Seja para quem quer permitir a entrada de luz natural na residência, criar um ambiente mais arejado ou simplesmente deitar olhando para as estrelas, a claraboia pode ser o elemento ideal para dar um novo visual a um imóvel.
De título de livro do José Saramago a nome de música do 14 Bis, o termo claraboia na arquitetura se refere a uma abertura no teto que, além de valorizar a iluminação, trazer calor e melhorar a ventilação, pode dar ao espaço a aparência de ser maior do que de fato é.
“Em locais muito fechados ou que tenham restrições a aberturas de janelas, por exemplo, a claraboia é capaz de passar a sensação de amplitude espacial”, explica Wilson Christensen, arquiteto do Gume Arquitetura, escritório especializado em arquitetura e interiores.
Não foi à toa que o Panteão de Roma, o Palácio de Versalhes e uma série de prédios tradicionais construídos no século XIX adotaram o recurso com origens na Europa clássica. Quando instalada de forma inteligente, a claraboia propicia uma série de vantagens ao local.
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“Ela pode iluminar até 8 vezes mais o ambiente do que uma janela do mesmo tamanho, reduzindo o consumo de energia”, aponta Imira de Holanda, arquiteta e CEO do Studio M4. “A circulação de ar movimenta o ar frio próximo do chão e libera o ar quente pela cobertura, proporcionando uma circulação natural”, complementa.
Por mais que, à primeira vista, a claraboia traga a sensação de que você sempre vai acordar pelos raios de sol numa manhã de primavera, a verdade é que o elemento também tem suas desvantagens.
“Pela dificuldade de acesso, a manutenção para limpeza é difícil. Também não é possível ter controle da quantidade de luz e ventilação sem um sistema de fechamento próprio”, destaca Imira. “Além disso, as claraboias tendem a deixar entrar mais luz solar do que outros tipos de janelas, o que é útil em algumas situações, mas pode deixar o ambiente mais quente do que o proprietário gostaria.”
Quem se depara com uma claraboia nos dias de hoje nem imagina que a etimologia da palavra, oriunda do francês claire-voie, remete às construções das igrejas góticas. Com o tempo e adaptações, surgiram diversos formatos que se encaixam melhor em determinados ambientes.
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Apesar das várias alternativas populares, o arquiteto Wilson destaca que, por se tratar de uma abertura no teto, outros muitos exemplos poderiam ser categorizados como uma claraboia. “Isso vai depender do tamanho, tipo de construção e proposta de uma casa”, comenta.
Para quem quer uma instalação mais simples, a substituição de telhas opacas por materiais transparentes e translúcidos, como vidro ou policarbonato, já caracterizaria uma claraboia. Imira aponta, no entanto, que a escolha do material vai trazer aspectos diferentes ao ambiente.
“Com o acrílico, é possível contar com a proteção UV do vidro, além de mais cores e um material mais econômico; o lexan é mais resistente ao vento; o policarbonato-aerogel tem um desempenho térmico superior, podendo evitar ganhos ou perdas de calor, mas são menos duráveis e fortes”, sinaliza.
Wilson completa afirmando que, dependendo do local, também são necessárias bases de alvenaria para acoplamento. “Por outro lado, para casos em que o vão já existe ou está previsto na edificação, basta a instalação de estrutura tubular metálica e vidros”, pontua.
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Há, portanto, diversas soluções de materiais. A escolha deve se basear na estrutura do local, no valor disponível para investimento, no uso que a área terá e no gosto individual.
O valor pode variar bastante. As claraboias compostas por domo normalmente são mais baratas, pois é um material mais comum no mercado e, por serem mais leves, não exigem tanto da estrutura da edificação.
Wilson explica também que é possível optar por claraboias criadas sob medida e que dependem de outras estruturas, de um projeto e de mão de obra específica. Tudo isso pode aumentar bastante o custo de instalação.
Claro que ninguém vai impedir que o morador de uma casa construa a claraboia na sala, no telhado sob a televisão, mas isso não é o mais recomendado. “É importante avaliar as áreas que exigem pouca luminosidade ou até mesmo a sua restrição”, esclarece o arquiteto.
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Em adegas, por exemplo, a luz solar pode alterar a composição dos vinhos. O mesmo vale para roupas, que, se não armazenadas em locais fechados, podem estragar.
Imira adiciona que cômodos com escadas, corredores e halls também não são recomendados. “Outros espaços podem se beneficiar bastante. Tudo depende da idealização do projeto”, resume.