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OPINIÃO: Casamento lavanda é resposta à alta dos juros e à escassez de crédito imobiliário

Elisa Rosenthal é diretora-presidente do Instituto Mulheres no Imobiliário

Por:Elisa Rosenthal 03/05/2025 3 minutos de leitura

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Diante da escalada das taxas de juros e da oferta mais restrita de crédito imobiliário, uma tendência antiga ressurge, agora sob um novo olhar: o casamento lavanda. Popularizado nos anos 1920 e 1930 como união entre pessoas LGBTQ+ para preservar aparências sociais em tempos de repressão, o conceito foi ressignificado pelas novas gerações. 

Especialmente a Geração Z, que tem impulsionado o uso da hashtag #lavendermarriage nas redes sociais, o termo hoje representa uma parceria platônica e estratégica entre duas pessoas que dividem o mesmo teto para alcançar objetivos de vida — inclusive a conquista da casa própria.

O movimento, que mistura pragmatismo financeiro e novas formas de convivência, reflete mudanças profundas nas relações interpessoais e nas estratégias de consumo de patrimônio. A dificuldade de acesso ao crédito, o aumento expressivo no valor das parcelas de financiamento e a elevação dos preços dos imóveis nos grandes centros urbanos criaram o cenário perfeito para que a colaboração financeira se tornasse uma necessidade — e não apenas uma escolha.

Neste novo formato, amizade e confiança substituem o romance tradicional. Em vez de casamento pautado por questões afetivas ou sociais, surgem acordos baseados em estabilidade financeira, planejamento de longo prazo e divisão de responsabilidades. 

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No mercado imobiliário, essa tendência ganha força especialmente pela possibilidade de utilizar a composição de renda como ferramenta para viabilizar o financiamento.

A composição de renda permite que duas ou mais pessoas somem seus salários para aumentar o poder de compra, conquistar taxas mais competitivas e, em muitos casos, acessar imóveis de maior valor ou melhor localização. Além disso, possibilita o uso conjunto do FGTS para a entrada ou amortização de parcelas — um diferencial importante em tempos de crédito mais caro.

Essa movimentação é uma resposta natural às condições de mercado: enquanto a taxa básica de juros, SELIC, mantém projeção de aumento, com algumas projeções ultrapassando os 15%, o volume de concessão de crédito deve recuar em cerca de 20%, segundo dados da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança). 

A dificuldade em financiar individualmente tornou a colaboração uma estratégia pragmática — e, para muitos, a única possível.

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Vale destacar que, embora o casamento lavanda na sua versão contemporânea seja mais visível entre jovens adultos e solteiros, a lógica da parceria estratégica tem se expandido também para familiares e amigos próximos que buscam alternativas de moradia estável e aquisição de patrimônio. A segurança emocional, a divisão de custos e a possibilidade de construir um ativo a longo prazo tornam esse modelo cada vez mais atraente.

O casamento lavanda atual quebra paradigmas sobre o que é um lar e redefine as bases sobre as quais se constrói um projeto de vida. Em um mercado cada vez mais pressionado por custos e incertezas, pensar em novos arranjos financeiros — e afetivos — pode ser a diferença entre adiar sonhos ou concretizá-los.

Assim como o mercado precisou se adaptar a novos perfis familiares nas últimas décadas, a ascensão dessas parcerias estratégicas aponta para uma necessidade de atualização: empreendimentos, linhas de financiamento e políticas públicas terão de considerar arranjos diversos para garantir que a casa própria continue sendo um objetivo possível para as próximas gerações.

Porque, no final, a essência continua a mesma: todo mundo busca um lugar para chamar de seu. Mesmo que o caminho para isso hoje passe, mais do que nunca, pela solidariedade e pela estratégia.

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