As construtoras brasileiras enfrentam hoje um cenário de alto risco: a escassez de mão de obra especializada. Segundo a Sondagem da Construção do FGV IBRE, 71,2% das empresas relatam dificuldades para contratar profissionais qualificados, sendo que 39% apontam “muita dificuldade” nesse processo.

Sem profissionais adequados, a produtividade declina, os custos aumentam e a entrega de projetos fica sob ameaça.

São duas as principais causas desse desequilíbrio: a falta de incentivo à formação técnica, com cursos de menor atratividade e baixo investimento público e privado; migração de trabalhadores para setores tidos como mais dinâmicos ou bem remunerados, como tecnologia e serviços. Esse deslocamento pressiona salários, o que pode elevar o custo da mão de obra e fragilizar etapas finais, como acabamentos e instalações.

Apesar dos desafios, o setor cresceu 4,1% em 2024, impulsionado pela retomada do mercado imobiliário e por programas de habitação popular. No entanto, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) projeta desaceleração para 2025, com expansão estimada em apenas 2,3%, reflexo das altas taxas de juros e do aumento nos custos de insumos e mão de obra.

Num ambiente de recursos mais escassos e o acesso ao crédito cada vez mais caro, manter margens saudáveis e prazos ajustados torna-se cada vez mais desafiador. Para transformar obstáculos em vantagens competitivas, é possível recomendar três pilares estratégicos:

• Automatização e tecnologias emergentes: A adoção de soluções digitais e automação pode gerar ganhos reais de produtividade e redução de custos. Alguns exemplos práticos:

• Drones e fotogrametria para levantamento topográfico e mapeamento de canteiros, reduzindo em até 70% o tempo de inspeção manual.
• BIM (Building Information Modeling) para integração multidisciplinar de projetos, minimizando retrabalhos e conflitos de projeto em até 30%.
• Sensores IoT e monitoramento em tempo real de cura de concreto, umidade e vibrações, garantindo a qualidade estrutural e evitando falhas que podem custar milhares de reais em reparos.
• Plataformas de gestão preditiva de equipamentos, usando machine learning para agendar manutenção antes de falhas, estendendo a vida útil de máquinas em até 25%.
• Impressão 3D de concreto e pré-fabricação modular, acelerando prazos de obra e reduzindo desperdícios de materiais em até 50%.
• Realidade aumentada (AR) e óculos inteligentes para guiar equipes de campo em procedimentos complexos, diminuindo erros de instalação e treinamento em até 40%.

• Capacitação contínua: Estruturar programas de treinamento interno e parcerias com instituições de ensino técnico, assegurando atualização constante de equipes e atraindo novos talentos.
• Cultura de inovação e colaboração: Fomentar ambientes onde a experimentação é valorizada e a comunicação fluida entre equipes se torna norma, ampliando o engajamento e a retenção de profissionais.

Entre as diversas metodologias que reforçam esses pilares, destaca-se a Lean Construction, ou “construção enxuta”. Desenvolvida a partir dos princípios do Lean Manufacturing, essa filosofia adapta-se ao canteiro de obras para eliminar desperdícios e maximizar o valor entregue ao cliente, e seus principais benefícios são identificados em pontos como:

• Redução de desperdícios de materiais e tempo, pela sincronização de etapas e melhor fluxo de suprimentos.
• Aumento da qualidade e segurança, graças à padronização de processos e ao engajamento de equipes em melhorias contínuas.
• Melhoria na comunicação entre todos os stakeholders, resultando em decisões mais ágeis e menos conflitos.
• Flexibilidade para ajustes nos cronogramas e escopo, reduzindo atrasos e multas contratuais.

A crise de mão de obra qualificada é real, mas não intransponível. Com planejamento adequado, investimento em tecnologia, desenvolvimento de pessoas e práticas enxutas, sua construtora estará preparada para os desafios de 2025 e além.