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“Corretores ruins destroem a reputação do setor”, afirma Roberto Nascimento, ex-CEO do ZAP Imóveis

Roberto aponta crise no setor e indica modelo norte-americano de “personal broker” como potencial solução/ Crédito: Divulgação/PipeImob
Breno Damascena
11-01-2024 - Tempo de leitura: 4 minutos

O empreendedor Roberto Nascimento deu início a sua jornada no mercado imobiliário brasileiro ainda na era da internet discada. Desde o início dos anos 2000, ele participou de diversos empreendimentos no setor, como a criação do site de classificados de imóveis Planeta Imóvel, embrião do que se tornaria o ZAP Imóveis, e do marketplace de financiamento imobiliário Kzas, posteriormente comprado pela Creditas. 

Filho do dono de uma indústria de aço para construção civil, Nascimento acumula uma experiência de mais de 20 anos atuando com o propósito autodeclarado de tornar o setor mais tecnológico. Carregando o status de autoridade no tema, ele afirma que os sites de busca de imóveis estão estagnados, alerta para a formação de corretores pouco qualificados e critica as estratégias de vendas utilizadas por imobiliárias.

Há pouco mais de um ano, o empresário deu início a uma nova empreitada no setor: a PipeImob. A startup oferece uma plataforma que ajuda imobiliárias e corretores a gerenciar e organizar as burocracias relacionadas à venda de um imóvel. Na prática, o objetivo da companhia é facilitar o controle de fluxo, resolver questões jurídicas e integrar o processo. 

Nos últimos 12 meses, a PipeImob transacionou R$ 1,4 bilhão em Valor Geral de Vendas (VGV) e gerou R$ 35 milhões de comissões. A expectativa para 2024 é ultrapassar R$ 1 bilhão em volume de imóveis transacionados mensalmente. A estratégia de Roberto para alcançar esses resultados passa pela tentativa de melhorar a reputação do mercado imobiliário brasileiro. 

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1. Depois de tanto tempo atuando no setor, como você enxerga o momento atual de classificados digitais no Brasil? 

“O mercado imobiliário evoluiu muito nas últimas décadas. O problema é que os classificados digitais não acompanharam esse ritmo. Os portais especializados estão perdendo a relevância e a credibilidade. O consumidor não gosta da experiência de entrar nestes sites e permanecem apenas porque é melhor do que pegar um carro e sair na rua para ficar procurando placas por aí”. 

2. Na sua visão, o que marca esse cenário negativo? 

“Muitas imobiliárias recorrem a estratégias como adicionar imóveis com valores muito abaixo do mercado ou outras iscas semelhantes nestes portais para atrair clientes. Aí quando o potencial comprador entra em contato com o corretor, o profissional coloca a culpa no site. 

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Ele diz ‘o portal não atualizou, mas tenho outro imóvel parecido aqui’ e apresenta o imóvel que ele realmente estava interessado em comercializar. 

Enquanto isso, a mítica de sucesso para os classificados online que é baseada no número de anúncios disponibilizados nestes sites. Quanto maior o catálogo de imóveis disponíveis, melhor para a empresa. Qual, então, é o incentivo do portal para retirar aqueles anúncios irreais? Elas preferem não se indispor com as imobiliárias. Por isso, aos poucos, os compradores vão perdendo a confiança no portal”. 

3. Existe alguma solução para driblar este problema? 

“Nos Estados Unidos, o proprietário de um imóvel e o comprador contam com a figura do ‘personal broker’ para representá-lo. É um corretor de imóveis de confiança que se torna responsável pela jornada de compra ou venda daquele bem. 

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É por isso que lá não existem anúncios duplicados. Ao contrário do Brasil, onde é comum que vários corretores e imobiliárias anunciem um mesmo imóvel em vários sites e com descrições diferentes”. 

4. Por que isso não acontece por aqui? 

“A profissão de corretor de imóveis ainda está escorregando no Brasil. Muita gente entrou no mercado pela oportunidade de ter uma renda, não por vocação. A enxurrada de profissionais chegando significa a entrada, também, de muitos profissionais ruins. E a experiência ruim criada por estes corretores acaba respingando nos bons corretores e nos portais imobiliários, criando uma má reputação para todo o setor. 

É por isso que mesmo hoje, com tanto acesso à informação e tecnologia, os corretores atuam com base em indicação. Como você vai comprar o maior bem da sua vida sem confiar no vendedor? É um mercado que não tem ‘review’, como os aplicativos de carona, por exemplo. E é um dos que mais deveriam ter”.

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5. Depois das suas passagens pelo ZAP Imóveis e pelo Kzas, você continua atuando no mercado imobiliário, desta vez numa startup. Como essa empresa se relaciona com o cenário de descredibilização do setor? 

Nosso propósito é melhorar a reputação do mercado imobiliário. O corretor ruim deixa um rastro ruim e atrapalha aqueles que querem fazer a coisa certa. A PipeImob é uma plataforma em que corretores, imobiliárias e compradores conseguem acompanhar a gestão de vendas, aspectos jurídicos e financeiros do processo de transação de um imóvel. 

Ainda hoje essa é uma jornada antiquada, quase como se fazia 30 anos atrás. Ao invés do Whatsapp e do Excel para registrar as informações, propomos uma estrutura onde o consumidor tem visibilidade e acompanha a validação dos quase 40 documentos que precisam ser validados depois da compra de uma propriedade”.