[OPINIÃO] Reforma tributária na construção civil como uma janela de oportunidade
Cristiano Gregorius é diretor executivo do Ecossistema Sienge

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A construção civil está no epicentro de uma das maiores transformações tributárias da história recente do Brasil. Mais do que uma mudança técnica, a Reforma Tributária representa o verdadeiro gatilho da tempestade perfeita. Não apenas por questões normativas, mas porque ela coincide com diversos desafios históricos da indústria da construção: o apagão de mão de obra, o envelhecimento dos canteiros, a migração de trabalhadores para outros segmentos e a necessidade urgente de reestruturar a forma como produzimos.
Ao mesmo tempo, há uma oportunidade real: a transição para modelos produtivos híbridos, com mais processos industriais, ambientes de fábrica e sistemas construtivos offsite. Soluções que, até então, eram pouco viáveis economicamente, em parte devido à complexidade tributária.
O chamado “ano-teste”, que inicia em janeiro de 2026, trará a implementação inicial dos novos tributos IBS e CBS. Juntos, substituirão gradualmente os principais tributos sobre o consumo nas esferas federal, estadual e municipal. O modelo se baseia na não cumulatividade, com tributação apenas sobre o valor agregado em cada etapa da cadeia.
Para o setor da construção civil, essa lógica representa uma verdadeira ruptura: será necessário revisar modelos de gestão, reorganizar processos e garantir o controle preciso de todos os insumos, contratos e operações, a fim de aproveitar os créditos tributários corretamente. A ausência de um controle estruturado pode comprometer a viabilidade de projetos inteiros.
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Um dos principais objetivos da reforma tributária é encerrar a chamada “guerra fiscal” entre estados. Isso acaba acontecendo devido à disputa criada pela lógica atual de cobrar impostos na origem, que levou a uma competição desequilibrada por incentivos. Com a mudança para a cobrança no destino, a expectativa é de maior equilíbrio e previsibilidade jurídica para empresas em todo o país.
No entanto, isso exigirá mudanças culturais profundas. Nosso setor, historicamente habituado a regimes simplificados, terá que lidar com uma nova realidade: mais técnica, mais detalhada e muito mais transparente. Apesar dos avanços, encontramos muitas construtoras e incorporadoras brasileiras com baixa maturidade digital, concentrando sua gestão em arquivos descentralizados e com pouca, ou nenhuma, integração entre as etapas da cadeia. Essa prática tende a se tornar insustentável diante da nova complexidade.
Esse movimento exige mais do que tecnologia e sistemas. Demanda também uma mudança de mentalidade. A capacitação das equipes será um fator crítico de sucesso. Todos os departamentos: fiscal, financeiro, jurídico, compras e até o comercial, precisarão compreender os impactos da nova tributação sobre seus projetos e suas operações. A reforma não pode ser tratada apenas como um tema técnico; ela é estratégica e deve fazer parte da agenda de toda a liderança. Conhecer profundamente a cadeia de suprimentos, os contratos, os insumos, bem como os modelos de operação será essencial para navegar nessa nova fase.
Estamos diante de uma mudança de paradigma. A Reforma Tributária será um tema recorrente até, pelo menos, 2033. Por isso, o período de testes de 2026 não pode ser desperdiçado: será a oportunidade para errar, corrigir, testar e amadurecer as práticas que garantirão a competitividade futura. Ter consciência fiscal, domínio de dados e uma visão integrada do negócio será obrigatório. A transparência trazida pelo novo modelo, embora represente desafios, pode gerar ganhos estruturais para o setor e contribuir para o desenvolvimento econômico do país como um todo.
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A interseção entre construção, incorporação e manufatura se torna cada vez mais evidente. Há espaço para uma renovação do setor, com novas empresas, produtos e frentes de trabalho. A Reforma Tributária pode, e deve ser o gatilho para esse salto evolutivo.
A janela está aberta. O tempo é curto. E, quem sair na frente, com organização, preparo e visão estratégica, colherá os melhores frutos dessa tempestade perfeita.
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