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[OPINIÃO] Toda obra pode ser industrializada? Depende de muitos fatores

Giulliano Polito é COO no Grupo SteelCorp

Por:Giulliano Polito 07/12/2025 3 minutos de leitura
"A industrialização não precisa, e muitas vezes não deve assumir uma forma absoluta" / Crédito: Iryna/AdobeStock

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A discussão sobre industrialização na construção civil ganhou força nos últimos anos, especialmente diante de demandas por mais eficiência, sustentabilidade e previsibilidade. No entanto, ao contrário do que muitos imaginam, a pergunta “toda obra pode ser industrializada?” não admite uma resposta simples.

A industrialização não é um pacote fechado, nem uma escolha binária entre o modelo tradicional e o totalmente modular. Em vez disso, trata-se de compreender a vocação específica de cada empreendimento, avaliando seus recursos, metas e características arquitetônicas. É nessa análise cuidadosa que se revela o verdadeiro potencial da industrialização, seja ela parcial, total ou híbrida.

A ideia de que industrializar uma obra significa necessariamente adotar 100% de componentes pré-fabricados é equivocada. De fato, há empreendimentos que se beneficiam desse modelo, como módulos plug-and-play, stands de venda ou unidades habitacionais seriadas. Nesses casos, a solução chega praticamente pronta ao canteiro, reduzindo tempo, resíduos e mão de obra.

No entanto, a industrialização não precisa, e muitas vezes não deve assumir uma forma absoluta.

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A construção pode incorporar apenas um elemento industrializado, como uma escada metálica, uma fachada pré-fabricada ou componentes de concreto leve, alcançando níveis de 5% ou 10% de industrialização sem comprometer o restante do processo tradicional. Essa abordagem mais seletiva mostra que o conceito é, acima de tudo, flexível.

Quando se compreende essa flexibilidade, abre-se espaço para pensar em obras híbridas, que combinam diferentes sistemas construtivos na mesma estrutura. O setor já observa projetos que utilizam simultaneamente madeira, concreto armado, concreto pré-fabricado, aço laminado e aço leve.

Essa mistura inteligente de materiais e métodos permite otimizar desempenho, custo, estética e tempo, respeitando sempre a lógica interna do projeto. Assim, o híbrido não representa improviso, mas sim uma escolha técnica fundamentada na “melhor vocação” para cada parte da obra.

E o que define essa vocação? Muitas pessoas acreditam que o principal fator é o recurso financeiro disponível. Embora o budget seja relevante, ele está longe de ser o único elemento determinante. Recursos, no contexto da construção industrializada, incluem também fatores como localização geográfica, condições de acesso ao terreno, mão de obra local, prazos do empreendimento, expectativas estéticas e funcionais do cliente, além da própria partida arquitetônica concebida pelo projetista.

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Uma obra localizada em área remota, por exemplo, pode demandar maior industrialização para reduzir a mobilização de equipes. Já um projeto em zona urbana consolidada talvez exija soluções híbridas que minimizem o impacto no entorno.

Além disso, o projeto arquitetônico exerce papel central. Há concepções que favorecem componentes modulares, enquanto outras dependem de liberdade formal ou complexidade estrutural que tornam soluções híbridas mais adequadas. A industrialização funciona melhor quando o projeto nasce com essa vocação. Caso contrário, forçar o uso de sistemas pré-fabricados pode gerar custo adicional e perda de eficiência. Por isso, a decisão deve ser estratégica e não meramente ideológica.

Outro aspecto relevante é o prazo de entrega. Empreendimentos com cronogramas apertados tendem a se beneficiar do pré-fabricado, pois reduzem etapas no canteiro. Entretanto, mesmo nesses casos, pode haver partes do projeto que não justificam a industrialização absoluta. A lógica é sempre a mesma: adequar o sistema aos objetivos e não o contrário.

Diante disso, afirmar que toda obra pode ser industrializada é compreensível, pois existe sempre a alternativa de incorporar ao menos um componente pré-fabricado. Porém, afirmar que toda obra deve ser industrializada ignora nuances técnicas, econômicas, logísticas e arquitetônicas. A industrialização é uma ferramenta, não um fim em si.

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O caminho mais promissor para o setor é justamente esse entendimento amplo, que rompe a visão de extremos e valoriza a interface entre sistemas. Quando projetistas, engenheiros e clientes reconhecem que o equilíbrio entre tradição e tecnologia pode gerar resultados superiores, o campo de possibilidades se expande. A pergunta deixa de ser “industrializar ou não industrializar?” e passa a ser “qual o grau ideal de industrialização para este projeto?”.

No centro desse debate está uma verdade simples, a de que não existe receita universal. Cada obra carrega sua identidade, seus desafios e sua vocação. Identificar esses elementos é o que permite escolher, com técnica e inteligência, os sistemas que farão dela uma construção eficiente, funcional e coerente com seus objetivos.

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