“Trazemos um olhar periférico para o mercado imobiliário”, afirma Bruno Sindona
Sindona Incorporadora pretende alcançar VGV de R$ 525 milhões em 2024
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O empresário Bruno Sindona saiu da periferia de Osasco, São Paulo, para desenvolver moradias coloridas, piscina com toboágua e apartamentos espaçosos em empreendimentos que se enquadram no teto do Minha Casa, Minha Vida. À frente da Sindona Incorporadora desde 2013, ele argumenta que a desigualdade habitacional impacta o avanço do Brasil há séculos e trabalha para resolver este problema.
De origem humilde, Bruno diz que sabe o que é correr de casa com medo de alagamento, como é ter um cobrador de aluguel mal educado no portão e, principalmente, como é ter vergonha de levar alguém no seu próprio lar. Eleito Forbes Under 30 em 2019, acredita que o papel do incorporador é fazer o morador se sentir bem onde ele vive. Para isto, se propõe a construir “apartamentos de luxo” para as classes C e D.
Apoiado nesta estratégia, a companhia lançou mais de 2 mil unidades nos últimos 15 anos e tem 3 mil unidades em desenvolvimento. Este ano são cinco, sendo que duas já estão em fase de vendas: o Parque das Árvores, um empreendimento com unidades de 77 m² a 119 m²; e o Sunflower, com casas de 105 m² e terrenos de 250 m², ambos em Cotia, município da Região Metropolitana de São Paulo.
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A Sindona Incorporadora tem a expectativa de atingir um VGV de R$ 525 milhões este ano, o maior da história da empresa. Esta visão de negócios também abriu portas para Bruno no Governo Federal, onde é membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável. O empresário defende a importância da arquitetura periférica, realça a importância do MCMV e se mostra otimista com o segmento econômico neste momento.
Você apresenta a Sindona como uma construtora diferente das outras. Diz que constrói apartamentos de luxo para o Minha Casa, Minha Vida. Em quais pontos ela é diferente?
Minha mãe e minha avó, hoje falecidas, pegavam a casca do tomate para fazer uma flor e colocar por cima da maionese na hora do almoço. O custo disso era muito pequeno, mas o impacto sensorial era imenso.
Na Sindona, eu sei que não vou conseguir entregar um apartamento de 200 m² em um bairro central financiado pelo Minha Casa, Minha Vida. A minha inovação é fazer um tomate virar uma flor.
Olhamos de maneira humanizada para o mercado imobiliário. É um segmento que movimenta trilhões de reais e que é capaz de impactar a vida de pessoas, de famílias e da cidade. Queremos causar este impacto e gerar mais valor do que apenas um teto.
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A empresa nasceu na periferia de Osasco, na Grande São Paulo, e nós trazemos um olhar periférico para o mercado imobiliário. É uma visão diferente de empresas fundadas por pessoas muito capitalizadas e endinheiradas.
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Nos especializamos em empreendimentos vistos como problemáticos e trabalhamos para gerar uma identificação com o público que atuamos.
Como vocês traduzem essa visão periférica em empreendimentos residenciais?
“Ao trazer este olhar da periferia, lembramos das cores como um valor. As cores geram uma identificação. E as pessoas buscam identificação na moradia. Pense na casa da sua avó e você vai lembrar de uma jarra colorida, de uma parede marcante ou algum outro elemento de cor. O jovem periférico está tatuado. Ele quer demonstrar sua identidade.
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Buscamos levar essa identidade para a periferia.
Às vezes, podemos comparar a arquitetura do segmento econômico com a arquitetura de um presídio. E isso não deveria ser o padrão no desenvolvimento imobiliário.
Quando você imagina um empreendimento do MCMV, ele não é arborizado, não é colorido, não é belo. O que uma favela no Rio de Janeiro perde para uma ilha na Grécia? Na teoria, são as mesmas densidades, a diferença é estética.
E como a gente pode levar arte e estética para estes lugares? Precisamos de segurança, espaços de convivência e beleza.
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Como isto é feito na prática?
Em um empreendimento, nós construímos um centro comunitário com um pouco de tinta e alguns degraus. Em outro, nós colocamos um cinema no rooftop.
Recentemente, lançamos um empreendimento em que uma parte das casas eram rosas. Imagine quantas mulheres não já sonharam em ter uma casa rosa?
A maioria dos nossos prédios são brancos porque a ideia é gerar essa leveza, essa iluminação enquanto reduzimos a temperatura média dos ambientes.
Já as casas, em sua maioria, são construídas de forma perpendicularmente à rua. As nossas são paralelas. Por isso, nossas casas parecem mais largas do que profundas, o que muda completamente a relação das pessoas. Causa aquela sensação de ‘Nossa, que casa grande!’
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E as piscinas dos nossos imóveis têm toboágua. Imagina como é para as crianças que chegam na escola e falam para o amiguinho que a casa dele tem um toboágua. Onde elas vão querer fazer o trabalho de escola? Como ele vai se sentir? É um custo pequeno de 45 mil reais em milhões em milhões de investimento.
Atualmente, você é o responsável pelo design das unidades e dos projetos residenciais? Como isso vai se manter com o crescimento da empresa?
Sou eu quem está à frente disso. É algo que nunca vai sair das minhas mãos. Desenvolvemos toda a parte de design internamente, às vezes com ajuda de inteligência artificial.
Outras incorporadoras estão nos chamando para desenvolver produtos com esta estética. É a arquitetura como eu imagino que deve ser feita. Infelizmente, as cidades não pensam. Elas colocam muros, higienizam os bairros e expulsam os moradores antigos.
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Hoje, quando vamos contratar, infelizmente, pela forma como as melhores pessoas vêm de boas universidades, elas dificilmente têm essa bagagem de periferia. Mas a arquitetura brasileira é linda. Pense na beleza daquela senhora do interior que resolve pintar o muro de casa porque quer se diferenciar dos vizinhos.
E como você enxerga o mercado imobiliário voltado para este público periférico atualmente?
O mercado imobiliário vive pautado por movimentos macroeconômicos. Nos últimos dois anos, a inflação destruiu muito o capital e neste cataclisma que o mundo enfrentou, nos deparamos com dificuldades. Mas não enxergo isso como uma falha no nosso negócio.
Este é um setor que precisa de motivação e otimismo. Embora nosso cliente tradicional não tenha uma percepção completa do cenário político, ela assiste o noticiário e vê o que está acontecendo.
A boa notícia é que agora vivemos um momento de retomada. A queda nos juros e programas como o Desenrola potencializam o otimismo da população. O que meus clientes precisam é de juros baixos e saber que não vão perder o emprego. Com crédito e otimismo, o nosso mercado se desenvolve.
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Qual é o papel do Minha Casa, Minha Vida neste aspecto?
É o nosso oxigênio. Se ele não existir, a Sindona Incorporadora não existe. É um veículo que usa o dinheiro do trabalho com o benefício do próprio trabalhador.
Durante o Governo Bolsonaro, vimos o programa tombar. A Faixa 1 praticamente inexistiu. Agora estamos em um novo momento, voltando com tudo. Tanto é que um dos nossos próximos lançamentos é um empreendimento com 300 unidades voltado para a Faixa 1 do programa, em Itapevi.
Falando em governo, atualmente você faz parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável do Governo Lula. Qual é exatamente sua atuação e como ela se deu início?
Fui convidado para o ‘Conselhão’ pelo Alexandre Padilha, que é competentíssimo, ao contrário do que as serpentes dizem. Fui chamado para falar do mercado imobiliário sob a perspectiva da juventude, para propor questões que ajudem a humanizar o setor.
Este é um espaço em que podemos debater e propor mudanças positivas, com uma oportunidade de aprendizado incrível. O Lula sempre cobra muito. Pede para pensar fora da caixa, propor coisas que não foram pensadas.
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A verdade é que pobre não tem problema com dinheiro, tem problema com fluxo de caixa. Crédito não é só dinheiro, crédito é tempo. E a gente precisa colocar o dinheiro para trabalhar para melhorar o mundo.
Qual é a estratégia da Sindona Incorporadora daqui para frente? Pensam em ampliar a atuação para outros segmentos?
Não penso. Já tem muita gente desenvolvendo empreendimentos para a classe média e classe média alta. Meu grande objetivo atual é levar o Minha Casa, Minha Vida para bairros com maior IDH, como o Morumbi, por exemplo.
Para isso, contamos com incentivos como a Lei de Interesse Social para construir moradias de baixa renda nessas regiões.
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Queremos, também, democratizar a ideia de segunda residência. Temos em vista o nosso primeiro empreendimento em Itaparica, na Bahia, onde vamos construir casas à beira-mar, via sistema de multipropriedade, para que esta população possa ter acesso a uma casa com pé na areia a preço popular. Chega de ir para a praia e ocupar os terceiros e quartos quarteirões.
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