a categoria de reformas e reparos esteve entre as
mais afetadas na primeira fase da quarentena, com um encolhimento de 51% nas
solicitações, o anúncio da retomada gradual das atividades e liberação das
obras em unidades autônomas imediatamente representou um saldo positivo. Ao
longo de maio, a empresa recebeu um total de 60 mil solicitações por
profissionais da área, como pedreiro, vidraceiro, montador de móveis e
eletricista.
“Antes as
pessoas procuravam o condomínio clube. Agora privilegiam o apartamento em si e
não o que o prédio oferece. Está havendo uma retomada nas negociações,
inclusive dos imóveis urbanos, mas numa metragem maior. Os imóveis de metragem
mais baixa continuam estagnados, as pessoas ficaram mais reticentes em relação
a uma nova aquisição. Mas o mercado de luxo e alto padrão continua crescendo”,
diz Fernando Nekrycz, sócio fundador da Xaza, plataforma imobiliária.
“É
maravilhoso pensar no home office, mas não dá para saber de fato se ele
vai ser o novo normal. Estamos há apenas alguns meses nesse tipo de situação,
ainda é cedo para saber como a gente vai se comportar daqui para a frente. O
que eu penso em relação ao mercado é que temos que olhar para o médio e longo
prazo. Eu não tenho certeza se essa demanda não é sazonal. Se surgir a vacina,
as pessoas não voltarão a procurar os imóveis que buscavam antes? Vai demorar
um pouco pra gente saber que rumo o mundo tomou. Pensar nisso agora pode ser um
tiro no pé, principalmente para as incorporadoras”, concluir Fernando.
Mas não é só
a possibilidade de home office que faz as pessoas repensarem seu modo e
local de trabalho. Outro hábito do período de isolamento social envolve os
pets. A procura por animais de estimação mais
do que dobrou no período de pandemia e quem decidiu adotar já não pensa mais em voltar a
trabalhar como antes, como é o caso da Ana C. Costa, 35 anos, autônoma. “Quando
a vida normalizar eu não vou querer voltar para o mesmo ritmo de antes. A adoção
do gato tem a ver com isso, essas outras coisas que quero incluir no meu dia,
no meu tempo de vida.”
Comerciais
devem sofrer mais
Marcello
Romero comenta que, desde o início da pandemia até o presente momento, cerca de
110 mil m² de escritórios já foram desalugados na Faria Lima. Na Berrini, ainda
segundo o empresário, seriam 70 mil m². “O mercado comercial vai sofrer, o que
é uma pena, porque em março estava voltando para níveis pré-crise, em termos de
volume de área locada e disponível. Mas eu acho que vai ter sim esse repensar.
A procura por residências é sinal disso.”
Dados do FipeZap informam que no balanço dos últimos 12 meses
o preço médio de venda do segmento acumula queda de 2,27%, enquanto o recuo
registrado no preço médio de locação foi de -0,57%. No início de 2020, antes da
pandemia, o Banco do Brasil, por exemplo, tinha um total de 257
pessoas de seus 93 mil trabalhadores trabalhando de casa (menos de 0,3%). Desde
março, tudo mudou: o banco colocou 32 mil trabalhadores para operar suas
funções a partir da própria moradia. Agora, essa experiência em larga escala
vai se traduzir em uma economia de R$ 1,7 bilhão em 12 anos, com a devolução de
19 de um total de 35 edifícios de escritórios que o BB hoje ocupa em sete
Estados e no Distrito Federal.
Com o home
office estabelecido, até os quartos de hotéis viraram escritórios. De olho no público que precisa
trabalhar remotamente e não tem na própria casa um ambiente adequado, os hotéis
da rede Accor aproveitaram o crescente número de quartos vagos e criaram um
local voltado para o trabalho, promovendo o home office no dormitório.
As hospedarias que oferecem esse modelo de operação estão localizadas em
grandes centros, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e demais capitais com
grande demanda de escritórios.
“Ter um
local seguro, confortável e com preço acessível será uma solução para muitos
profissionais de diferentes áreas”, afirma em nota o vice-presidente executivo
de midscale da Accor no Brasil, Olivier Hick. A Startup de aluguel e compra de
residências, QuintoAndar, já anunciou que terá home
office até dezembro
e depois permitirá que times trabalhem indefinidamente de casa. A mudança na
forma de organizar as equipes pode mudar radicalmente a política do QuintoAndar
para contratações – afinal, será possível arregimentar funcionários que não
estão necessariamente em São Paulo, um mercado em que há escassez de
programadores e desenvolvedores. E caso esse tipo de política seja adotado por
mais empresas, pode até mudar a maneira como as cidades se organizam – se não é
preciso morar perto do trabalho, preços de habitação mudam (e o próprio negócio
do QuintoAndar pode ser afetado).