Decoração, reforma e construção

“Sempre acho que dá para fazer mais”, diz Ana Oliva Bologna

Ocupando posição de liderança em indústria da construção civil, ela defende maior participação feminina no setor

Por:Breno Damascena 08/03/2024 6 minutos de leitura
Ana está à frente de empresa com quase 2.500 funcionários e faturamento de cerca de R$ 1 bilhão/Crédito: Gabriel Bertoncel/ Divulgação

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Quando se pensa em construção civil, imagina-se homens operando máquinas pesadas e ocupando espaços nas indústrias. De acordo com o IBGE, são 7 milhões de pessoas do sexo masculino nestas funções e apenas 306 mil mulheres. Diante de números contrários e estereótipos repetidos, Ana Oliva Bologna é uma exceção. Mas ela está atuando para não ser mais. 

Ana é presidente do Conselho da Astra e diretora da Japi, empresas que criam e vendem produtos para a construção civil. Comercializando artigos que vão de assentos sanitários e tubos de PVC a banheiras spas e móveis assinados, a companhia conta com quase 8 mil itens no portfólio. O grupo, que em 2023 anunciou um faturamento próximo de R$ 1 bilhão, conta com quase 2.500 funcionários. 

Por trás desta estrutura, a executiva conta que sempre foi preparada pelo avô, fundador do negócio há 67 anos, para assumir a responsabilidade e diz que a educação que recebeu na infância a empoderou para ser uma mulher em cargo de liderança. Ainda assim, ela afirma que se deparou com ambientes pouco amistosos durante sua carreira e hoje tenta transformar a indústria da construção civil, incluindo mais mulheres no setor.

Enquanto participa desta jornada, Ana equilibra pratos. Capa da Forbes dedicada a mulheres de sucesso, ela se orgulha de já ter sido a melhor brasileira em uma prova amadora de Ironman há quase uma década e de ter completado várias outras. Hoje, acorda todos os dias às 4h para ter tempo de se exercitar antes de levar os dois filhos para a escola. Triatleta, mãe e executiva, ela defende que sempre dá para fazer mais e melhor.

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O setor de construção civil é rotulado por ser um grande produtor de resíduos e poluidor ambiental. Como o setor vem se adaptando às demandas ESG?

“Meu avô já era ESG muito antes da sigla existir. Ele era o capitalista mais socialista da face da terra e tinha uma preocupação com o mundo, em fazer a diferença.

É por isso que nossas obras têm o canteiro limpo. Quanto mais limpo é o canteiro, menos resíduos você gera. E temos uma preocupação com resíduos, com o descarte correto. Eu sempre bato na tecla de que o problema não é o material em si, é a forma de descarte deste material.

O plástico se tornou um vilão. Na Europa, estes produtos são até mais taxados, mas nós temos uma política de ESG muito consolidada. Tanto é que 30% das nossas vendas são feitas para o público estrangeiro. Chegamos a abrir uma base na República Dominicana para atender os EUA e a Europa. Neste cenário, trazemos móveis construídos com resina. São extremamente duráveis e é um processo com pouco descarte.

Além disso, temos uma linha relevante de produtos feitos com um plástico que foi produzido com cana de açúcar. Também criamos itens com material reciclado e parte da venda deles é destinada para a instituição social Amigos do Bem. Incentivamos a economia circular e pela primeira vez estamos fazendo um inventário de emissão de gases de efeito estufa.” 

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A indústria da construção é muito masculina. Você se posiciona como uma pessoa que caminha contra essa conjuntura. Como isto é feito na prática? 

“Assinei o pacto global da ONU e temos metas reais desenhadas para diminuir o déficit de mulheres no setor. Metas realistas. Antes, nosso quadro de funcionários era composto por 24% de mulheres e atualmente temos 33%. O objetivo é chegar a 40%, incluindo os cargos de liderança. 

Desenvolvemos uma estrutura que permite que todas as mulheres representem seu papel em completude. Por conta da minha criação, acredito no potencial das pessoas independentemente do gênero. Não me interessa o endereço sexual delas. Não estou abrindo vagas apenas para mulheres e não acredito que a solução seja uma política de cotas. Elas têm a capacidade de conseguir qualquer vaga. 

Mas entendo que para criar uma criança, você precisa de uma aldeia. Para a mãe trabalhar, ela precisa estar tranquila. Por isso, oferecemos licença-maternidade e paternidade estendida aos colaboradores.

Também temos uma plataforma em que elas têm acesso a uma estrutura psicológica para lidar com este período. E quando ela volta ao trabalho, precisa amamentar. Disponibilizamos uma sala de lactação e um espaço para armazenar o leite com segurança. 

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Orgulho-me ao dizer que uma das nossas fábricas hoje é composta por 80% de mulheres. Quando se oferece esse apoio, você dá a oportunidade para elas exerçam seu trabalho. Não sou feminista, sou justa e acredito na diversidade como forma de inovação.

Você falou sobre sua criação. Como foi assumir um cargo tão importante em um negócio com 67 anos de idade na indústria da construção civil? 

“Meu avô me colocou à frente de uma loja para entender que as coisas não eram fáceis. Precisei entender como funcionava controle de caixa, estoque etc. Depois disso, eu quis andar com minhas próprias pernas e entender que eu conseguiria ir longe sem o negócio da família. 

Entrei no mercado financeiro para vivenciar essa rotina. Para respeitar horários, ter um chefe… obviamente já passei por momentos em que fui bastante testada. Momentos em que eu não poderia chorar porque era a única mulher da mesa. 

No momento da sucessão da empresa, muitas pessoas achavam que eu não daria conta, mas nunca me deixei abalar por isso. Hoje sou respeitada e esses questionamentos não existem mais.”

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Como é liderar o processo de transformação e adaptação de uma empresa tão longeva e que passou por tantos momentos complexos, como a pandemia? 

”Na pandemia, achei que íamos quebrar, mas ela acelerou a nossa digitalização. As pessoas ficaram mais em casa e vivemos um período de boom imobiliário e mobiliário. Aumentamos muito a venda online e tivemos que desenvolver um processo que antigamente não tínhamos. 

E os compradores mais jovens impulsionam esta tendência. Tanto é que nosso e-commerce está crescendo. Estes consumidores, porém, são extremamente imediatistas. Eles querem que a gente entregue no mesmo dia. ‘Como eu vou fazer isso?’, me pergunto.

Por outro lado, atuamos em um segmento onde o design é muito importante. E ver o produto pessoalmente faz a diferença.

Hoje, entendemos que quando o mercado de construção cresce, a gente cresce também. Observamos tendências mundiais e só neste ano investimento mais de R$ 50 milhões no crescimento do negócio, com marketing e contratação de influenciadores, por exemplo. Coisas que não fazíamos antes.”

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Você equilibra esta sua jornada de executiva com uma vida como mãe e atleta. Como conciliar essa rotina? 

“Faço esporte todos os dias. Já participei de várias edições do Ironman e fui recordista brasileira, mas hoje acordo às 4h15 da manhã para treinar antes de levar meus dois filhos para a escola. 

Essa rotina me ensinou que preciso de muito foco, determinação, resiliência e velocidade para tomadas de decisão. Sempre acho que dá para fazer mais e melhor”.

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