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Com IA, edifícios podem nos ensinar a descarbonizar

Marcelo Dadian é VP de Novos Negócios e Incorporadoras do Grupo OLX

Por:Marcelo Dadian 16/03/2024 3 minutos de leitura
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"Prédios são laboratórios vivos. Com ajuda da tecnologia, eles podem ajudar o setor imobiliário, um dos mais poluentes, a se descarbonizar"/ Crédito: radub85/AdobeStock

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Faça um experimento: veja qualquer pesquisa ou reportagem sobre os assuntos que mais preocupam os consumidores atualmente, sobretudo os mais jovens, e garanto que você encontrará o termo “mudanças climáticas”. 

A crise ambiental – uma crise que já vivemos, haja vista as recentes ondas de calor recorde ou o aumento na frequência de eventos climáticos extremos, como temporais ou estiagens – é um tema cada vez mais central, e as empresas são compelidas a oferecer respostas para esses novos anseios do consumidor.

O mercado imobiliário é impactado diretamente por essa agenda. Não poderia ser diferente: o setor responde por cerca de 40% das emissões globais de CO2. Essa marca negativa se deve, em primeiro lugar, à cadeia produtiva altamente poluente dos insumos usados na construção civil, concreto e aço em particular. 

A Chatham House, instituto de pesquisa do Reino Unido, estima, por exemplo, que 8% das emissões mundiais de carbono advém da fabricação do cimento. Em segundo, a operação dos edifícios, com seus sistemas de refrigeração e iluminação obsoletos, contribui sobremaneira para o caráter poluente desse mercado.

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A descarbonização do setor imobiliário está, portanto, na ordem do dia. A OCDE, por meio de sua Agência Internacional de Energia, estima que até 2060 o total de área construída no planeta irá dobrar, alcançando a marca impressionante de 240 bilhões de metros quadrados – ou uma cidade de Nova York sendo erguida todo mês, por quase 40 anos. É evidente que, mantidos os atuais padrões de poluição, o planeta não irá comportar esse grau de crescimento.

Falar em descarbonização do mercado imobiliário exige pensar em três níveis, ou três problemas distintos: imóveis antigos, construídos há décadas; imóveis construídos recentemente; e empreendimentos futuros.

No caso dos primeiros, a margem de manobra é pequena. É necessário investir, sim, na modernização dessas casas e edifícios, com atualização de redes elétricas, instalação de placas de energia solar, sistemas inteligentes de iluminação, mas há um número finito de reformas e alterações que cada projeto comporta.

Imóveis novos tendem a sair na frente no quesito sustentabilidade. Há um claro esforço do mercado para atender a esses critérios, e quem acompanha os anúncios do setor viu crescer exponencialmente o uso de termos como “eficiência energética”, “fachada ventilada”, “placas fotovoltaicas” e assim por diante. 

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O mercado também adotou certificações de sustentabilidade, como AQUA-HQE (“Alta Qualidade Ambiental”, ou haute qualité environnementale, no original em francês), LEED (Liderança em Energia e Design Ambiental) e Selo Casa Azul + CAIXA, desenvolvido por pesquisadores da USP, UNICAMP e UFSC.

O ímpeto na direção certa já existe, mas é preciso avançar mais. Cada edifício é um verdadeiro laboratório vivo, dinâmico, sobre como o desgaste ao longo do tempo, as condições climáticas locais e o comportamento dos moradores influencia os níveis de poluição de um imóvel. Basta haver quem colete e interprete esses dados.

Aqui a tecnologia pode ser uma aliada poderosa. Ferramentas de inteligência artificial (IA) são capazes de “ler” essas informações, de identificar padrões de comportamento e consumo, de avaliar o desempenho dos equipamentos prediais, de aprender (e indicar) o que funciona e o que não funciona em um imóvel. 

Todos sabem que a tecnologia digital, por meio de automações e do controle inteligente de sistemas, permite economizar energia, mas é preciso olhar para a IA também como produtora de métricas objetivas de sustentabilidade imobiliária. Ela pode de fato nos ensinar a construir edificações mais verdes e eficientes.

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Falando nisso, os empreendimentos futuros talvez representem nosso maior desafio em termos de descarbonização. A construção civil ainda é um setor um tanto “antiquado”, com pouca automação nos canteiros de obras e dependente de materiais cuja produção gera um enorme passivo ambiental. 

É evidente que precisamos adotar ou desenvolver novos materiais, melhorar a eficiência energética das construções, reduzir o descarte de resíduos, mas é impossível traçar metas ambiciosas de curto prazo. A meta principal aqui é muito simples: que neste ano sejamos melhores e mais sustentáveis do que fomos no ano anterior.

O momento não poderia ser mais oportuno para essa reflexão, pois no dia 16 deste mês celebramos o Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas. Que o setor imobiliário, tão preso ainda a uma cadeia produtiva poluente, esteja à altura de seus desafios e possa colaborar para um futuro mais verde.

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