[OPINIÃO] Apagão na mão de obra qualificada impulsiona mudança na construção
Alberto Kunath é cofundador e CEO da Kronan
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O apagão na mão de obra qualificada deixou de ser apenas um obstáculo momentâneo e se consolidou como o principal vetor de transformação da construção civil brasileira. A crise, que já atinge proporções estruturais, expôs a dependência de modelos artesanais e impulsionou uma virada tecnológica sem precedentes. Diante da escassez de profissionais especializados, empresas de todo o país passaram a recorrer a métodos industrializados, automação e soluções modulares para manter a produtividade e o ritmo de entrega.
Segundo a FGV, 71% das companhias do setor identificam a falta de trabalhadores experientes como o maior desafio atual. Em muitos canteiros, o déficit chega a 30% do quadro necessário. A ausência de mão de obra experiente eleva custos, atrasa cronogramas e cria um ambiente de insegurança para investidores e incorporadoras. O resultado é um setor que precisa produzir mais, com menos gente e maior precisão, um cenário que favorece a industrialização.
Esse novo paradigma se reflete na maneira como se constrói. O canteiro de obras, antes sinônimo de improviso e variabilidade, começa a se transformar em linha de montagem. A etapa estrutural, tradicionalmente uma das mais críticas, vem sendo levada para fábricas, onde peças e módulos são produzidos sob controle rigoroso e depois montados no local, reduzindo em até cinco vezes o tempo de execução.
Mais do que um avanço técnico, trata-se de uma resposta econômica. Ao transferir parte substancial da construção para ambientes controlados gera-se um aumento muito grande de eficiência, as empresas reduzem riscos, mitigam os impactos da escassez de profissionais e conseguem planejar custos com maior exatidão.
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Essa previsibilidade atrai capital, acelera cronogramas e viabiliza projetos que antes não se sustentavam financeiramente. O modelo também abre espaço para novos perfis de profissionais, com foco em projetistas especializados em BIM, operação de máquinas, programação e gestão de processos industriais, substituindo o improviso pela especialização técnica.
A industrialização progressiva da construção civil não é uma tendência passageira, mas um caminho inevitável. Países que enfrentaram desafios semelhantes há décadas, como Japão e Alemanha, já comprovaram que o ganho de escala e eficiência só é possível quando o canteiro se torna extensão da fábrica. No Brasil, o movimento começa a ganhar maturidade e tende a redefinir o conceito de produtividade no setor.
A falta de gente, portanto, não é apenas uma crise. É o gatilho que acelera uma mudança que transforma tijolos em sistemas, andaimes em módulos e o improviso em engenharia de precisão. A construção civil, que sempre foi vista como uma das indústrias mais resistentes à automação, começa enfim a escrever seu próprio capítulo na era da produtividade.
Por fim, não posso deixar de comentar que acabamos de terminar a COP 30 e o custo de emissão de carbono nas obras ainda não está sendo levado em conta no Brasil, mas isto acontecerá em breve, e com a redução de desperdícios gerada pela industrialização, certamente impulsionará ainda mais esta tendência.
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