CEO da WeWork na América Latina, ex-CEO da Uber e mãe de um menino, Claudia Woods acredita que flexibilidade é a palavra de ordem para o futuro do trabalho. Segundo ela, o movimento pode ajudar a melhorar os resultados e diminuir desigualdades do mercado. Em entrevista ao Estadão Imóveis, ela afirma que ouvir os colaboradores é a chave para definir um modelo a ser seguido.
Confira a entrevista completa:
No futuro, o foco será mapear o perfil das equipes para entender qual é o híbrido perfeito. E isso parte da ideia de entender qual é o fluxo perfeito de trabalho. Hoje, as empresas são resistentes a adotarem uma política de trabalho diferente para equipes diferentes, mas essa é uma demanda que precisa ser resolvida.
Acredito que a chave é a flexibilidade, porém este é um conceito amplo: pode ser em relação a horário, endereço ou dia da semana. Por exemplo: ao invés de pedir para a equipe ir duas vezes por semana ao escritório, por que não propor para a equipe se reunir duas vezes por semana, independentemente do lugar? Aí uma semana a gente se reúne perto da casa de um colaborador. Na semana seguinte, podemos nos reunir mais perto da casa do outro. Fica melhor para todos.
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Nós tivemos que nos reinventar durante a pandemia. Muitos dos nossos escritórios ficaram vazios da noite para o dia. Foi de onde surgiu a ideia de oferecer produtos flexíveis aos nossos clientes. Antigamente o nosso processo de vendas era simples: perguntávamos quantas pessoas a empresa tinha e oferecíamos a quantidade de espaço demandada. Hoje, com o trabalho remoto e híbrido, a conta é mais complexa. Tem empresas com colaboradores que vêm uma ou duas vezes na semana, outros que só aparecem para reuniões e alguns que vêm todos os dias. Sem contar as datas especiais, que toda a equipe precisa estar reunida junta.
Somos uma alternativa às empresas que estão com o escritório fechado, mas precisam de um QG para reunir a equipe em um período especial, como um e-commerce durante a Black Friday, por exemplo. Isso garante um espaço físico sem que a empresa tenha que pagar aluguel por lugares que serão subutilizados. O escritório vazio também causa um impacto negativo na cultura das empresas.
O tema engloba custos de retenção, atração de talentos e a política adotada pela empresa. Quando pensamos em espaço de trabalho, a discussão engloba custos, dificuldade de acesso, localização e transporte público. No entanto, existe um medo dos C-levels de que, sem escritório, a empresa possa perder a cultura. Como transformamos essa discussão política em uma discussão de propósito?
Por que eu vou ao escritório? Por que eu preciso me encontrar com as pessoas? Por que eu quero que os colaboradores estejam aqui? Como eu valorizo ao máximo esses encontros? Ninguém quer ir ao escritório para responder e-mail, pois é o tipo de coisa que dá para fazer à distância. Ainda que a ideia dos espaços de descompressão tenha saído de moda, os escritórios são ambientes de interação social.
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Os escritórios mudaram. A dinâmica dos espaços mudou, o layout mudou. Para tentar manter a cultura, muitas empresas estão pagando aluguel de andares inteiros em prédios importantes sem que os espaços estejam sendo utilizados. O mais recomendado é impulsionar essa retomada de forma segmentada. Observar como os colaboradores estão voltando, entender se eles estão satisfeitos e, aos poucos, aumentar o fluxo. Implementamos, aqui, o contrato flexível – que permite a inclusão de mais postos de trabalho adquiridos à medida que o tempo passa.
Olhando para a parte financeira, há ainda os custos que acabam escondidos para as empresas, como a o wi-fi, a segurança, a conta de luz e o estacionamento. Optar por um espaço flexível garante uma economia de 10% em comparação ao espaço tradicional.
A WeWork nasceu escolhendo as esquinas mais populares da cidade para se instalar. A ideia era “Sua empresa que tem 10 funcionários e quer trabalhar no melhor prédio da Faria Lima? Nós ajudamos”. Assim, nos instalamos nas regiões mais importantes economicamente de São Paulo. Agora a proposta de valor do anywhere office é outra. Se dois colaboradores que precisam se encontrar moram na zona norte e o escritório da empresa é na zona sul, por que eles precisam se deslocar até a zona sul? Basta encontrar um local na própria zona norte para a reunião.
O mesmo vale para os colaboradores que querem trabalhar de Florianópolis (SC), passar o ano novo em Trancoso (BA) ou viajar para Copacabana (RJ), mas o escritório é em São Paulo. Para atender essa demanda, fomos atrás de capilaridade. Abrimos uma rede para incluir nossos concorrentes dentro do nosso sistema de coworking e atender essas demandas. Para isso, é preciso deixar os estigmas para trás.
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Precisamos entender que existem três opções de local para trabalhar: os escritórios, nossa casa e uma terceira opção, que pode ser o coworking, a sala de hotel ou uma cafeteria. Trabalhar apenas de casa não necessariamente significa ter uma boa saúde mental, pois lá também existem muitas outras demandas causadoras de estresse e distração. Porém, pode-se dizer o mesmo do escritório que fica a uma hora e meia de distância da sua casa.
Por isso, oferecemos esse outro lugar, que não é o escritório e nem sua residência. Quando entendemos que as pessoas querem trabalhar de qualquer lugar, não necessariamente apenas de casa, lançamos o programa de vale-escritório, para que as empresas permitam que seus colaboradores possam escolher o local mais próximo de casa para exercer suas funções ou realizar reuniões de trabalho. Acredito que com esse tipo de flexibilidade você melhora a saúde mental do trabalhador e a vida nas cidades, retroalimentando a dinâmica de trânsito e até de valorização imobiliária.