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Mulheres se unem em busca de mais diversidade no mercado imobiliário

“Se você não incluí-las como participantes do setor, está deixando de ter lucro”, afirma Elisa Rosenthal

Por:Breno Damascena . 08/03/2023 - 4 minutos de leitura

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Dos canteiros de obras aos escritórios de engenharia, o setor imobiliário pode ser hostil para as mulheres. Elisa Rosenthal viveu as tribulações deste mercado por 16 anos e, depois do segundo filho, quando resolveu empreender, se deparou com ainda mais dificuldades no setor. Para tentar mudar o cenário, iniciou um movimento de revolução. 

O caminho, porém, é longo e cheio de embates. 61% das profissionais que atuam no  ramo imobiliário relatam já ter sofrido algum tipo de assédio, de acordo com a pesquisa “O Lado Feminino do Mercado Imobiliário”. Apenas 13% delas denunciaram o assédio para a empresa e/ou órgãos fora da companhia.

“Mulheres eram fadadas a cuidar do lar e da casa, não a ter posse. A história social vem evoluindo para que elas, agora, possam adquirir patrimônios”, justifica a idealizadora, co-fundadora e diretora presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário. O grupo surgiu com o objetivo de reunir outras mulheres que trabalhavam na área. Começou no Telegram, mas não demorou para aumentar o alcance e expandir a outros meios.

Atualmente, a organização conta com cerca de 1.500 mulheres, entre arquitetas, engenheiras, corretoras de imóveis, advogadas e empreendedoras. Elas realizam painéis, discutem o futuro do mercado e protagonizam debates sobre como transformar o setor para torná-lo mais amistoso para as profissionais. Daí surgiram cursos de capacitação para grupos minorizados e parcerias com empresas e governos.

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“Formamos mulheres que depois conseguiram abrir suas próprias imobiliárias, mas também ajudamos aquelas que nem tinham internet em casa para fazer o curso”, argumenta Rosenthal sobre a importância do projeto. Autora do livro Proprietárias: a ascensão da liderança feminina no setor imobiliário, ela ressalta que a participação feminina já é destaque na busca pela propriedade.

Tomada de decisão

Um estudo realizado em 2020 (antes da pandemia) pela behup, a pedido do Instituto Mulheres do Imobiliário, mostrou que mais mulheres (21,1%) do que homens (12,4%) tomam a decisão de qual imóvel adquirir sem influência do cônjuge. E mais do que o dobro de mulheres (15%) que homens (6,8%) relataram que seus companheiros não ajudaram em nada no processo de escolha do imóvel.

“As mulheres são as grandes tomadoras de decisão no mercado de imóveis. Se você não incluí-las como participantes ativas do setor, está deixando de ter lucro. É uma iniciativa social, mas também estratégica e financeira”, acredita Rosenthal. “O problema é que o mercado ainda está organizado e orientado por cabeças masculinas brancas e preso em um modelo tradicional de visão de negócio”, pontua.

Na perspectiva da profissional, a maior barreira de entrada para as mulheres são as lideranças atuais do mercado, incluindo sindicatos, conselhos e associações. “O ambiente ainda é lastreado por empresas tradicionais e empreendimentos familiares, que não olham para esse tema com a atenção devida”, lamenta. “Mas as novas gerações já estão trazendo a pauta de inclusão para o foco”, contrapõe.

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Elisa Rosenthal defende que diversidade e equidade precisam ser discutidas nos conselhos e reuniões de estratégia das empresas/ Crédito: Luciana Serra

Ainda segundo ela, esse cenário ajuda a corroborar a inferioridade do Brasil para os mercados internacionais. “Nosso setor se inspira no americano, mas lá há uma cultura de governança muito mais avançada que suporta um ambiente mais inclusivo”, acredita. “Os últimos layoffs vistos em empresas de tecnologia são um reflexo disso.”

Futuro otimista

A empreendedora, no entanto, demonstra otimismo em relação ao futuro e enxerga a tecnologia como um grande impulsionador da transformação. À medida que mais mulheres assumem posições importantes em negócios inovadores e participam de debates, mais a sociedade consegue diminuir o viés cognitivo que as tecnologias apontam, como preconceitos e discriminações.

“Enquanto isso, os homens líderes no setor estão aprendendo que esse negócio de dar só flores no Dia das Mulheres ficou para trás.” Além de porta-voz do movimento, ela é arquiteta de formação e apresentadora do podcast Vieses Femininos. Em conversa com o Estadão Imóveis, Elisa Rosenthal deu algumas dicas para as mulheres e para os homens que desejam tornar o setor mais igualitário: 

1. Grupos de apoio fazem a diferença. Tente entrar em algum. O movimento feminino tem uma participação fundamental na revolução do mercado. Qualquer pessoa que se identifique como mulher pode fazer parte dos grupos do Instituto Mulheres do Imobiliário, por exemplo. 

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2. Entenda que o aprendizado é contínuo e para sempre. É necessário se manter sempre estudando. E não tenha medo de lacunas! Às vezes, você fica na dúvida se aplica para uma vaga, mas não aplica porque falta um requisito. Saiba que ninguém nunca está pronto e prepare-se para se manter em constante transformação.

3. A principal dica não é para as mulheres e sim para os homens: não se trata de excluir os homens, mas de incluir as mulheres. Não é uma atitude de um dia ou de um mês ou de um indivíduo, e sim de toda a sociedade.

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