Notícias

Tarifas de Trump geram incertezas no mercado imobiliário brasileiro

Construtoras e economistas alertam para desafios de planejar negócios a longo prazo

Por:Breno Damascena 10/04/2025 4 minutos de leitura
Imprevisibilidade e risco de recessão preocupam mais do que encarecimento de insumos/ Crédito: Casa.da.Photo/AdobeStock

Publicidade

Poucos sentimentos geram tanta preocupação à economia quanto a incerteza. E é disso que o governo Donald Trump tem se alimentado nas últimas semanas. Em ondas, o presidente dos Estados Unidos avançou e recuou na implementação de novas taxas de exportação para diversos países, incluindo o Brasil. Enquanto isso, o mercado imobiliário nacional transpira para prever o impacto das medidas.

A jornada começou no dia 2 de abril, quando Trump comunicou taxas de 10% a 50% sobre 180 nações de todo o mundo. Diversos países retalharam as medidas, subindo tarifas de produtos norte-americanos importados.

Nesta quarta-feira, porém, o presidente voltou atrás e informou a redução para 10% nas taxas recíprocas a outros países pelo prazo de 90 dias. A única exceção será a tarifa cobrada da China, que saltou para 125% e com efeito imediato.

+ Trump pausa tarifas recíprocas por 90 dias, mas eleva para 125% taxação sobre a China

Publicidade

Enquanto as movimentações do presidente são anunciadas e revogadas pela rede social que o próprio Trump criou, diversos setores começam a se preparar para lidar com possíveis novas conjecturas. Mas este planejamento é complexo. 

“É difícil prever o cenário a longo prazo porque estamos falando de um presidente que não dá para antecipar o próximo passo. Tudo pode mudar”, comenta Daniel Ribeiro, CEO da G.D8 Incorporadora. “A curto prazo, a previsão é que o setor de construção civil seria totalmente impactado, desde estruturas até acabamentos”, afirma. 

Uma potencial taxação, ele acredita, geraria um excesso de oferta interna e a consequente diminuição de preços. “Essa desvalorização seria ainda mais pressionada pela oferta de produtos chineses que deve se espalhar pelo mundo para compensar a taxação americana”, indica o executivo.

Insumos, inflação e oportunidades

De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, os Estados Unidos foram responsáveis por comprar quase 40% da produção brasileira de aço e alumínio destinada ao exterior em 2024. Em contrapartida, Murillo André Mendonça, docente de pós-graduação no Centro Universitário Facens, também defende que o Brasil pode ser favorecido em insumos.

Publicidade

“Dependemos pouco de produtos americanos para a construção de unidades habitacionais no Brasil. Então, se houver reciprocidade, acredito que não teremos aumento no preço de insumos em um primeiro momento”, entende. A preocupação da construção civil, ele defende, deve se dar na inflação de outros itens.

A perspectiva é corroborada por Fábio Moraes, economista da E2+, que diz que é possível antever a influência em produtos como o alumínio e o aço. “Os EUA têm uma elevada dependência da compra de transformados de alumínio, com baixa capacidade de substituir esses produtos importados por produção local no curto prazo”, aponta. 

O economista Fábio Moraes indica que setores como a construção civil e a automotiva podem sofrer choques/ Crédito: Casa.da.Photo/AdobeStock

Nesse contexto, os produtores americanos de indústrias como a construção civil e a automotiva podem sofrer um choque relevante no custo desses insumos. “Ou o governo voltará a negociar cotas de importação para países parceiros”, afirma Moraes. 

Assim, as medidas protecionistas têm o potencial de gerar readequação de fluxos de comércio no mundo, enquanto os produtores nacionais de aço e alumínio podem passar a sofrer mais concorrência de produtos importados no mercado doméstico. 

Publicidade

“Produtos que antes iriam para os Estados Unidos e agora estão procurando novos mercados ou têm de redirecionar exportações que eram feitas para os Estados Unidos para o mercado local”, exemplifica. “Na teoria, o aumento da competição no mercado doméstico poderia gerar redução de custos para o setor da construção e imobiliário”.

Pouca clareza e economia insegura

Fábio acredita, porém, que os efeitos devem ser limitados, seja porque os Estados Unidos vão procurar alternativas para voltar a comprar estes produtos de outros países, seja porque o Brasil tem participação de importados relativamente baixa nestes mercados.

Ainda assim, o jogo do bate e volta das taxas de importação é capaz de desestruturar as expectativas da economia e aumentar os riscos dos EUA. “E uma resposta natural ao aumento dos riscos é a alta nas taxas de juros”, analisa Carlos Honorato, professor de economia da FIA Business School. “Numa tática de negociação pouco estratégica, Trump gera turbulência”, pontua. 

“Uma das teorias é que ele começou a fazer esse movimento com o objetivo de minimizar os custos da dívida americana, mas o resultado pode ser um aumento local de juros. E com os juros altos nos EUA, a perspectiva é de uma recessão global, inclusive impactando os juros no Brasil”, indica o economista. “Desta forma, o mercado imobiliário fica menos propício à venda de imóveis”. 

Publicidade

Analistas apontam que instabilidade geradas pelo governo podem resultar em baixo nível de confiança mundial/ Crédito: davide bonaldo/AdobeStock

Para Honorato, a falta de previsibilidade é o maior desafio deste embate entre os EUA e o restante do mundo. “Toda essa instabilidade que você tem na economia chega ao investidor e ao comprador, que podem preferir esperar um pouco mais antes de entrar numa roubada”, argumenta.

Segundo os especialistas, entretanto, ainda é cedo para dizer quais serão os impactos reais de uma eventual alta nas taxas de exportação dos EUA. Mas a preocupação é significativa. “Este diagnóstico é difícil justamente pela forma errática que o governo tem conduzido a questão”, acrescenta Fábio.

NEWSLETTER
IMÓVEIS

Inscreva-se e receba notícias atualizadas do mercado de imóveis

Notícias relacionadas

Imagem destacada

Caixa anuncia a redução da taxa de juros para compra da casa própria

3 minutos de leitura
Imagem destacada

O quebra-cabeça urbano das várias Lapas paulistanas

3 minutos de leitura
Imagem destacada

Brasileiros compram imóveis na Espanha de olho na valorização

3 minutos de leitura
Imagem destacada

Parque expõe novo Baixo Augusta, com menos comércio e mais prédios

3 minutos de leitura