De pauta periférica a pilar fundamental, a busca por sustentabilidade é um dos principais agentes de transformação da construção civil nas últimas décadas. As cobranças do poder público e da sociedade têm direcionado o setor para a descarbonização e para adoção de práticas ecologicamente corretas.
À medida que construtoras se adaptam às demandas socioambientais, empresas embarcam em um lucrativo mercado. A GT Building, construtora fundada há pouco mais de cinco anos, é fruto destas reivindicações.
A companhia desenvolve empreendimentos sustentáveis e de alto padrão na cidade de Curitiba, no Paraná. “Não basta colocar um vaso de planta na janela, é preciso tornar o consumo de energia mais eficiente, compensar a emissão de carbono e mitigar a produção de resíduos”, enumera Rodolfo Baggio, diretor comercial da empresa.
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Um retrato deste propósito é o The Pineyards, projeto anunciado pela construtora que prevê a neutralização de 100% do carbono emitido durante a obra. A empresa também propõe a compostagem de todos os resíduos gerados no canteiro de obras, a troca de fornecedores por parceiros menos poluentes e até a compra de crédito de carbono.
“Ao fim desta entrega, teremos neutralizado 3,5 toneladas, mas adotamos práticas sustentáveis em toda a empresa”, comenta Baggio. “Não vamos imprimir panfletos do empreendimento, escolhemos fornecedores de regiões próximas para diminuir a poluição do transporte e investimos em um sistema de reutilização da água da chuva no abastecimento das fontes para descargas e lavagem de calçadas”, acrescenta.
Localizado no bairro Cabral, o empreendimento será composto por duas torres de oito pavimentos e apartamentos de 123 a 151 metros quadrados, além de duas unidades tipo garden e duplex, com 232 e 380 metros quadrados, respectivamente. Todos os apartamentos possuem duas vagas de garagem, uma delas equipada com ponto de recarga para veículos elétricos.
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Na fachada, os elementos metálicos são revestidos por madeira ecológica. O terreno de 2,7 mil m² também vai abrigar um campo de golf indoor, piscinas interna aquecida e externa, academia, brinquedoteca, pet place, horta, salão de festas, quadra de beach tennis e um solarium.
Com VGV de R$ 115 milhões, o empreendimento será entregue com bicicletas elétricas que os moradores poderão utilizar livremente.
A tecnologia também é uma aliada da empresa na busca por manter o rótulo de empresa sustentável. “Com determinados softwares, conseguimos medir o conforto térmico dos cômodos. Assim, se a gente troca a esquadria ou aumentamos a janela, sabemos se isso vai melhorar o conforto térmico e diminuir o consumo de energia”, ilustra Baggio.
E ele garante que essas práticas não comprometem o orçamento da obra. “Se preocupar com o meio ambiente não demanda mais dinheiro. Investir 200 mil reais a mais em uma obra de 200 milhões não significa que será mais caro. Na prática, um apartamento sustentável não deve custar mais do que 1% de um não sustentável”, garante o executivo.
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Também é com a promessa de que a sustentabilidade não está associada a custos maiores que a Lightwall tenta mitigar o uso de tijolo e cimento nos canteiros de obra. Fundada em Recife, capital do Pernambuco, a empresa produz painéis modulares construídos com concreto leve, isopor e água.
“Como os painéis são fabricados a partir da demanda da incorporadora, este é um produto que não gera nenhum resíduo sólido. Enquanto para construir um metro quadrado de alvenaria são quase 500 litros de água, gasta-se 5 litros com este método; se eu for construir 100 m² de parede, perco 20 m² de materiais. Aqui, a perda é de 0,5%”, afirma Marcus Fernandes, CEO da Lightwall.
A estratégia vem trazendo bons frutos. Em setembro deste ano, a companhia abriu uma fábrica em Rio Claro, no interior de São Paulo, com capacidade para produzir 20 mil casas por ano. Até o próximo ano, a expectativa é de abertura de mais 5 unidades, com um investimento de R$ 220 milhões.
Fernandes explica que as maiores dificuldades da Lightwall não estão relacionadas aos custos de produção, mas ao conservadorismo do mercado imobiliário.
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“Como era a aviação e o automobilismo há 100 anos? E como é hoje? A construção civil não evoluiu quase nada na forma de se construir e o meio ambiente sofre com isso. Ainda é tijolo por tijolo, argamassa e cimento. Parte da jornada de quem trabalha com inovação neste setor é quebrar objeções”, argumenta.
Dados do Relatório de Status Global para Edificações e Construção, publicado em 2022 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Aliança Global para Edificações e Construção (GlobalABC), mostra que o setor de edificações e construção foi responsável por cerca de 21% das emissões globais de gases de efeito estufa.
Naquele ano, os edifícios foram responsáveis por 34% da demanda global de energia e 37% das emissões de dióxido de carbono (CO2) relacionadas a energia e processos. Não à toa, a expectativa de quem atua no setor é que medidas para abrandar estes efeitos se tornem cada vez mais populares.
Assim, enquanto os efeitos das mudanças climáticas se tornam mais visíveis, as iniciativas sustentáveis devem ganhar mercado. “Já é difícil encontrar apartamentos de R$ 1,5 mi a R$ 2 milhões que não tenham selos ou sigam práticas ambientais em alguma etapa da jornada de construção”, comenta Baggio.
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“O mercado está se habituando e conhecendo. Talvez só não esteja totalmente disposto a pagar por isso ainda”, observa. “Ao passo que o Brasil regula mais o tema, as incorporadoras que não fazem nada ou fazem muito pouco desenvolvem mais projetos adequados às questões climáticas”, defende.