OPINIÃO: Saturação do Airbnb traz riscos e oportunidades para investidores
Gustavo Favaron é CEO do GRI Club

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O Brasil viveu uma verdadeira febre em torno do Airbnb. Estúdios e apartamentos compactos foram adquiridos aos montes por investidores em busca de renda extra — impulsionados por juros baixos, valorização imobiliária e o crescimento das plataformas de aluguel de curta duração.
Com dados promissores e altas taxas de ocupação no passado recente, muitos proprietários se sentiram seguros. Mas, como costuma acontecer em ciclos de mercado, os sinais de saturação começam a aparecer.
Segundo a AirDNA, principal fonte global de inteligência sobre locação de curta temporada, o número de imóveis listados no Airbnb no Brasil cresceu vertiginosamente: de 205 mil em 2021 para mais de 535 mil em janeiro de 2025. Já a taxa média de ocupação caiu de 65,3% para 43,2% no mesmo período.
A tarifa média diária também caiu quase 16% em quatro anos. Por enquanto, muitos anfitriões ainda conseguem equilibrar as contas — especialmente quem não depende de financiamento. Mas há um fato econômico inescapável: quando a oferta cresce mais rápido do que a demanda, os preços e as margens tendem a encolher.
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E há mais por vir. A Brain Inteligência Estratégica revela que mais de 72 mil estúdios foram lançados no Brasil desde 2020, sendo 39 mil apenas entre 2023 e 2024. A maioria desses imóveis é ideal para uso em plataformas como o Airbnb. O risco, portanto, não está apenas no presente — mas no que está prestes a ser entregue nos próximos trimestres.
Ainda assim, não se trata de anunciar uma crise imediata. Em muitos mercados, como São Paulo, ainda há bons níveis de ocupação. Algumas praças parecem mais saturadas que outras. E é compreensível que, com o “sol brilhando”, seja difícil prever uma tempestade. No entanto, o cenário está mudando gradualmente, e exigirá mais preparo e estratégia dos gestores de imóveis de curta temporada.
Manter ocupação, margens e competitividade exigirá eficiência operacional, experiência do cliente e diferenciação. Quem ganha com isso são os consumidores que terão acesso a imóveis melhores e mais baratos. É justamente essa popularização do Airbnb que deve ser o antídoto para a crise que certamente vai passar depois de uma breve tempestade.
Por outro lado, alguns movimentos podem atenuar os efeitos de uma superoferta de Airbnb. A dificuldade do cidadão adquirir seu imóvel próprio tem sido fator determinante para o crescimento acelerado dos alugueis tradicionais — que subiram 13,5% em 2024, segundo o FipeZap.
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Assim, não é difícil imaginar que muitos brasileiros passem a aceitar o aluguel de estúdios como solução permanente, ainda que não ideal.
E aqui surge um ponto importante: enquanto o foco dos inquilinos estará cada vez mais em apartamentos de dois dormitórios — que tendem a ser mais escassos e valorizados — parte dos estúdios hoje disponíveis no Airbnb pode migrar para o mercado tradicional por falta de opções maiores ou por preços inacessíveis.
Ou seja, o próprio desequilíbrio do aluguel tradicional pode absorver parte da oferta do curto prazo. Esse movimento traz uma reflexão estratégica: o setor imobiliário precisa se reinventar. As incorporadoras, historicamente voltadas para construir e vender rapidamente, terão que repensar seus modelos.
Não é simples migrar para um formato de build to rent, onde os imóveis são mantidos sob gestão e alugados por longos períodos. Fechar essa conta exige capital, gestão, estrutura e visão de longo prazo.
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Mas também é verdade que toda transformação exige criatividade, disposição para inovar e pensar fora da caixa. E o cenário atual, com juros altos, poder de compra comprimido e valorização do aluguel, pode ser o gatilho necessário para repensar como incorporamos, operamos e nos relacionamos com o morador.
O Airbnb continuará relevante, sem dúvida. Mas seus usuários — especialmente os proprietários — precisarão ser mais sofisticados, eficientes e preparados para competir em um mercado mais desafiador. E o aluguel tradicional, cada vez mais comum, exigirá mais profissionalismo e oferta qualificada.
Estamos em meio a uma transição. E, como toda transição, ela carrega riscos — mas também oportunidades imensas para quem souber se adaptar primeiro.
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