. Descendo um pouco, no número 94, está a Biblioteca
Municipal Mário de Andrade, a segunda maior do Brasil, só superada pela
Biblioteca Nacional. Ela foi fundada em 1925, a partir do acervo da Câmara
Municipal, e guarda muitas obras raras, como mapas do começo do século XIX que
só podem ser consultados por pesquisadores. De um lado há uma estátua de
Camões, tido como o maior escritor em língua portuguesa, e do outro a de Miguel
de Cervantes, o maior escritor em língua espanhola. A praça Dom José Gaspar, no
fundo da biblioteca, também é uma atração. Ali era a chácara do bispo Dom José
Gaspar da Fonseca e Silva, o primeiro arcebispo de São Paulo, que morreu num
acidente aéreo do qual também foi vítima o jornalista Cásper Líbero.
. Ao final da Rua da Consolação é possível pegar um
pedacinho da Rua Quirino de Andrade, Rua Bráulio Gomes e 7 de Abril. Ali está o
Largo da Memória, onde se encontra o Monumento da Memória, o mais antigo
obelisco de pé na cidade, erigido em 1814 pelo engenheiro militar Daniel
Müller. O símbolo foi feito para lembrar a presença das autoridades civil,
militar e religiosa da época, por isso tem três lados. O local onde fica, ao
lado da estação Anhangabaú do metrô, era o antigo Largo do Piques, onde
funcionava o maior leiloeiro de escravos da cidade, propriedade do português
Antonio Piques. Também vale notar que a Rua 7 de Abril recebe esse nome porque
a data lembra a abdicação de Dom Pedro I ao trono.
. Andando por um pedacinho da Rua Coronel Xavier de Toledo,
chega-se ao Teatro Municipal. O espaço foi baseado no projeto do Teatro Scala,
de Milão, e é uma atração à parte. Quando foi fundado, em 1911, era frequentado
pelos paulistanos mais ricos e seu arquiteto foi o principal profissional dessa
área na cidade: Ramos de Azevedo, quem nomeia a praça lateral. As esculturas
que “seguram” as bases da estrutura são cariátides, figuras míticas
baseadas na crença dos gregos segundo a qual Zeus castigou os habitantes da
ilha de Cárias por ficarem do lado dos troianos na guerra contra os gregos. Daí,
com a derrota de Tróia, foram castigados e se tornaram escravos dos vencedores.
O mito foi transmitido aos romanos. Os artífices italianos que vieram para São
Paulo no início do século passado para trabalhar na construção civil usavam
colocar cariátides nos prédios paulistanos.
Assine nossa newsletter e receba por e-mail as principais notícias e dicas.
Fique tranquilo, não enviamos SPAM.
Quero me cadastrar para receber informações relevantes por e-mail. Fique tranquilo, não fazemos SPAM.
. Ao lado do Teatro Municipal, o Viaduto do Chá foi nomeado
assim por causa das plantações de chá do Barão de Itapetininga, que também
nomeia a rua próxima. O Barão vivia ali e fez uma espécie de pedágio para
cobrar as pessoas que precisavam transitar por aquela área, como uma
oportunidade de explorar economicamente as terras de sua propriedade.
. A Rua Líbero Badaró homenageia o jornalista italiano do
Observatório Constitucional, que foi morto no local por dois sujeitos armados
de faca. O fato teria ocorrido porque o jornalista se revelou crítico do
representante regional do rei Dom Pedro I. O jornalista era um defensor da
liberdade. Nessa rua também fica o edifício mais antigo de São Paulo: Sampaio
Moreira, número 340, cuja inauguração ocorreu por volta de 1926. Somente depois,
em 1929, foi inaugurado o Martinelli, primeiro arranha-céu da cidade.
. Passando pela Praça do Ouvidor Pacheco e Silva chega-se à Rua
Benjamim Constant, que homenageia o pensador, um dos primeiros grandes
republicanos. O Largo São Francisco, que abriga a faculdade de Direito da USP,
representou com sua inauguração um novo tempo na história de São Paulo, porque
permitiu que a cidade se tornasse mais cosmopolita. Os primeiros presidentes
republicanos estudaram lá. O prédio tem muitas histórias interessantes, como o
túmulo do professor Julius Frank localizado no pátio interno. O professor
alemão deu aulas no prédio e fundou uma sociedade secreta chamada Bucha que envolveu
várias personalidades famosas, como o Barão do Rio Branco, Rui Barbosa e
presidentes do Brasil no tempo da República Velha. O corpo lá permaneceu
porque, por ser luterano, o professor não poderia ser enterrado em cemitério
católico. Vale notar que o edifício era propriedade da igreja de São Francisco,
localizada ao lado, e foi desapropriada pelo Estado para se construir a
faculdade de Direito por se considerado o melhor prédio da cidade até aquele
momento. O evento foi alvo de muitas críticas e estranhamento, já que a
população local de São Paulo, à época, sequer falava português direito.
Falava-se uma mistura do português com a língua indígena local, chamada inhangatú.
. A Praça da Sé, marco zero da cidade, é um local
referencial, já que todas as estradas de São Paulo partem daquele ponto e toda
a numeração das ruas o tem por referência inicial. Já a Catedral da Sé,
referência arquitetônica neogótica no Brasil, chegou a ser reconstruída três
vezes desde a sua primeira edificação, em 1591. Em 31 de outubro de 1975, oito
mil pessoas se reuniram naquela Catedral para um ato ecumênico comandado pelo
então cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, pelo rabino da
Confederação Israelita Paulista, Henry Isaac Sobel, e pelo reverendo Jaime
Nelson Wright, pastor presbiteriano. Uma semana depois de o jornalista Vladimir
Herzog, sido morto nos porões do Exército, a celebração se configurou como um
desafio ao regime militar.
. Passando pela Praça João Mendes e pelo Largo 7 de
Setembro, chega-se à Avenida Liberdade. Ali, em frente ao metrô, ficava a
última forca de São Paulo, onde foram mortos muitos escravos no período
setecentista. A Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados, no número 238, é um
lugar lúgubre em memória aos escravos que não conseguiram fuga para a mata a
partir daquele ponto. A Liberdade, que já foi conhecida como um bairro japonês,
na verdade é um bairro oriental, abrigando também elementos da cultura coreana,
chinesa e de outras localidades.
* O roteiro foi pontuado pelas dicas do historiador e jornalista Moacir Assunção, autor de 12 livros. Entre eles, dois foram finalistas do Prêmio Jabuti: Os homens que mataram o facínora – a história dos grandes inimigos de Lampião (Record, 2007) e São Paulo deve ser destruída (Record, 2016), sobre a Revolução de 1924.
Esquina do Viaduto do Chá, na parte de cima, com a ciclofaixa no detalhe
Fachada do Teatro Municipal e ciclofaixa. O espaço foi baseado no projeto do Teatro Scala, de Milão
Ao centro, marco zero da cidade. Ao fundo, a imponente Catedral da Sé
Largo São Francisco, que abriga a faculdade de Direito da USP
Monumento da Memória, o mais antigo obelisco da cidade, erigido em 1814
MASP, o icônico projeto de Lina Bo Bardi
Rua Líbero Badaró homenageia o jornalista italiano, morto em 1830
Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados, à esquerda, e ciclofaixa na Avenida Liberdade
Igreja da Consolação, no número 585, foi construída originalmente entre 1799 e 1801, mas passou por muitas reformas até chegar à versão atual
Esquina da Consolação com a Paulista, ciclofaixas e faixas de pedestre no cruzamento
Cemitério da Consolação abriga o túmulo de brasileiros famosos, como Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Monteiro Lobato
Biblioteca Municipal Mário de Andrade, a segunda maior do Brasil. Estátua de Camões, tido como o maior escritor em língua portuguesa