OPINIÃO: A última chamada para comprar imóvel bom no Centro de SP a preço de banana
Tamara Stief é sócia fundadora da imobiliária TA_MA_RA_S

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“Se fosse em Milão, aqui seria uma loja da Prada”, observou um amigo italiano sobre uma borracharia no térreo de um lindo predinho histórico no Centro de São Paulo.
Isso foi em 2010, quando São Paulo viveu um boom de imigrantes europeus no rescaldo da crise financeira global de 2008, enquanto o Brasil atravessava um bom momento econômico. Um movimento que, infelizmente, começou a se esvaziar a partir da Copa de 2014, quando ficou claro que se tratava de um voo de galinha.
Mais do que o impacto econômico ou cultural, o que realmente me chamou atenção foi a escolha residencial desses jovens. Muitos deles optaram por morar no Centro de São Paulo — em oposição a bairros considerados mais seguros, como Itaim ou Jardins, que eram as escolhas mais comuns entre os imigrantes brasileiros.
Essa preferência dos europeus me fez refletir: por que abandonamos o Centro? Uma região rica em equipamentos públicos como universidades, espaços culturais e uma malha de infraestrutura urbana invejável, como a do Metrô. Isso não é natural. Basta olhar para cidades europeias e americanas, onde o centro comercial e simbólico se manteve praticamente no lugar ao longo das décadas.
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O centro financeiro de Nova York segue sendo Wall Street. Já São Paulo viu seu polo econômico migrar da Rua XV de Novembro para a Avenida Paulista e, posteriormente, para a Faria Lima. Nada contra a Faria Lima — pelo contrário —, mas por que o completo abandono de uma região construída pelas elites de um passado não tão distante para celebrar sua prosperidade?
Tantos e tantos metros quadrados de prédios ricamente construídos, com acabamentos nobres, o auge da nossa arquitetura — numa região com tanto investimento em infraestrutura e história — simplesmente se deteriorando?
Cheguei à conclusão de que foi um erro histórico. E que não há bom motivo para isso. Como um pêndulo, a tendência agora parece ser de reversão desse abandono. Não por iniciativa do poder público, mas pela força da grana — que começou a perceber que investir no Centro é um bom negócio.
Assim, o que durante as décadas de 80, 90 e 2000 era visto como velho e ultrapassado, gradualmente foi se tornando vintage e cool. Como as poltronas do Sérgio Rodrigues, os prédios antigos estão vivendo uma “renaissance” cultural. Eles oferecem algo que não se encontra nos empreendimentos novos: valor arquitetônico, histórico e alma.
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É a retomada do orgulho da brasilidade, da estética do modernismo tropical, das nossas materialidades tipicamente brasileiras — cobogós, granilite, cerâmicas, floreiras nas janelas. Nossa identidade.
Os millenials parecem ser a primeira geração a questionar o status quo. Não estão satisfeitos com o que os empreendimentos novos nos bairros centrais oferecem, e começaram a desafiar a narrativa de que não dá pra morar no Centro.
A efervescência cultural do Centro exerce uma atração magnética sobre os jovens, que buscam viver esse lifestyle e valorizam a arquitetura histórica. E quanto mais jovens, mais o fenômeno se fortalece.
É aí que entra o retrofit — o conceito de requalificar prédios antigos, preservando o máximo possível de sua originalidade, enquanto se atualizam instalações elétricas, hidráulicas, tecnologias e layout para atender às demandas atuais.
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Conversando com um empresário do ramo de retrofits, ele me contou que adquiriu, há alguns anos, um prédio de 10 andares no Centro, com lajes de 300 m² cada, por R$ 3 milhões — o equivalente a apenas R$ 1.000 o m².
Onde mais em São Paulo se encontra algo assim? Acredito que nem no próprio Centro seja mais possível, o que mostra que a curva de preços da região passou pelo pior momento e entrou em ascendência.
Desde que o poder público cumpra minimamente seu papel — garantindo segurança e zeladoria urbana —, cafezinhos, restaurantes, galerias e baladas naturalmente se espalharão, trazendo fluxo de pessoas e demanda. E o retrofit é uma das ferramentas mais poderosas e inteligentes para a requalificação do Centro das cidades, especialmente em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, onde há uma vasta oferta de prédios abandonados com valor arquitetônico.
Por isso eu digo: é a última chamada para comprar coisa boa no Centro a preço de banana. E quem ouvir esse conselho, vai se dar bem.
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