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[OPINIÃO] Baixo salário do síndico virou um problema estrutural dos condomínios

Léo Mack é cofundador e Diretor de Operações da uCondo

Por:Leo Mack 22/12/2025 2 minutos de leitura
"Se queremos condomínios melhores, precisamos que a função de síndico deixe de ser vista como 'bico' voluntário"/ Crédito: Cavan/AdobeStock

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O Censo Condominial 2025/26, consolidado com dados do IBGE, da Receita Federal e da uCondo, traz números que deveriam incomodar todos os moradores: a média nacional de remuneração do síndico é de R$ 1.520, ou seja, praticamente um salário mínimo (R$ 1.518), que deve ser reajustado para R$ 1.627 em 2026.

Para quem responde pela administração, pelo caixa, pela segurança e por riscos jurídicos de um prédio, esse valor revela um fosso entre responsabilidade e reconhecimento.

Os números também mostram uma grande desigualdade de remuneração conforme o estado, mas em todos o valor está abaixo das funções assumidas por um síndico. Entre aqueles com maior número de condomínios, a Bahia aparece com a maior média, R$ 2.381; o Rio de Janeiro, R$ 2.115; Santa Catarina, R$ 1.923; Paraná, R$ 1.469; São Paulo, R$ 1.311; Rio Grande do Sul, R$ 1.286; e Minas Gerais, R$ 1.189.

Hoje, o país tem 327.248 condomínios e cerca de 39 milhões de moradores, com mais de 500 mil pessoas trabalhando no ecossistema condominial.

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Se queremos condomínios melhores, com manutenção em dia, regras respeitadas e contas equilibradas, precisamos que a função de síndico deixe de ser vista como “bico” voluntário e avance para um mercado profissional, capaz de entregar uma remuneração compatível com a complexidade do trabalho.

A sobrecarga dos síndicos aparece nas estatísticas de atendimento: em 2025, os 6 mil condomínios que usam a uCondo registraram mais de 308 mil chamados. Os temas do dia a dia não são superficiais: 92.931 foram chamados administrativos, 86.317 foram reclamações e 84.643 foram pedidos de manutenção de áreas comuns — e ainda há questões sensíveis que geram conflitos (animais, barulho, higiene).

Nesse cenário, o síndico é a pessoa que resolve conflitos, administra contratos, negocia fornecedores, interpreta normas e, muitas vezes, assume riscos.

Ao mesmo tempo em que a taxa condominial média subiu de R$ 413 (1º semestre de 2022) para R$ 516 (1º semestre de 2025), o que significa um aumento de R$ 103 (24,9%), a inadimplência superior a 30 dias também cresceu, alcançando 11,95% no 1º semestre de 2025, o maior patamar do período analisado.

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Em termos regionais, a inadimplência preocupa especialmente no Norte (18,44%) e no Nordeste (13,52%), enquanto o Sudeste, que registrou a maior alta acumulada na taxa condominial, tem inadimplência de 11,78%, um pouco abaixo da média nacional. Essa situação cria um paradoxo: custos subindo e caixa encolhendo, com impacto direto na capacidade do síndico de manter serviços e realizar manutenções essenciais.

Um mercado que ofereça e incentive especialização na área dá argumento concreto para a revisão da remuneração. Um síndico certificado com habilidades de planejamento, controle financeiro e conhecimento jurídico entrega um condomínio mais harmônico, com resultados mensuráveis: menos brigas e causas judiciais, menor rotatividade de fornecedores, menos alterações em contratos ou arrecadações “surpresa” e, no médio prazo, a preservação (e até aumento) do valor dos imóveis.

Um síndico é basicamente um gestor de uma empresa, por isso é preciso profissionalizar sua seleção, avaliando formação e experiência, com um salário à altura da responsabilidade. Esse é o preço do investimento na governança de um condomínio. Afinal, o que é barato pode sair bem mais caro no futuro.

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