Agro tem compradores desconfiados e atentos a tendências, diz arquiteta
Rafaela Zanirato entende que mercado imobiliário do Centro-Oeste está mudando, mas ainda é pautado por referências externas
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Rafaela Zanirato desbrava o mercado imobiliário no Centro-Oeste do Brasil há 24 anos e observa uma mudança no comportamento do público local. Especializada em empreendimentos de luxo, a arquiteta afirma que, à medida que o dinheiro muda de mãos, novas tendências começam a se consolidar na região.
Impulsionadas pelo dinheiro do agronegócio, famílias milionárias apresentam demandas imobiliárias inspiradas em projetos que se consolidaram em outras regiões do Brasil e do mundo. “É um local com bastante participação de imigrantes que chegaram pobres e enriqueceram por aqui, mas que não tinham tanta bagagem cultural e referências arquitetônicas”, contextualiza Zanirato.
“Hoje, quem está assumindo estas fazendas são os filhos desta população, que possuem outros ideais e expectativas. O nível cultural, de exigência e sofisticação tem mudado muito”, analisa. Um dos reflexos destas transformações é que a arquiteta se especializou no desenvolvimento de condomínios resorts de luxo.
Tradicionais no interior de São Paulo, por exemplo, os condomínios resorts são empreendimentos residenciais onde os moradores contam com grandes áreas verdes e comodidades como quadras de tênis, restaurantes, spas e até parques aquáticos, entre outras comodidades. Em troca, os compradores chegam a pagar milhões de reais.
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Adaptações regionais
O Mato Grosso é o estado com a maior produção para o agronegócio brasileiro, representando 14,3% do total nacional. Apenas em 2023, a região foi responsável por produzir R$ 116,5 bilhões em bens agrícolas. O Centro-Oeste, aliás, abriga 62 das 100 cidades mais ricas do agro.
A pujança econômica se reflete no crescimento da população e ajuda a transformar a região em um polo de oportunidades. Não à toa, Zanirato diz que se tornou comum ver incorporadoras “aventureiras” chegarem à região, mas carregando vícios de outras localidades.
“Existe uma visão de que é muito fácil ganhar dinheiro de quem enriqueceu com o agro. Pensam que eles não têm com o que gastar”, critica a arquiteta. “Por isso, elas chegam aqui tentando replicar empreendimentos que deram certo em grandes centros, mas acabam gerando insegurança nos compradores e os projetos não dão certo. O mercado daqui é muito desconfiado”, aponta.
Ela comenta que é fácil identificar os investidores que não estão atentos às demandas locais com a chegada de empreendimentos com área de churrasqueira aberta, por exemplo. “Aqui chove muito, então as pessoas querem churrasqueira com ar condicionado dentro de casa e quadras de tênis cobertas. As adegas são muito buscadas, mas os moradores não se importam com mobiliário assinado”, ilustra.
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Menos madeira, mais Jurerê internacional
A estética de luxo dos clientes atendidos por Zanirato é marcado por uma fuga dos símbolos que ligam a “traços de pobreza”.
“Eu sempre usei madeira nos projetos e muitos recusam o uso deste material. Comecei a entender que é porque antes eles eram pobres e moravam em casas de madeira. A riqueza é ter uma casa de mármore, com lustre. Uma referência que sempre apresentam é a clássica mansão de Jurerê internacional”.
À medida que os herdeiros começam a ganhar poder de decisão, porém, a expectativa é que o cenário mude. “A nova geração vem abraçando projetos mais minimalistas, casas mais contemporâneas. Mas ainda é comum clientes com jato particular, que vão passar o aniversário em Balneário Camboriú e voltam com referências de lá”, ilustra a arquiteta.
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