Essa reorganização
precisa partir do poder público ou podemos acreditar que a sociedade civil vai
criando demandas para o setor privado?
O Estado tem uma função muito grande nisso. Se ele aceita
que o mercado imobiliário funcione conforme as leis da oferta e da demanda,
concorda que só os mais ricos têm o direito de morar nas áreas centrais e que,
para os pobres, vão sobrando as franjas da cidade. Ou, se for no centro,
situações como cortiços e pensionatos, áreas de preservação ambiental, favelas,
beiras de córregos. Mas existem múltiplos instrumentos para enfrentar isso,
como as zonas especiais de interesse social, que são instituídas pelo plano diretor.
São áreas em que a habitação construída precisa ser para o público de baixa
renda. Também é possível fazer políticas habitacionais não necessariamente
baseadas na propriedade privada, mas no aluguel ou subsídios. É sempre uma
combinação de instrumentos e, principalmente, a consistência ao longo do tempo.
As cidades e os países que conseguiram enfrentar melhor as desigualdades são
aqueles que estão insistindo em enfrentar o mercado de habitação e corrigir as
desigualdades há décadas, como Viena, a Holanda, a Finlândia.
Temos carros cada vez mais inteligentes, vias, faixas e rotas para bicicletas, patinetes, monociclos. Essas soluções impactam o trânsito de maneira significativa ou estamos fazendo a aposta errada?
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Todas as soluções alternativas, limpas, que não passam pelo
transporte individual a diesel, gasolina ou álcool, são bem-vindas. Nesse
sentido, quanto mais diversificada e não poluente for a nossa base, melhor. Por
outro lado, temos que tomar cuidado para não achar que microssoluções vão resolver
nosso problema. Os últimos dados da pesquisa “origem e destino” do metrô
mostram isso. Os grupos mais ricos estão vivendo mais perto do trabalho. São
eles que estão adotando mais o transporte coletivo ou alternativo, mas os mais
pobres ainda não tiveram acesso a toda essa diversidade de novas formas de
locomoção. Sem redistribuir as pessoas no espaço, não vamos conseguir fazer com
que mais gente se beneficie das alternativas que estão aparecendo.
Temos hoje pontos de internet gratuita e um mercado imobiliário pensando em empreendimentos que gerenciam a demanda de compras online, espaços compartilhados, reuso de água e reciclagem. São Paulo está se tornando uma cidade inteligente?
Assim como a inteligência humana, a urbana é múltipla. Uma
delas é a inteligência tecnológica, em que as pessoas têm mais acesso a grandes
bancos de dados e informações em tempo real. Mas a tecnologia, por conta
própria, não vai transformar a cidade em algo melhor. Essa não é uma fala
antitecnológica; eu sou a favor das tecnologias, elas são sempre muito
bem-vindas. Mas temos que saber que elas sozinhas não vão resolver contradições
estruturais da cidade.
O que podemos esperar
de mudanças na paisagem urbana em termos de transporte e arquitetura nas
próximas décadas, com a tecnologia cada vez mais presente?
Bem, não sou nenhum profeta, mas tem algumas coisas nas
quais eu posso apostar. Por exemplo, na redução do tamanho das casas e dos
apartamentos pela racionalização do uso, pela possibilidade de ter fora coisas
que antes você tinha dentro das casas – por exemplo, a área de serviço. Nesse
sentido, vejo uma crise dos imóveis muito grandes, dos bairros com mansões.
Mesmo a população de alta renda tem optado por morar em bairros mais próximos
de redes de transporte de massa. Vejo também um adensamento cada vez maior nas
regiões centrais por força do mercado, principalmente, não tanto pelo poder
público, e a gente vai ter as ruas cada vez mais cheias, o que, por um lado, é
muito bom e, por outro, reatualiza o grande desafio que é encontrar moradia para
os mais pobres, no centro.
E em termos de
mobilidade?
Não sei se vejo muita diferença em relação ao que temos
atualmente. Já estamos com a matriz de mobilidade bastante flexível. O que,
daqui a 20 anos, pode começar a aparecer são carros autodirigidos e mais
informatizados. Mas acredito que vá atender a uma parte pequena dos
deslocamentos pela cidade. A grande maioria vai continuar sendo feita do mesmo
jeito, com as redes de transporte coletivo que, quanto mais capacidade tiverem,
quanto mais distribuídas no território estiverem, melhor.
02/02/2020
Enxerguei essa situação em 2002 comprei 4 aps de 1 dorm. na região do MASP o preço dos imóveis multiplicaram por 10 e estão sempre alugados com um rentabilidade incrível.
06/02/2020
Estamos andando para trás faz tempo!
08/02/2020
Dificil ver estes argumentos “operacionalizados”. Como criar espaços para os pobres nas regioes centrais, como sugerido pelo entrevistado, se estes sao talvez 70-80% da populacao das grandes cidades brasileiras?
Nao faz sentido. Sao politicas de pequenos paises desenvolvidos europeus. Aqui me parece que só transporte muito eficiente/eficaz e bastante subsidiado.