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Condomínios de alto padrão e resorts de luxo movimentam São Miguel dos Milagres
Investidores e incorporadoras acompanham movimento de Maceió e investem no litoral de Alagoas
Por: Breno Damascena . 06/11/2024 - 6 minutos de leitura
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Em meados de 2018, a cantora Luisa Sonza e o humorista Whindersson Nunes ocuparam páginas de revistas e sites de fofoca com as fotos de um dos casamentos mais esperados do ano. Em meio a joias luxuosas, um vestido de noiva com mais de 45 quilos e show do DJ Alok, o que mais chamou atenção foi o cenário: uma pequena capela em uma vila de pescadores a cerca de 100 quilômetros de Maceió, capital de Alagoas.
A cerimônia, que atraiu uma multidão de celebridades, ajudou a consolidar São Miguel dos Milagres como um destino turístico de luxo no litoral do Nordeste. Mas aquele movimento havia começado alguns anos antes. Uma das pedras fundamentais foi a mobilização de um grupo de amigos que, deslumbrados com a beleza da região, criaram o Réveillon dos Milagres.
“Eu morei em São Paulo, Minas Gerais e fora do Brasil, e nunca vi nada tão bonito quanto aqui. Quando voltei para Alagoas, resolvi montar este projeto, para atrair turistas de fora do estado. No boca a boca a festa foi crescendo e a gente melhorou a estrutura”, relata Maurício Vasconcelos, fundador e CEO do Grupo Tamo Junto, empresa que organiza o réveillon e os casamentos em São Miguel dos Milagres.
A festa, que começou simples em 2011, hoje é um evento multimilionário que ajuda a lotar a rede hoteleira e as casas de temporada. “Na quarta edição, nós servimos 1.500 combos em 26 minutos”, ilustra Vasconcelos.
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Para a edição de 2024, Pedro Sampaio, Banda Eva e Monobloco são algumas das atrações confirmadas. O preço dos ingressos, que varia de R$ 300 a R$ 4.400, ajudam a dar o tom do público que chega à região.
Areia, tijolo e água salgada
A Rota Ecológica dos Milagres é o termo utilizado para descrever o trecho de cerca de 23 quilômetros de litoral que engloba os municípios Passo de Camaragibe, São Miguel dos Milagres e Porto de Pedras.
Além das festas de réveillon e casamentos, o local é conhecido pelas águas cristalinas, mar calmo com piscinas naturais e trilhas ecológicas. No entanto, o maior chamariz é que isso tudo vem acompanhado da exclusividade.
A atriz Glória Pires tem uma mansão à beira-mar na Rota dos Milagres, a estilista Martha Medeiros também. Luciano Huck, Angélica, Maísa e Jair Bolsonaro já passaram as férias. Assim como Trancoso (BA) e Pipa (RN), São Miguel dos Milagres entrou na rota de destinos turísticos instagramáveis do Nordeste brasileiro.
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Para atender esse fluxo de turistas, dezenas de hotéis e pousadas começaram a se instalar por ali. Restaurantes com chefs renomados e resorts com diárias que ultrapassam os R$ 3 mil se tornaram comuns.
No último ano, a empresária Maria Gil Galvão investiu R$ 30 milhões para erguer o Mahré, um hotel de luxo com mais de 40 mil m² a beira-mar que é reconhecido como um dos melhores do Brasil.
Não demorou para que essa afluência de pessoas começasse a provocar uma transformação em São Miguel dos Milagres.
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Hoje, o barulho do mar e o canto dos pássaros se confundem com o som de martelos e máquinas trabalhando. Entre as casas humildes, pequenas e com reboco à mostra, surgem pequenos palácios, resorts de alto padrão e condomínios fechados.
Mercado imobiliário em Milagres
Em construção a uma quadra da praia, o Curimã é fruto dessas transformações. Com o rótulo de pousada-boutique, o empreendimento desenvolvido pela Inove Engenharia será composto por 38 unidades de 55 m². Com previsão de entrega para o final de novembro, os apartamentos localizados em um condomínio fechado numa rua de terra estão à venda por cerca de R$ 450 mil.
Outro fruto deste mercado é a Taipa Inc., construtora com atuação apenas no mercado imobiliário de Milagres. Também fundada por Maurício Vasconcelos, ao lado de do sócio, Mário Dias, a empresa entregou seu primeiro empreendimento este ano, o Serena Eco Luxury Villas, um condomínio residencial com imóveis de 290 m² a 470 m².
“Aproveitamos a credibilidade construída com os casamentos e com o réveillon para atrair compradores. O objetivo é trazer pessoas em busca de liberdade, conforto e privacidade”, justifica Dias.
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Vasconcelos afirma que todas as unidades já foram entregues e a maioria dos compradores é de fora do estado. “São 18 famílias. Um dos imóveis é meu, mas tem gente de Uberlândia, dos Estados Unidos e de Portugal”, enumera.
Com direito a arquitetura e paisagismo assinado, mobiliário da Ornare e guarita com segurança, o Serena Eco Luxury Villas teve suas unidades vendidas por valores de R$ 3 milhões a R$ 6 milhões.
Apesar do preço, o executivo garante que a região não está se tornando elitista com a multiplicação dos condomínios de alto padrão. “Os novos compradores vêm para cá para se integrar à comunidade”.
Um novo horizonte
Na esteira do bom momento do mercado imobiliário de Maceió, a cidade mais valorizada do Nordeste, São Miguel dos Milagres parece seguir a mesma estrada que outras cidades no litoral nordestino que foram “descobertas” pelo turismo.
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De um lado, a chegada de investidores endinheirados e empreendimentos de luxo gera oportunidades de emprego, aumentam a renda e valorizam os imóveis. De outro, alguns moradores relatam o encarecimento do custo de vida, a diminuição de moradias acessíveis e apontam para um processo de gentrificação, semelhante ao que acontece nas grandes metrópoles.
Questionado sobre o tema, Vasconcelos afirma que um dos papéis dos incorporadores que estão desenvolvendo empreendimentos de luxo na Rota Ecológica dos Milagres é criar ações para incentivar a permanência da população local na região.
“Nós desenvolvemos iniciativas para capacitar os moradores a atenderem este fluxo de turistas e aumentar a renda. Também orientamos essas pessoas a não venderem seus imóveis agora, porque sabemos que vai valorizar”, afirma.
“Quem está vindo morar aqui precisa entender que para entrar no condomínio de luxo, é necessário passar por uma rua simples onde famílias estão sentadas na porta de casa conversando”, aponta. “Essa simplicidade faz parte do que atrai os novos moradores e não queremos mudar isso. Torcemos para que a integração permaneça, sem que um se sobressaia ao outro”.
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*O repórter viajou para Maceió à convite da Ornare