Trem e indústria: a gênese da Lapa de
Baixo
O eixo entre o Centro de São Paulo e o
Porto de Santos era a rota de industrialização paulista. Quando as ferrovias
foram inauguradas, acelerando o transporte entre capital e interior, as
fábricas começaram, uma após a outra, a formarem a paisagem da Lapa e
arredores. As Indústrias Matarazzo, lideradas por Francisco Matarazzo, que hoje
batiza a famosa avenida, são o maior exemplo deste processo.
Para haver fábrica, é preciso que haja
trabalhadores. Dessa forma, diversas moradias operárias começaram a aparecer. Elas
se organizavam em vilas cujas construções eram, majoritariamente, casas ou
sobrados geminados e prédios de poucos andares – “um exemplo desse modelo pode
ser encontrado hoje na rua Manequinho”, explica Luiza Naomi.
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O desenvolvimento do bairro se deu com
incentivo da administração pública. Assim que a Lapa foi promovida a distrito,
em 1910, o bairro recebeu imediatamente fornecimento de luz elétrica e um
programa de rede de água e esgoto, que foi concluído em 1920 – um privilégio
que, até hoje, poucas regiões de São Paulo têm.
Lapa de Cima e Vila Romana: os
imigrantes
A mesma estrutura urbanística tomou
forma do outro lado da ferrovia. Contudo, desenvolveu-se ali, nas vias de maior
circulação, um centro comercial mais vigoroso, com destaque para a rua Doze de
Outubro, pólo de comércio popular nas últimas décadas, e para o Mercado
Municipal da Lapa, inaugurado em 1954.
E por ali, se instalaram muitos
imigrantes, a maioria deles originários da Itália. Assim, nasceu uma vila cheia
de italianos e o nome ficou: Vila Romana. Na verdade, os nomes ficaram. Pelas
ruas do bairro, a ascendência italiana está presente em cada placa de
identificação das vias. Todas elas foram batizadas em homenagem à história ou à
mitologia romana, casos de Catão, Tito, Scipião, Faustolo, entre outras.
Alto da Lapa: a cidade jardim
Na década de 1920, a britânica
Companhia City comprou cerca de 12 mil quilômetros quadrados na parte mais alta
da região. As chácaras, então, se transformaram em um bairro planejado ao
estilo cidade-jardim, um conceito de urbanização que afirma a relação da
expansão da cidade integrada ao campo.
Capitaneada pelo conceituado arquiteto
Berry Parker, responsável também pelos bairros de Jardim América, Jardim
Paulista e Pacaembu, a Companhia City comercializou os lotes com um amplo
pacote de benefícios. A professora Luiza Naomi cita alguns: arruamento que
acompanha as curvas de nível naturais, calçadas alargadas, muitos jardins e
pequenas praças. E uma grande novidade para a época: os bondes passavam em
frente aos casarões da City Lapa. Antes da popularização dos automóveis, eram
os mais ricos que acessavam o transporte público.