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Casais: tempo de qualidade… o tempo todo?

Como persistir quando seu cônjuge ocupa as funções de colega de trabalho, companheiro de academia e parceiro na vida

Por: Ronda Kaysen, do The New York Times 15/04/2020 5 minutos de leitura
Manter uma distância relativa e lançar um olhar generoso sobre o parceiro pode fazer a relação crescer na dificuldade do isolamento/ Crédito: Trisha Krauss

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Até algumas semanas atrás, Jo Cipolla não fazia ideia de que era casada com um marcapasso, o tipo de trabalhador de escritório que se desloca de um lado para outro na sala durante ligações comerciais, gritando com seus AirPods. “Ele é uma pessoa de fala mansa, mas quando é sobre negócios, deixa de ser”, conta ela, que agora passa quase 24 horas por dia se escondendo da pandemia do novo coronavírus dentro do apartamento de 74 metros quadrados em Murray Hill, espaço que divide com Luke Rossiter, seu marido, há cinco anos.

Rossiter, 32, trabalha com finanças em um escritório em Connecticut, atrás de uma porta trancada por onde ele pode andar em paz. Já Cipolla, 32, costumava trabalhar de um escritório em Midtown, porque é diretora de marketing da SquareFoot, uma empresa imobiliária comercial.

Agora, como milhões de casais em todo o país e no mundo, eles estão passando mais tempo juntos do que nunca, em locais apertados e sob circunstâncias estressantes. Durante a primeira semana, eles trabalharam lado a lado na sala de estar, com Cipolla tentando ignorar as interrupções constantes. “Foi muito perturbador ver essa pessoa andando por aí”, diz ela. Na segunda semana, ele se retirou para o quarto.

Nossas salas de estar se tornaram cubículos de escritório e a pessoa com quem você pode ter compartilhado votos se transformou da noite para o dia no colega irritante que mastiga chiclete e bate na mesa enquanto pensa. De repente, seu parceiro de vida é também o colega de escritório que pode, digamos, invadir uma chamada de videoconferência de cueca, um incidente infeliz recentemente imortalizado no Twitter.

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No TikTok, a febre conjugal se traduz em vídeos de parceiros entediados que começam a dançar ou cantar para chamar a atenção de quem amam muito. Em tempos normais, os casais se casam para a vida toda, não para o almoço. Mas nesta nova realidade, onde a coabitação é uma constante, as pessoas estão aprendendo mais sobre sua cara-metade – como vivem, trabalham e lidam com o estresse existencial – do que jamais desejaram saber. “São anos de desenvolvimento conjugal em semanas ou meses”, afirma Ada Calhoun, autora do livro “Brindes de casamento que nunca farei”.

Redescobrindo as virtudes um do outro

Toda essa autodescoberta de relacionamentos durante o isolamento é especialmente intensa para os nova-iorquinos que precisam encontrar maneiras de transformar seus minúsculos apartamentos em escritórios abertos, academias domésticas e retiros aconchegantes. Mas existem potenciais vantagens, como descobrir que seu parceiro é um criador de máscaras engenhoso. Isso seria um novo motivo para apreciar sua astúcia.

“Essa é a lição de ouro dessa crise: você aprende muito mais sobre quem é seu companheiro como ser humano”, reflete Julie Schwartz Gottman, psicóloga e presidente do Instituto Gottman, que ajuda casais a construir e manter relacionamentos saudáveis. “Você conhece diferentes lados do seu parceiro. São facetas que brilham como um diamante.”

Cipolla, por exemplo, aprendeu que ela e o marido têm mais em comum profissionalmente do que ela pensava. Ele trabalha em capital de risco. Ela trabalha para uma startup. As ligações dele a distraíam não apenas porque eram altas, mas porque eram interessantes. Depois que Rossiter mudou seu escritório para o quarto e os dois tiveram uma pequena distância diurna, Cipolla se viu buscando seu conselho profissional e conversando mais sobre trabalho no final do dia.

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Uma pequena distância, mesmo em locais apertados, faz diferença. Faith Roberson, organizadora de lares em Manhattan, disse que os casais devem criar “a ilusão do espaço”, mesmo que não tenham muito a perder. Escolha um local e reivindique-o como seu, com uma estação de trabalho dedicada e seu próprio material de escritório. “Muitas vezes as pessoas são territoriais sem nem perceber que são.” Se você precisar trabalhar em uma sala compartilhada, trate-a como um escritório com um piso plano aberto. Defina um quarto ou um armário para chamadas de trabalho e agende horários para usar a sala de conferências.

Como em muitas situações difíceis na vida, um inimigo compartilhado também ajuda. “Invente um assistente de escritório a quem culpar” quando canetas ou carregadores desaparecerem, sugere Clea Shearer, coproprietária do The Home Edit, um organizador doméstico de Nashville. Molly Tolsky, escritora, fez uma sugestão semelhante em um Tweet viral, dizendo aos seguidores: “Em nosso apartamento, Cheryl continua deixando seus copos sujos por todo o lado e não sabemos mais o que fazer.”

Quando vocês passam todos os momentos de vigília (e dormindo) juntos, podem concordar em tomar decisões que, em circunstâncias normais, não seriam aceitáveis. Cerca de uma semana atrás, Pierre Forien, 33, um ávido alpinista, instalou um hangboard (aparelho usado para aumentar a força das mãos e dos dedos) acima da porta do banheiro e uma barra sobre a porta do quarto no apartamento localizado no Lower East Side, que ele compartilha com sua esposa, Tess Alpern, 30.

“Eu nunca concordei formalmente com isso”, confessa Alpern, professora do jardim de infância que transformou sua sala de estar em uma sala de aula virtual com um quadro branco gigante. Mas agora que as viagens diárias às 4 horas da manhã do Sr. Forien para a academia estão num hiato, ela cedeu. “Logo quando nos mudamos, ele comprou esse hangboard e eu fiquei tipo ‘de jeito nenhum!’ Mas sei que ele precisa disso para se manter são.”

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Na maior parte, Alpern vê a si mesma, e não a seu marido, como a companhia mais desafiadora. Ela passa os dias conversando com colegas e estudantes por meio de bate-papo por vídeo, enquanto Forien, parceiro da Wünder Creamery, uma empresa de laticínios especiais, trabalha silenciosamente em seu quarto.

Alpern, que se descreve como “uma pessoa muito faladora e emotiva”, descobriu que o estoicismo silencioso de seu marido é uma salvação inesperada em tempos de turbulência. “O fato de ele ser muito estável, confiável e pragmático é provavelmente o que nos fará passar por isso. Não sei como sobreviveríamos se ele estivesse tão frenético e assustado quanto eu.”

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