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Como fomentar cidades afetivas?

Movimento propõe a criação de mais ambientes de uso coletivo e com mais participação popular na gestão urbana

Por:Breno Damascena . 27/01/2023 - 3 minutos de leitura

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Se São Paulo fosse um podcast, os ouvintes já estariam acostumados a ouvir em velocidade acelerada. O ritmo apressado da cidade, representativo da capital paulistana, é uma locomotiva na contramão daquilo que se propõe o conceito de cidades afetivas. O termo é utilizado para designar práticas, processos e desenhos arquitetônicos que tornem a vida nas cidades mais confortável e agradável para seus habitantes. 

“Desde a Mesopotâmia, as cidades são espaços de encontro. O propósito das cidades afetivas é provocar uma mudança para que as estruturas urbanas, de fato, impulsionem a comunicação e o bem-estar dos habitantes”, sintetiza Ana Carla Fonseca, especialista em economia criativa e fundadora da Garimpo de Soluções. “A gente percebe que isso vem se perdendo nos últimos anos”, lamenta. 

O que são as cidades afetivas?

Quando as primeiras cidades surgiram, nos arredores do Rio Eufrates, o principal objetivo era reunir pessoas. A visão dos defensores da construção de cidades afetivas é que esse ideal foi esquecido em detrimento de obstáculos comuns às grandes metrópoles. “Situações de violência, exclusões e outras mudanças sociais criaram um ambiente menos propício a conexões”, argumenta Ana Carla. 

Essa perspectiva é traduzida em sinais visíveis de desigualdade e afastamento social. Os 10% mais ricos no País, por exemplo, ganham quase 59% da renda nacional total, segundo o Relatório sobre as Desigualdades Mundiais. Quase 35 milhões de pessoas no Brasil vivem sem água tratada e cerca de 100 milhões não têm acesso à coleta de esgoto, de acordo com a 14ª edição do Ranking do Saneamento. 

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Enquanto grande parte da população vive sob um véu de caos urbano, que se reproduz em altos índices de estresse, crises de burnout, doenças cardíacas e outros transtornos físicos e mentais, as cidades, quando não são ambientes amistosos, potencializam esses efeitos nocivos. O movimento Cidades Afetivas busca fomentar soluções práticas para enfrentar esse cenário de intolerância e individualismo. 

Como fomentar cidades afetivas? 

“As cidades atualmente são voltadas para os carros, mas nos últimos 20 anos vimos surgir iniciativas relevantes focadas em incentivar a caminhabilidade”, analisa Ana Carla. “Queremos gerar espaços de encontros de forma a fazer com que as pessoas não fiquem 12 horas presas no ônibus, estacionadas em um carro em um engarrafamento ou com medo de andar na rua em qualquer horário”, sintetiza.

A especialista em economia criativa, Ana Carla, enumera passeios noturnos de bicicletas, hortas urbanas e orçamento participativo como práticas que incentivam as cidades afetivas/ Crédito: Arquivo Pessoal

Grupos de passeios noturnos de ciclistas, hortas urbanas e encontros em praças são algumas das intervenções urbanas sugeridas como ferramentas para enfrentar a lógica de segregação comum às grandes cidades. Ana, porém, sugere que a melhor forma de fomentar cidades afetivas é democratizando a gestão dos municípios e incentivando a participação coletiva em tomadas de decisão.

A importância dos processos coletivos

Para a especialista, parte fundamental da transformação das cidades passa pelo entendimento de que o indivíduo faz parte de um ecossistema. “Existem duas formas de fazer isso: imposição, por meio da aplicação de multas e criação de regras; ou por disponibilidade, quando as pessoas se sentem melhor ao realizar determinados movimentos”, pontua.

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“Quando o cidadão compreende o que é cidadania, isso se reflete na sociedade.” Ela cita os orçamentos participativos como uma intervenção popular que faz parte dessa ideia. No Brasil, o mecanismo governamental permite que os habitantes participem de decisões sobre o orçamento público e orientem obras de infraestrutura ou serviços para as cidades. 

Uma das promessas feitas pelo atual Presidente da República, Lula, durante sua campanha foi a de propor orçamento participativo via internet, para democratizar ainda mais o modelo. Em São Paulo, é possível sugerir e acompanhar a implementação de propostas realizadas por meio do orçamento cidadão. O Plano Diretor para a cidade é um dos temas em análise no momento.

A proposta das cidades afetivas, na perspectiva de Ana, é sugerir novos olhares para a vida em sociedade. “É a mesma lógica de fazer mutirões para coleta de lixo na rua, colocar estantes para doação de livros em paradas de ônibus, calçadas mais acessíveis para a caminhada cotidiana ou pagar um café numa padaria para a próxima pessoa que vai entrar no estabelecimento”, exemplifica.

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