Brasileiros compram imóveis nos EUA para dolarizar investimentos
Em busca de retorno e valorização a longo prazo, investidores apostam em propriedades no país
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Um grupo seleto de brasileiros endinheirados encontrou no mercado imobiliário dos Estados Unidos uma oportunidade de dolarizar seu patrimônio. São investidores que desejam fugir da oscilação do real e driblar a inflação, mas buscam bens que tragam segurança. O movimento de migração dessa fortuna cria uma fonte de renda fixa em moeda estrangeira e impacta o cenário norte-americano.
Em 2008, os EUA estavam enfrentando um colapso econômico impulsionado pelo estouro de uma bolha imobiliária e pela falência de diversas instituições financeiras. O cenário de terra arrasada havia sido desenhado pelo investimento realizado por bancos americanos em hipotecas de alto risco, voltadas para pessoas de baixa renda ou com alto risco de inadimplência.
Nos anos seguintes à crise, os EUA precisaram tomar uma série de medidas para alcançar a plena recuperação. Entre as ações, se destacam a reapropriação de casas de proprietários que não conseguiam pagar a hipoteca e práticas estatais de estímulos fiscais. Foi nesse ambiente de retomada que, em 2010, a brasileira Fátima* (nome fictício) comprou seu primeiro imóvel no país.
“Celebrei muito porque valorizou bastante”, diz ela. E a comemoração não foi sem motivo. De acordo com estudo da RenoFi, os preços da habitação nos EUA aumentaram 48,55% nos últimos 10 anos. Além disso, o valor médio de um dólar americano naquele período era de cerca de R$ 1,666. Atualmente, esse mesmo dólar equivale a mais de R$ 5.
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Desde o primeiro imóvel comprado nos EUA por cerca de US$ 1,5 milhão, Fátima passou a focar ainda mais no mercado de propriedades no país. “São investimentos que faço por conta da situação instável do Brasil”, justifica. Recentemente, a investidora realizou uma outra aquisição. Dessa vez um apartamento de US$ 400 mil ainda na planta, em Miami, que pretende alugar para ter rendimentos fixos em dólar.
Nicho de investidores
O movimento realizado por Fátima encontra respaldo em corretores de imóveis especializados em vender propriedades nos EUA para brasileiros. Entre abril de 2021 e março de 2022, de acordo com levantamento realizado pela National Association of Realtors, os brasileiros compraram US$ 1,6 bilhão em imóveis nos EUA.
O valor representa 3% dos US$ 59 bilhões em propriedades vendidas para estrangeiros no país e coloca o Brasil na quinta posição entre os países com mais clientes no mercado de imóveis local, atrás apenas de China (US$ 6,1 bilhões), Canadá (US$ 5,5 bilhões), Índia (US$ 3,6 bilhões) e México (US$ 2,9 bilhões). “No fundo todo mundo quer ter um imóvel nos Estados Unidos”, diz Mariana Niro Founder Agent da Serhant., tradicional companhia de Real Estate norte-americana.
“Meus clientes já estão acostumados a investir em imóveis, além de também já terem afinidade com o mercado financeiro”, afirma Mariana. “É um asset diferente, com mais estabilidade. Eles compram justamente para diversificar os riscos. Quando o Brasil está em crise ou prestes a entrar em uma, é justamente quando mais gente procura esse tipo de ativo.”
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A corretora observa que em período eleitorais é comum ver um fluxo maior de pessoas que compram imóveis nos EUA com foco em moradia, mas que a maior parte do portfólio de clientes atuais são de investidores. “Tenho uma demanda maior por investimentos do que por casas de veraneio. Os brasileiros estão comprando por causa da segurança do dólar, das altas do aluguel e dos retornos atrativos.”
Mariana conta que a maior transação envolvendo um brasileiro foi de uma casa de US$ 27 milhões em uma ilha norte-americana. No entanto, ela argumenta que com cerca de US$ 400 mil já é possível comprar estúdios luxuosos em Miami. Na faixa entre US$ 800 mil e US$ 1 milhão, ela destaca que é possível adquirir um apartamento de dois quartos em Miami.
Para Mariana, mesmo aluguéis de curto prazo apresentam resultados positivos para compradores, com retorno de até 10% fixo todo mês. Esse potencial, na visão dela, é impulsionado pelo crescimento de hospedagens via plataformas, como o Airbnb. “Além de contar uma renda fixa em dólar que é bastante lucrativa, o valor pode ajudar a pagar o próprio imóvel, além do comprador poder usufruir do espaço quando vier para cá de férias”, explica.
Investimento de segurança
O sonho de ter uma renda dolarizada ajuda a definir o perfil dos investidores brasileiros que atuam no mercado dos EUA. “São pessoas que buscam a proteção patrimonial”, resume André Duek, Broker do mercado imobiliário de luxo nos EUA. “É um investimento mais conservador, que não vai virar pó do dia para a noite – como pode acontecer com ações”, diz o corretor especializado no público brasileiro.
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Segundo Duek, são clientes cada vez mais bem informados e preocupados com o setor. “A maioria deles já têm imóveis no Brasil e um patrimônio qualificado. Não é quem está arriscando tudo para fazer esse movimento”, salienta.
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