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Selic alta impulsiona mercado de consórcios; Vale a pena aderir?

Taxa de juros impulsiona segmento, mas analistas apontam riscos

Por:Breno Damascena 11/04/2025 5 minutos de leitura
Em crescimento no Brasil, consórcios com fins imobiliários atrai investidores e suscita debates sobre rentabilidade/ Crédito: Seventyfour/AdobeStock

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Em tendência de alta, a Selic fechou o mês de março em 14,25% ao ano. De olho neste cenário de choro para o financiamento imobiliário, as empresas de consórcios aprenderam a vender lenços. Com marketing direcionado e sem cobrar taxas de juros, o setor observa um crescimento no número de contemplações, cotas e crédito comercializados.

Dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC) indicam que, comparando os dois primeiros meses do ano, o total de cotas comercializadas para imóveis saltou 47,3% de 2024 para 2025. O número de participantes ativos também saltou 23,2%.

Atualmente, cerca de 2,2 milhões das mais de 11,4 milhões de participantes ativos são do segmento imobiliário.

Categoria de imóveis fica atrás apenas de quem busca consórcios de veículos leves (4,9 mi) e motocicletas (3 mi)/ Crédito: Pawel/AdobeStock

Amadeu Mendonça, advogado especializado no setor, sugere que, por trás destes números, está o movimento da taxa Selic. “O mercado imobiliário sofre com os juros elevados. Os financiamentos convencionais já estão cobrando taxas superiores a 14% ao ano, dificultando o acesso ao crédito”, argumenta.

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Para ele, o cenário se agrava com a fuga da poupança (SBPE), principal fonte de recursos para os financiamentos. “O cenário implica na exigência de entradas elevadas, além da demora na liberação dos recursos pelos bancos, o que gera incertezas para os compradores”, afirma Mendonça. A escolha pelos consórcios, neste ambiente, se justifica pela ausência da incorporação de juros nas parcelas.

+ Participou de um consórcio? Saiba como declarar este imóvel no Imposto de Renda

Diferente do financiamento, o consórcio não incorpora juros nas parcelas. Ao invés disso, exige uma taxa de administração que pode variar de 15% e 23% do valor total do crédito, diluída ao longo de todos os anos de pagamento. “Os consórcios não dependem do apetite dos bancos”, adiciona Felipe Chad, sócio da assessoria de investimentos 3P Capital. 

Crescimento do mercado

Com foco no interior de São Paulo, o 3P Capital recomenda, entre outras alternativas, as carteiras de consórcios de imóveis aos seus clientes como uma possibilidade de diversificação do patrimônio. “Além de taxas menores, os consórcios possuem um sistema transparente de gestão e podem ser uma estratégia de sucessão“, alega Chad.

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A empresa notou um aumento de 30% na busca pela modalidade nos últimos seis meses. “O consórcio caminha na contramão dos juros”, indica o executivo. Porém, ele pontua, a modalidade ainda enfrenta resistência de investidores qualificados. “O investidor acostumado com a bolsa ainda evita este tipo de negócio, mas vejo esse cenário mudar aos poucos”. 

Na esteira desta tendência, a Ademicon vem batendo recordes seguidos em 2025. Em março deste ano, a administradora de consórcios registrou um crescimento de 74% em comparação ao mesmo período do ano passado, alcançando R$ 3,6 bilhões em créditos comercializados. Nos primeiros três meses do ano, o volume de vendas já ultrapassou R$ 9,4 bilhões.

+ Financiamentos mais caros? Saiba como Selic alta influencia mercado imobiliário

“As instituições tradicionais estão mais restritivas e cobrando entradas maiores”, observa Tatiana Schuchovsky Reichmann, CEO da Ademicon. Não à toa, a companhia tem o propósito de chegar aos R$ 33,5 bilhões em créditos até o final deste ano. E este objetivo passa pelo investimento de mais de R$ 100 milhões em marketing só em 2025. 

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Com direito a publicidade em jogos de futebol, tênis e até no BBB, a companhia se propõe a democratizar o crédito no País. “Não é apenas a alta dos juros que impulsiona os consórcios. A ideia é que o público veja a modalidade como uma previdência privada, não como um financiamento imobiliário”, ilustra Reichmann. 

Riscos e oportunidades

Por trás do verniz de rentabilidade, o consórcio de imóveis ainda gera debates sobre oportunidades e perigos. Por um lado, é um crédito atrativo e mais flexível que financiamentos tradicionais. “A carta de crédito pode ser utilizada na compra de imóveis novos ou usados, aquisição de terrenos, construção e reforma, proporcionando liberdade”, enumera Mendonça. 

O especialista também aponta o potencial para alavancagem patrimonial dos consórcios. “O consorciado paga apenas uma fração do valor do imóvel inicialmente, o que permite construir patrimônio de forma gradual e aproveitar a eventual valorização do bem ao longo do tempo, além da possibilidade de revenda da carta de crédito no mercado secundário”, acrescenta. 

Por outro lado, os consórcios podem ser imprevisíveis. O consorciado pode ter que esperar muitos anos para ser contemplado com a carta de crédito ou, se quiser adiantar o recebimento do montante, precisará gastar com uma “entrada”. Para o empresário e investidor Raul Sena, o tempo de espera pela contemplação e as taxas de administração representam riscos. 

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Especialistas recomendam cautela e estudo para escolher grupo de consórcio ideal para suas necessidades / Legenda: taka/AdobeStock

“Além das taxas, as parcelas são reajustadas pela inflação e o principal índice utilizado nos consórcios imobiliários é o INCC. No fim das contas, você nunca sabe quanto realmente vai pagar e, considerando que o Brasil tem histórico de inflação alta, o valor da sua parcela pode simplesmente explodir depois de alguns anos”, enumera Sena.

O empresário também aponta para o risco do dinheiro ficar “congelado” durante um tempo, enquanto ele poderia estar em outros investimentos tradicionais. “Considerando as altas taxas de administração, os custos com fundo de reserva, o tempo de espera para ser contemplado e os indexadores de inflação, o cliente nunca sabe quanto realmente vai arrecadar”, critica Sena. 

Amadeu Mendonça reforça que o consórcio é um compromisso de longo prazo e manter as parcelas em dia ao longo de tantos anos exige disciplina, além de inteligência para escolher um grupo confiável. “Há o risco decorrente da inadimplência de outros participantes, que pode afetar o funcionamento e os prazos do grupo. A modalidade exige planejamento e comprometimento”, recomenda.

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