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[OPINIÃO] Compactos são o novo eixo da moradia urbana

Paula Reis é economista do Grupo OLX

Por:Paula Reis 20/11/2025 3 minutos de leitura
"Essa diversidade ampliou o público-alvo e consolidou o formato como solução versátil, adaptada a diferentes faixas de renda e estilos de vida" / Crédito: Okta/AdobeStock

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Os apartamentos compactos, popularmente conhecidos como studios, consolidaram-se no mercado imobiliário paulistano. Mais que um modismo, o formato reflete mudanças estruturais na dinâmica urbana e no comportamento do consumidor.

Atendem não apenas universitários, jovens profissionais ou casais sem filhos, mas também a investidores e aqueles que não suportam mais perder horas no trânsito das grandes cidades e preferem trocar metros quadrados por distâncias mais razoáveis e espaço por tempo de qualidade.

O encarecimento dos terrenos bem localizados, a redução do tamanho das famílias e a precariedade da mobilidade urbana vêm redefinindo as preferências habitacionais, favorecendo formatos que aliam localização, eficiência e rentabilidade.

Essa busca por eficiência e localização não é nova. No pós-guerra, o arquiteto alemão Franz Heep, formado na tradição modernista europeia e influenciado pela Bauhaus, encontrou no Brasil terreno fértil para aplicar sua visão funcionalista: espaços enxutos, racionais e voltados à vida moderna. Seu Edifício Atlanta, inaugurado em 1949 na Praça da República, é considerado o primeiro prédio de quitinetes do país — um marco da densificação urbana e do uso eficiente do solo.

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Setenta anos depois do pioneirismo de Heep, o conceito se modernizou. O setor imobiliário respondeu às novas demandas do mercado com produtos cada vez mais segmentados. Há studios para todos os perfis e faixas de renda. Do alto padrão aos projetos mais acessíveis, esses empreendimentos primam por oferecer serviços hoje considerados essenciais como academias, coworking, espaços gourmet, bicicletários e salas de delivery refrigeradas — reflexo do avanço do e-commerce e da rotina de quem raramente está em casa.

Em muitos, as áreas comuns reproduzem a infraestrutura de um pequeno bairro, reunindo piscina, salão de festas, pet place e lavanderia compartilhada, de modo a compensar a metragem enxuta das unidades com uma experiência de moradia mais gratificante. Esses empreendimentos atendem a públicos diversos que priorizam conveniência e mobilidade.

O pano de fundo econômico reforça essa transformação. A escassez de terrenos e a verticalização coincidem com a queda da taxa de natalidade e a mudança no perfil familiar. Em 2024, os imóveis de até 45 m² representaram cerca de 80% dos lançamentos, que totalizaram 383.483 unidades, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Em São Paulo, sete em cada dez novas unidades lançadas no ano passado se enquadravam nessa categoria.

Além do cenário econômico, a dura rotina nas metrópoles reforça o argumento. A pesquisa Viver em São Paulo, do Instituto Locomotiva (2025), mostra que 78% dos paulistanos apontam o deslocamento como o principal fator que compromete o tempo no dia a dia, e 85% já perderam compromissos por conta de atrasos.

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Segundo o levantamento, os motoristas gastam, em média, 2h28 por dia no trânsito em São Paulo — tempo que sobe para 2h47 entre usuários de transporte público. Morar próximo a eixos de transporte, comércio e serviços permite substituir horas no trânsito por qualidade de vida — razão pela qual os compactos mantêm alta ocupação e rentabilidade.

Essa diversidade ampliou o público-alvo e consolidou o formato como solução versátil, adaptada a diferentes faixas de renda e estilos de vida. E o modelo já se expande para Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Florianópolis, impulsionado pelo potencial de retorno e pelas transformações demográficas. O movimento aponta para uma nova lógica de habitação no Brasil, menos centrada no espaço e mais no tempo, o recurso mais escasso da vida urbana contemporânea.

Franz Heep dificilmente imaginaria, ao projetar o Atlanta em 1949, que sua visão modernista de otimização espacial se tornaria um símbolo de adaptação às demandas do século XXI. Mas o princípio permanece: morar bem não é necessariamente dispor de uma área maior, é ter mais tempo para desfrutar com as pessoas e atividades que nos dão alegria.

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