[OPINIÃO] Belém além da COP30: o desafio de transformar o impulso imobiliário em permanência
Cristiano Gregorius é diretor executivo do ecossistema Sienge
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A COP30 colocou Belém no centro das atenções do Brasil e do mundo. Um evento dessa magnitude movimenta setores inteiros e o imobiliário, em especial, sentiu os reflexos por bastante tempo. Basta olhar para os últimos dados do Índice de Demanda Imobiliária (IDI Brasil): a capital paraense saltou da 35ª para a 12ª posição nacional no padrão médio em apenas um ano, se consolidando como um dos polos mais promissores fora do eixo Sul-Sudeste.
É natural que grandes eventos provoquem ondas de investimento. A Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, por exemplo, transformaram o cenário urbano de diversas cidades, mas também deixaram um rastro de dúvidas sobre a sustentabilidade no longo prazo. Estádios subutilizados e empreendimentos abandonados mostram o que acontece quando o entusiasmo não se converte em planejamento contínuo.
E esse movimento não se limita às agendas esportivas. A Rio+20, conferência global sobre desenvolvimento sustentável realizada em 2012, e as cúpulas dos BRICS, que reuniram chefes de Estado no país em diferentes edições, também provocaram investimentos em infraestrutura, hotelaria e comércio. Foram momentos de forte expectativa econômica que, na prática, mostraram como o impulso de grandes eventos precisa estar conectado a uma estratégia de legado. Caso contrário, não se sustenta.
Em Belém, o movimento é semelhante, mas com particularidades. A cidade vive um momento de virada, impulsionada por obras públicas estruturantes, investimentos privados e presença internacional. Empresas estrangeiras, incluindo construtoras de Portugal, executaram projetos ligados à COP. Esse fluxo atraiu profissionais, famílias e investidores em busca de moradia ou patrimônio, o que aqueceu de forma inédita o mercado local.
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Com isso, surgiram também os alertas. Notícias sobre aluguéis com valores exorbitantes e imóveis sendo negociados por cifras acima da média chamaram atenção da imprensa nacional nos meses que antecederam o início do evento. Essa euforia é compreensível, mas desde o início exigiu cautela. O risco de ver os preços despencarem após o encerramento da COP30 pode (e vai) se concretizar se o mercado se mostrar dependente dela.
Mas a questão que se impõe é: Belém tem fôlego para manter o ritmo depois da COP30? Eu acredito que sim. A força do mercado imobiliário paraense não se explica apenas pela vitrine do evento, apesar de este ser um chamariz importante, mas sim pelo papel da cidade como polo de serviços, saúde e educação para quase toda a região Norte.
Pessoas de Macapá, Santarém e outras cidades vizinhas buscam em Belém oportunidades de estudo, atendimento médico e qualidade de vida. Essa demanda é estrutural e tende a se manter.
Além disso, há um fator importante: a política estadual de investimento em infraestrutura, que antecipou receitas e distribuiu obras pelo estado, fortalecendo a economia local e gerando empregos. Esse movimento tem criado um ciclo virtuoso: mais obras atraem mais empresas, que por sua vez trazem profissionais e ampliam o consumo, o que retroalimenta o setor imobiliário.
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Não se trata, portanto, de um crescimento artificial, mas de um processo que vinha amadurecendo há anos e encontrou na COP30 um catalisador.
Ainda assim, há um cuidado essencial. O desenvolvimento da região Amazônica precisa respeitar seus limites ambientais. O desafio é encontrar equilíbrio entre crescimento urbano e preservação, garantindo que os investimentos ampliem o acesso e a valorização da região sem comprometer seus ecossistemas. Crescer na Amazônia exige sensibilidade e responsabilidade e é isso que pode diferenciar Belém de outras experiências passadas no País.
É nesse contexto que se reforça a importância de formar polos imobiliários para além do eixo Rio–São Paulo. Não podemos depender apenas dos grandes centros tradicionais para impulsionar o setor.
A descentralização do desenvolvimento é vital para um crescimento mais equilibrado e inclusivo. Regiões como o Norte, Nordeste e o Centro-Oeste já demonstram enorme potencial de atração de investimentos, consumo e inovação, basta olhar o salto de Belém e de outras cidades com este perfil, segundo dados do terceiro trimestre de 2025 do IDI Brasil.
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As regiões amazônicas, em particular, têm despertado o interesse crescente de empresas e entidades do setor. A COP30 acelera essa visibilidade, mas o movimento vai além dela. Vale lembrar que, segundo dados de 2022 do IBGE, cerca de 75% das residências de Belém eram irregulares e 57% da população vive em áreas de favela.
O avanço imobiliário é necessário, mas deve ocorrer com responsabilidade, respeitando o meio ambiente e as comunidades locais. O desafio não é ocupar o território, mas tornar o acesso a ele mais sustentável, integrado e valorizado.
Belém tem hoje a chance de se firmar como símbolo dessa nova lógica de desenvolvimento. Uma cidade que cresce com propósito, que atrai investimentos sem abrir mão de sua identidade e de seu papel dentro do ecossistema amazônico. A COP30 tem se mostrado o ponto de partida de uma nova percepção sobre o potencial da região Norte.
O mercado imobiliário de Belém mostra que há vida e muito valor além do eixo Sul-Sudeste. Mas é claro, transformar o impulso em permanência depende de planejamento, cooperação e visão de longo prazo. E, nesse aspecto, acredito que Belém está no caminho certo.
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