Nos contos de fadas, o tal “felizes para sempre” dificilmente começa com o casal procurando um aluguel barato em um reino com um bom sistema de transporte público. Na vida real, porém, existem aspectos como inflação, crise econômica e especulação imobiliária que impulsionam esse movimento.
Não à toa, é comum ver jovens namorados saindo da casa dos pais para morar juntos e driblar a falta de grana. Foi neste cenário que os criadores de conteúdo Guilherme Ibanez, 31, e Otavio Lima, 28, fundadores do @vaicomguio, realizaram o sonho de dividir o mesmo teto. Juntos há sete anos, eles falavam de alugar uma casa desde os primeiros encontros. E não demorou para que isso acontecesse. “Depois do primeiro ano de namoro, resolvemos procurar apartamento”, diz Guilherme.
O amor motivava a mudança, mas não era a única justificativa para o movimento. Enquanto Guilherme dividia um quarto com a irmã na zona Leste e trabalhava na Vila Olímpia, na zona sul, Otávio dividia um quarto com o irmão no ABC, mas precisava ir diariamente ao escritório na Vila Madalena, zona oeste da cidade. “Quase não conseguíamos ficar juntos e, por sermos um casal LGBT, ainda precisávamos driblar a falta de receptividade em casa”, relata Otávio.
Entretanto, não basta apenas o desejo para que o sonho do apartamento compartilhado se torne realidade. É preciso ter um fiador, encontrar o imóvel ideal e se preparar para os imprevistos dessa jornada. Otávio já tinha economizado três meses de salário antes de iniciar a empreitada, mas nem sempre essa economia é suficiente. É necessário avaliar os custos para tomar a decisão.
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“O primeiro passo para decidir se o casal está financeiramente pronto para começar a morar junto, é fazer um levantamento das receitas e despesas de cada um, individualmente, e compreender se é possível fazer essa mudança”, avalia Júlia Abi-Sâmara, fundadora da “As Investidoras”, projeto de educação econômica e de investimentos.
De acordo com Júlia, depois de identificar os gastos que terão morando juntos, como aluguel, condomínio, reparos da casa e gastos com pets, é necessário pensar em como vão conseguir arcar com eles. “É essencial que ambos estejam confortáveis com a ideia de compartilhar algumas despesas e responsabilidades financeiras, e que, desde o começo, se estabeleça um diálogo respeitoso sobre finanças.”
Foi mais ou menos isso que Guilherme e Otávio fizeram quando decidiram morar juntos. Como recebiam salários diferentes, optaram por dividir as contas proporcionalmente. “Eu ganhava metade do salário do Guilherme, então ele pagava a maior parte das coisas. Como eu tinha vale-refeição e vale-alimentação, as contas de mercado eram comigo”, diz Otávio.
A solução tomada pelo casal é vista com bons olhos por Júlia. Essa é, aliás, uma das alternativas financeiras sugeridas pela economista. “Não existe uma regra que funcione para todos os casais, mas é necessário que ambos se sintam confortáveis com a decisão tomada.”
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Divisão de contas apresentadas pela economista:
– Cada um paga 50% das despesas, dividindo todos os gastos igualmente. Desta forma, se os gastos do casal somam R$10 mil no mês, cada um vai pagar R$ 5 mil. Esse método costuma funcionar com casais que possuem rendimentos semelhantes, mas pode gerar conflitos caso um dos parceiros tenha uma renda muito maior do que o outro.
– Dividir os gastos proporcionalmente à renda, de forma que cada um arque com um valor proporcional ao seu salário. Por exemplo, se um dos cônjuges ganha R$7 mil e seu parceiro ganha R$3 mil, a renda total da casa é a soma dos dois valores, R$10 mil. A renda de um representa 70% do total da casa, e a do parceiro, 30%. Logo, ao dividir as despesas, cada um irá se responsabilizar com a respectiva porcentagem.
De acordo com um estudo realizado pelo DataZAP+, a ideia de morar junto com o parceiro é a segunda maior motivação para a geração Z buscar imóveis para alugar ou comprar. A alternativa fica atrás apenas da possibilidade de morar sozinho para este grupo.
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