A região serrana do Rio de Janeiro está se transformando na nova Campos do Jordão, cidade badalada de São Paulo também conhecida como a “Suíça brasileira”. De acordo com Fabrício Junqueira, delegado do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci-RJ) em Itaipava, no primeiro semestre deste ano houve aumento de 300% na procura em comparação ao mesmo período do ano passado. Número este que tem atraído também os olhares dos investidores, que têm lucrado acima de 30%.
“Dois fatores contribuíram para este aumento: com o isolamento social, as pessoas sentiram a necessidade de ter uma casa, um quintal, ou seja, uma área aberta. O segundo motivo foi o home office. Pessoas que tinham o desejo de comprar uma casa na serra não fechavam negócio porque ainda precisavam estar fisicamente na empresa. Agora, com algumas empresas adotando o trabalho remoto permanentemente, esses interessados estão conseguindo realizar o desejo de morar na região serrana sem a obrigação de subir e descer todos os dias para trabalhar”, comenta Junqueira.
Leonardo Schneider, vice-presidente do Sindicato da Habitação do Rio (Secovi-RJ) confirma a tendência. “Desde o início da pandemia, a procura pela serra aumentou significativamente. Em um primeiro momento se percebe uma alta, principalmente na locação. Com relação às vendas também, mas é um aumento que leva um tempo para ser absorvido, porque havia muita oferta”, avalia Schneider.
O reflexo da demanda está sendo percebido na Concal, por exemplo. “Pedro do Rio, em Petrópolis, onde temos o condomínio Terras Altas, é uma das regiões preferidas. A procura está tão significativa que, nos primeiros 15 dias de junho, vendemos nove terrenos no condomínio. Existem clientes, inclusive, comprando dois lotes e pagando à vista. A região tem atraído profissionais do mercado financeiro que desejam cumprir a quarentena com qualidade de vida”, comenta José Conde Caldas, presidente da empresa.
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Cada terreno no Terras Altas, segundo Caldas, é vendido por R$ 450 mil. “O cliente compra o lote e contrata arquitetos para fazer o projeto da casa de acordo com o seu perfil. Também vendemos em junho a última casa pronta no condomínio, avaliada em R$ 1,8 milhão”, conta o presidente da construtora. O Terras Altas, com 85 lotes, é um condomínio fechado e urbanizado pronto para a construção de moradias. Com terrenos a partir de 2.500 metros quadrados (m²), o condomínio oferece infraestrutura completa, incluindo rede de acesso à internet em fibra ótica, pavimentação e arborização das ruas, guarita e ronda 24 horas. O Valor Geral de Vendas (VGV) total é de R$ 40 milhões.
A Riooito Incorporações, que tem quatro projetos na região serrana, também sente a movimentação. Para Sheila Ferreira, gerente de vendas da empresa, no Cenário da Montanha, que está em construção em Itaipava, 40% dos clientes são de famílias do Rio. “Só em julho vendemos 20 unidades”, afirma. Os poucos imóveis disponíveis hoje têm preços a partir de R$ 220 mil. No Cenário dos Pássaros, 30% são compradores do Rio. Todas as casas são comercializadas pelo mesmo preço: R$ 180 mil. Os patrimônios garden, que já eram procurados, ficaram ainda mais visados na pandemia.
“Em ambos os projetos, a procura pela tipologia com jardim particular sempre foi grande, mas com o isolamento social a demanda foi ainda maior, cerca de 20% de aumento. No Cenário da Montanha não temos mais espaços deste tipo, pois foram os primeiros a serem vendidos antes mesmo do coronavírus. Recentemente tivemos ainda mais clientes desejando uma propriedade deste tipo, mas não foi possível atender porque esgotou. No Cenário dos Pássaros ainda temos algumas casas com quintal exclusivo à venda que estão sendo negociadas. São famílias que têm filhos ou pets e que desejam mais espaço ao ar livre, com verde, principalmente agora com a experiência do isolamento social”, comenta Sheila.
Para os investidores de imóveis que quiserem aproveitar a onda, Sheila recomenda os bens de dois quartos, tanto para compra quanto para locação de temporada. “Com relação à rentabilidade, por exemplo, no Cenário de Monet, em Petrópolis, que entregamos em 2018, vendemos por R$ 170 mil na época de lançamento e hoje temos clientes vendendo por R$ 275 mil e R$ 290 mil. Tenho uma cliente que mobiliou a unidade e está vendendo por R$ 330 mil. A rentabilidade é acima de 30%. Já no Cenário da Montanha, que estamos construindo em Itaipava, o comprador levou por R$ 230 mil no lançamento e já está vendendo por R$ 290 mil”, indica a gerente de vendas da Riooito.
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Ela explica ainda que 40% dos clientes que fecharam a compra de patrimônios do empreendimento na região são investidores. Mas o mercado de aluguéis também está em ótima fase na região serrana do Rio. Sergio Conde Caldas, arquiteto e diretor da Concal, conta que nos meses de pandemia tinham casas dentro do loteamento da empresa, Terras Altas, em Pedro do Rio (Petrópolis), cuja diária para aluguel era de R$ 2 mil e havia fila de espera. “Hoje não temos mais imóveis disponíveis para alugar. Temos terrenos para construir com valores a partir de R$ 450 mil. A procura por lugares periféricos aos grandes centros cresceu muito e entendemos que esse comportamento vai ficar”, garante Sergio.
Ele frisa ainda que, com o aumento da demanda, existe também muita valorização. “Agora, com esse novo comportamento, facilmente o proprietário poderá zerar seus custos de manutenção alugando a sua casa por alguns dias no mês. A tendência traz de volta a valorização que a casa de campo ou de praia tinha perdido. Locais como o interior do Rio começam a recuperar seus valores em relação aos grandes centros urbanos.”