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IPCA volta a ter deflação e registra queda de 0,36% em agosto

Queda foi, mais uma vez, puxada pelos combustíveis; taxa acumulada em 12 meses recuou para 8,73% e, no ano, está em 4,39%

Por: Daniela Amorim, O Estado de S.Paulo 12/09/2022 6 minutos de leitura
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O resultado permanece influenciado pelo corte no ICMS de combustíveis, energia elétrica e serviços de telecomunicação / Crédito: Getty Images

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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou deflação pelo segundo mês seguido. Em agosto, a queda nos preços foi 0,36%, depois do recuo de 0,68% em julho, segundo dados divulgados nesta sexta-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, a inflação em 12 meses baixou do patamar de dois dígitos pela primeira vez em quase um ano: caiu dos 10,07% no acumulado até julho para 8,73% agora.

O resultado permanece influenciado pelo corte no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de combustíveis, energia elétrica e serviços de telecomunicação. Também houve impacto em agosto da redução de preços de combustíveis nas refinarias anunciada pela Petrobras.

“Talvez em setembro tenha nova queda, até porque a Petrobras pode cortar mais os preços da gasolina. Se houver, o IPCA pode cair. Se não, pode ficar perto de zero. Por ora, estiamos alta de 0,08%”, previu a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese.

A Greenbay Investimentos espera uma queda de 0,20% no IPCA de setembro, puxada novamente por reduções de preços de combustíveis. Já a LCA Consultores estima uma alta de 0,28%.

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Os efeitos da redução de ICMS sobre a inflação podem ser sentidos até outubro, apontou a economista Tatiana Nogueira, da XP Investimentos, que prevê, por ora, uma deflação de 0,14% no IPCA de setembro.

“Em energia elétrica, as concessionárias devem sofrer uma pressão maior para a retirada da tarifa de distribuição da base de cobrança do imposto. Já em telecomunicações, as operadoras haviam alegado problemas operacionais para diminuir os preços de imediato e devem fazer o repasse retroativo nos próximos meses”, afirmou Nogueira.

Outro fator que pode contribuir para conter a inflação é o crédito mais caro no País. “Até o momento, os itens que mais subiram são também os mais voláteis, ligados à renda de curto prazo. Mas, quando olhamos para os itens mais sensíveis a crédito, os preços já ficaram mais perto da estabilidade, o que reflete o (menor) consumo ante o crédito mais caro”, completou Nogueira.

Gasolina 11,64% mais barata

Em agosto, houve novas quedas nos preços da gasolina (-11,64%), etanol (-8,67%) e energia elétrica (-1,27%). Juntos os três itens ajudaram a conter a inflação em 0,79 ponto porcentual (-0,67 ponto porcentual da gasolina; -0,04 ponto porcentual da energia elétrica; e -0,07 ponto porcentual do etanol).

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Nos últimos três meses, os preços dos combustíveis já recuaram 24,36%. A gasolina ficou 25,86% mais barata, o etanol caiu 24,25%, e gás veicular reduziu 7,39%. Já o óleo diesel ficou 4,50% mais caro no período.

No grupo Comunicação, houve recuo de 1,10% em agosto, devido à redução nos planos de telefonia fixa (-6,71%) e de telefonia móvel (-2,67%). A telefonia móvel contribuiu ainda com -0,04 ponto porcentual para a deflação do mês.

“É muito provável que tenha sido de fato repasse do (corte do) ICMS”, disse Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.

No caso da conta de luz, Kislanov informou que o cálculo do IPCA já incorporou decretos estaduais retirando a cobrança do ICMS sobre serviços de transmissão e distribuição de energia elétrica em Minas Gerais, Espírito Santo e Pernambuco. O instituto também considera no cálculo as informações de concessionárias que informaram terem decidido voluntariamente não cobrar mais o ICMS sobre a transmissão. “De fato, outros estados ainda pode ser que publiquem outros decretos ou normas”, lembrou.

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A gasolina é o item de maior peso no cálculo do IPCA, 5,74%, seguido pela energia elétrica, 3,9%. Além de possíveis movimentações decorrentes do ICMS e reajustes na conta de luz, Kislanov lembra que o IPCA de setembro deve incorporar ainda a redução de 7,08% no preço da gasolina nas refinarias conduzida pela Petrobras em 2 de setembro.

Sete dos nove grupos do IPCA tiveram inflação

Apesar da trégua via itens monitorados pelo governo, sete dos nove grupos de custos investigados ainda mostraram aumentos de preços no IPCA de agosto e 65% dos itens pesquisados ficaram mais caros. Os vilões no último mês foram os aumentos nos itens de higiene pessoal, plano de saúde, emplacamento e licença de veículo, refeição fora de casa e roupa feminina.

Para Helena Veronese, da B.Side Investimentos, a composição da deflação de agosto “não é boa”, com preços industriais ainda elevados e alimentos dando uma trégua que pode ser apenas sazonal.

“Todo o resto continua alto”, avaliou Veronese, para quem o quadro inflacionário reforça a sinalização do Banco Central nesta semana feita pelo presidente Roberto Campos Neto e corroborada pelo diretor Bruno Serra. “A mensagem é de a inflação preocupa e que as expectativas não estão ancoradas”, opinou.

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O grupo Alimentação e bebidas teve uma elevação de 0,24% em agosto. Houve altas em itens importantes na cesta das famílias, como o frango em pedaços (2,87%), queijo (2,58%) e frutas (1,35%), mas quedas expressivas nos preços do tomate (-11,25%), batata-inglesa (-10,07%) e óleo de soja (-5,56%). O preço do leite longa vida caiu apenas 1,78% em agosto, depois de uma alta ter subido 25,46% em julho. O leite longa vida ainda acumula uma alta de 74,68% apenas neste ano.

“Os preços continuam em patamar elevado”, apontou Pedro Kislanov, do IBGE.

Inflação de serviços

A inflação de serviços – usada como termômetro de pressões de demanda sobre os preços – passou de uma elevação de 0,8% em julho para uma alta de 0,28% em agosto. A desaceleração nos serviços foi explicada pela queda nas passagens aéreas e em telefonia, além de alta mais branda em aluguel residencial e serviços ligados ao turismo. As passagens aéreas caíram 12,07% em agosto, após acumularem uma alta de 55,78% nos quatro meses anteriores.

“Os dados mais recentes macroeconômicos sinalizam para uma retomada econômica, que contribui para um aumento da demanda que se manifesta no IPCA, principalmente, no setor de serviços”, disse Kislanov, lembrando que a inflação de serviços acumulada em 12 meses “desacelerou em agosto, mas continua em nível bem mais alto que em meses anteriores”.

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A melhora da crise sanitária e de restrições de circulação de pessoas e funcionamento de estabelecimentos tem estimulado uma pressão de demanda sobre a inflação.

“Com essas flexibilizações e as pessoas saindo mais, consumindo mais serviços, isso sem dúvida contribui para você ter uma demanda maior sobre os produtos e serviços na economia. As quedas são nos chamados preços monitorados, e não no que a gente chama nos preços livres, embora a gente tenha tido queda também em vários preços livres”, explicou Kislanov.

Os preços de itens monitorados pelo governo saíram de um recuo de 4,35% em julho para uma redução de 2,55% em agosto.

No acumulado em 12 meses, a inflação de serviços passou de 8,87% em julho para 8,76% em agosto. Já a inflação de monitorados em 12 meses saiu de 5,11% em julho para 1,47% em agosto.

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“Ainda há resiliência na prestação de serviços, que realmente demora um pouco mais, ainda no aguardo da movimentação do mercado de trabalho, mas deve acontecer. O trabalho do Banco Central está feito, resta aguardar”, afirmou o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flavio Serrano. /Colaboraram Isabela Bolzani, Italo Bertão Filho e Maria Regina Silva.

Esta reportagem foi publicada antes em:
https://www.estadao.com.br/economia/deflacao-agosto-npre/

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