Opinião: Como o estilo de vida dos compradores tem influenciado os imóveis
Marcelo Dadian é VP de Relações Institucionais do Grupo OLX
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Por que desenvolvemos imóveis da maneira como fazemos? Temos a limitação do terreno, a legislação regional e as preferências estéticas do momento, passando pelos custos de materiais e mão de obra que impactam a viabilidade financeira, sem falar nas características urbanas do entorno da região avaliada.
Mas cada vez mais o que determina a “cara”, a funcionalidade e até a demanda por certos imóveis é o estilo de vida de quem pretende morar neles. Imóvel existe para ser habitado, e a configuração das famílias, a forma como vivemos a cidade, nossas rotinas e nossos hábitos precisam nortear o mercado na hora de fazer seus novos lançamentos
Construtoras e incorporadoras estão descobrindo que critérios exclusivamente econômicos, sociais e demográficos não podem ser os únicos guias. Não basta avaliar somente a renda ou o tamanho das famílias (com filhos ou sem filhos? Se sim, quantos?). O lifestyle dos potenciais compradores deveriam nortear as escolhas tanto quanto qualquer outro critério.
Hoje existe uma assimetria muito grande entre as tradicionais “personas” para quem os empreendimentos foram inicialmente projetados e as que efetivamente estão comprando ou habitando estes imóveis.
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Prova disso é a proliferação de empreendimentos que oferecem unidades de diferentes metragens num único projeto. São condomínios que reúnem pessoas e famílias com características bem diferentes, mas que têm, em comum, a vontade de morar em determinado bairro ou região da cidade, a valorização de uma assinatura arquitetônica ou serviços que atendam seus gostos pessoais ou estilos de vida que unem estas “tribos” em atributos muito mais sociais e de comportamento do que estatísticos.
Na cidade de São Paulo não faltam exemplos disso. A SKR, por exemplo, criou o conceito de Arquitetura Viva, cujo foco é em novas experiências de moradia e interação e a Setin trouxe o conceito Alma Brasileira valorizando a estética e os talentos do design nacional
Há empreendimentos com diversas tipologias, que unem os moradores não pelo perfil familiar, mas por viver em um local integrado ao seu entorno, com uma arquitetura para ser vista e também funcional e com recursos tecnológicos, além de acesso às praticidades que a vida urbana oferece, como lazer, comércio e serviços.
Empreendimentos como esse não são exatamente novos: no caso da capital paulista, basta olhar para ícones como o Conjunto Nacional, o Edifício Copan e dezenas de outras construções das décadas de 1950 e 1960 que já traziam a proposta de reunir unidades de diferentes tamanhos e configurações num único prédio.
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O mercado está, de certa forma, redescobrindo que a localização e o lifestyle propiciado por uma moradia às vezes são o fator decisivo para o potencial morador. Essa percepção empírica, baseada no surgimento de edifícios com unidades de perfis diversos, é corroborada pelos números.
A última pesquisa “Tendências de moradia”, do Data ZAP, publicada neste ano, traz insights sobre o tema. Há, por exemplo, um crescimento na procura por equipamentos “não convencionais” nos condomínios. Itens tradicionais, como churrasqueira, salão de festas e academia, continuam, é claro, atraindo boa parte dos compradores, mas há três categorias novas que já despertam nível “alto” de interesse em mais de 30% dos entrevistados: o minimercado, a mensageria e o espaço pet, em ordem de importância.
O interesse por esse último é fácil de explicar, haja vista as várias pesquisas indicando aumento no tempo e no gasto financeiro dedicado aos animais de estimação.
Já os dois primeiros têm a ver com uma transformação da nossa rotina e do universo do trabalho que encontra seu grande marco na pandemia. Do home office total ao esquema híbrido, adotado por tantas empresas, o trabalho remoto veio para ficar. Praticamente metade dos brasileiros que procuram um imóvel trabalha de casa em uma parte do mês, sendo que 10% trabalham todos os dias em home office.
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Somos uma sociedade que passa mais tempo em casa, que compra mais pela internet e que exige, portanto, mais comodidade nos seus imóveis. “Comodidade”, aliás, parece ser a palavra da vez no mercado imobiliário, e poucas coisas têm tanto impacto nessa seara quanto a localização de um empreendimento – daí a redescoberta de que compradores com perfis diferentes podem partilhar um mesmo estilo de vida e, com isso, buscar um mesmo bairro para morar.
Contemplar as demandas desses novos compradores, lançando projetos com unidades para todos os tipos de potenciais compradores numa única região, será um dos grandes desafios do setor imobiliário pelos próximos anos.
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