São Paulo

Parque Augusta: Como está o local um ano após a inauguração?

Número de visitantes ultrapassou marca de 1,6 milhão; espaço virou ponto de encontro de moradores também de outras regiões da cidade

Por: Priscila Mengue, O Estado de S. Paulo 08/11/2022 9 minutos de leitura
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Segundo levantamento da Prefeitura, um decreto municipal de 1973 determinou a proteção do bosque e ocupação máxima de 25% do total do terreno/ Crédito: Felipe Rau/Estadão

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O Parque Augusta completa um ano neste domingo, 6, após ultrapassar a marca de 1,6 milhão de frequentadores. Do gramado com status de “prainha” à arquibancada-plateia para artistas de rua, o espaço no centro de São Paulo se consolidou como um “point” tanto para moradores de diferentes regiões da cidade quanto para atividades propostas pela vizinhança, de ponto de paquera a rodas de meditação.

“Todo mundo quer conhecer, o que é bastante significativo para um espaço de 23 mil m²”, comenta o gestor do parque, Heraldo Guiaro, de 63 anos. Em 2022, o espaço atraiu um público mais de cinco vezes superior ao do vizinho Parque Buenos Aires, de dimensões semelhantes (18,7 mil m²), e equivalente ao do Parque Aclimação (de 112,2 m²), ambos também na região central, segundo dados da Prefeitura.

Antes gestor do Parque do Ibirapuera, Guiaro percebe algumas semelhanças na relação afetiva do público com os dois espaços, apesar das diferenças de porte. “O pessoal falava do Ibirapuera como um amigo, e acho que o Augusta está indo para esse caminho”, compara. Ele cita o caso de uma criança de 5 anos que desenhou o parque como o quintal da escola, localizada no entorno.

O Parque Augusta completa um ano neste domingo, 6, após ultrapassar a marca de 1,6 milhão de frequentadores Foto: TIAGO QUEIROZ / TIAGO QUEIROZ

O administrador comenta que o parque chega a atrair cerca de 20 mil pessoas nos domingos, grande parte dispostas no gramado, em banhos de sol, piqueniques e grupos de amigos. Além disso, atividades culturais, esportivas e voltadas ao bem-estar são realizadas junto à arquibancada e em outras pontos. Todas são voluntárias e, em parte, oferecidas pela própria vizinhança.

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Nas redes sociais, espalham-se retratos e fotos de grupos dispostos na “prainha” (gramado) nos fins de semana, por vezes com trajes de banho. O clima democrático e de diversidade costuma ser citado por frequentadores, que dizem se sentir mais à vontade no Augusta do que em outros parques, principalmente no caso de mulheres e da comunidade LGBT+.

Entre os que não moram tão perto, alguns emendam passeios a outros espaços do entorno, como barzinhos, festas e restaurantes do Baixo Augusta, da Vila Buarque e da Praça Roosevelt. Por outro lado, novos edifícios se multiplicaram pelo entorno nos últimos anos, atraindo novos moradores e turistas e mudando a característica do fluxo nas calçadas, com menos comércios. O funcionamento é das 5 às 21 horas.

“A gente estende uma canga no chão, senta, conversa, às vezes bebe um pouquinho. Geralmente vou para encontrar amigos ou em um “date” (encontro)”, descreve o estudante Merques Rodrigues de Lima, de 21 anos. Morador da Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte, conta que o Augusta se tornou o parque que visita com mais frequência, cerca de uma vez ao mês. “É confortável, tem um espacinho para tomar sol. Além disso, um parque bem voltado para o público LGBT, então a comunidade geralmente se junta lá.”

Do gramado com status de “prainha” à arquibancada-plateia
para artistas de rua, o espaço no centro de São Paulo se
consolidou como um “point”. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Vizinha do parque, a maquiadora Vitória Ribeiro, de 27 anos, costuma ir com um colega de apartamento para relaxar e “pegar uma corzinha”. “Vou porque é perto e podemos colocar biquíni, para tomar um banho de sol”, comenta. “A gente fica lá, conversando, tira bastante foto, depois posta na rede social. Meus amigos gostam de ficar paquerando…”

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Já o arquiteto Julio Dantès, de 57 anos, frequenta o parque principalmente para realizar atividades físicas. Embora more mais perto da Avenida Paulista, opta por ir até o Parque Augusta. “Por ordens médicas, preciso caminhar todos os dias. Mandaram escolher um lugar que gostasse”, explica. “Acho gostoso o local, acho ‘mó’ barato o pessoal tomando sol na grama, me sinto em Nova Iorque, no Central Park.”

Professor da Mackenzie, o urbanista Matheus Casimiro comenta que o Augusta é um parque com peculiaridades que ajudam a explicar a alta procura. Uma delas é que tornou conhecido antes mesmo da abertura, pela ampla repercussão dos movimentos pela implantação. Outra é se tratar de um dos poucos parques criados na região central nas últimas décadas. “O centro tem muitas praças, mas quase não tem parque. Era uma demanda reprimida.”

Além disso, o parque está localizado nas proximidades de estações de metrô e corredores de ônibus, o que facilita o acesso, e de espaços públicos populares na cidade, como o Baixo Augusta, a Praça Roosevelt e o Minhocão. ”É uma potência que o Parque Buenos Aires, por exemplo, não tem. As ruas são muito locais (com fluxo predominante de moradores, com exceção da Avenida Angélica)”. compara.

Ativista pela criação do parque e parte do conselho gestor, o produtor cultural Sérgio Carrera, de 63 anos, avalia que o espaço ganhou o perfil que idealizava. “Achei surpreendente. Foi naturalmente estabelecendo a atmosfera, o clima, que a gente queria, das pessoas assumindo o Parque Augusta como praia do paulistano. Ficou parecendo esses parques da Europa, em que as pessoas vão e se jogam.”

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Ele lamenta alguns conflitos com vizinhos, por barulho, e que parte dos frequentadores não cuidem do parque suficientemente, mas que, no geral, o resultado positivamente “mudou o astral” da região. Além disso, parte da mobilização pela criação do parque segue participativa, seja no conselho gestor, seja em atividades voluntários. Carrera, por exemplo, organizou a exposição “Educação”, lançada na sexta-feira, 4.

A mostra fica na Casa das Araras, uma das construções tombadas localizadas dentro do parque, e permanecerá durante todo o mês de novembro. Com curadoria do sociólogo Rafael Balseiro Zin, reúne imagens, textos e instalações para propor reflexões sobre propostas de personalidades da Educação, como Paulo Freire, e o próprio Parque Augusta. Há, ainda, a Barca do Saber, para a troca de livros. “É um estímulo, uma provocação”, resume Carrera.

Em 2022, o espaço atraiu um público mais de cinco vezes
superior ao do vizinho Parque Buenos Aires, de dimensões
semelhantes (18,7 mil m²). Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A educadora Hajla Shanti, de 47 anos, também decidiu implantar uma atividade voluntária no parque, com aulas de ioga nas quartas-feiras, às 7h30. Com um estúdio na vizinhança, ela conta que alguns participantes inicialmente estranhavam a prática em meio de uma área tão urbanizada, latidos de cachorro e barulho de obra, mas destaca que se trata de “ioga de verdade”. “O mundo não para. A prática é se concentrar em você.”

A professora explica que a prática ao ar livre permite diferentes estímulos, como o contato com a grama, o sol, o vento e as árvores. “É uma experiência única para quem mora nos centros”, avalia. Também aponta a troca de experiências propiciada ao reunir participantes de diferentes faixas etárias, dos anos 20 aos mais de 70 anos.

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As aulas recebem uma média de 20 a 30 pessoas semanalmente, mediante inscrição pela internet (em instagram.com/yoga_humanidade/). Segundo Hajla, a doação de alimento não perecível, roupa ou livro é sugerida, mas não obrigatória.

O Augusta também foi escolhido para os encontros mensais do grupo de tai chi chuan e zazen (meditação) que a professora Paula Faro, de 45 anos, organiza em conjunto com a monja Wahō Degenszajn. Antes, as atividades eram itinerantes, em diferentes espaços abertos, mas parte do grupo participou anos atrás de uma intervenção durante o movimento pela abertura do parque.

“O espaço mais aberto, as pessoas se conectam mais. Tem muita interação com as pessoas que estão no parque, de pessoas que se juntam, rola uma troca”, comenta Paula. Em comparação, diz que, no Parque do Ibirapuera, por exemplo, pelas características, separado por nichos, o grupo acaba ficando mais isolado.

Trajetória do parque começou há décadas; boulevard ainda não foi implantado

A trajetória da transformação dos terrenos que compõem o Parque Augusta em um local de uso público começou há mais de 50 anos. Um levantamento da Prefeitura identificou uma declaração de utilidade pública para parte do espaço nos anos 1970, sucedida por um decreto que garantiu a proteção do bosque e a fruição pública. Em 1989, outro decreto considerou as árvores daquele entorno como patrimônio ambiental estadual.

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Segundo levantamento da Prefeitura, um decreto municipal de 1973 determinou a proteção do bosque e ocupação máxima de 25% do total do terreno. Em 1989, a área foi declarada patrimônio ambiental em um novo decreto, estadual. Já em 2002, a instalação do Parque Augusta foi determinada no Plano Diretor, reconhecimento que ganhou uma lei própria um ano depois.

Mais adiante, em 2002, o bosque e árvores vizinhas foram tombados como parte dos remanescentes do antigo colégio feminino Des Oiseaux, que funcionou no local de 1908 a 1967 e mantinha caminhos contemplativos (mantidos no projeto do parque) em meio à vegetação. No mesmo ano, a implantação do parque foi determinada no Plano Diretor, reconhecimento que ganhou uma lei própria um ano depois.

Nas décadas mais recentes, um movimento pela criação do parque ganhou força. Após o fechamento das escolas que existiam no local, foi utilizado como estacionamento, além de abrigar atividades diversas e ter sido cogitado para empreendimentos habitacionais e comerciais.

Em 2018, a Prefeitura fez um acordo com as construtoras proprietárias para a implantação do parque, por R$ 11 milhões, e, no ano seguinte, firmou o termo de transferência. As empresas ganharam créditos para erguer prédios acima do limite básico em outras áreas da cidade sem a necessidade de pagar taxa adicional.

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O boulevard que integra o acordo de implantação ainda não saiu do papel. A proposta é que ligue o Parque Augusta à Praça Roosevelt pela Rua Gravataí. Segundo nota da Prefeitura desta sexta-feira, 4, o valor de R$ 250 mil foi depositado pelas construtoras e a gestão Ricardo Nunes (MDB) está “em tratativas com condomínios da região para dar início à execução”.

A obra envolverá basicamente a reforma de calçadas e a implantação de paisagismo. O projeto não tem relação com o mirante que a Prefeitura pretende implantar na Rua Augusta, em frente à Praça Roosevelt, com vista para a Ligação Leste-Oeste.

Confira destaques da programação cultural do Parque Augusta:

6 de Novembro

Apresentação do espetáculo “A Bolha da Liberdade”, com grupo circense holandês Corpus Acrobatics, como parte da programação da Virada Sustentável. Às 16h30. No Parque Augusta (entradas pela Rua Augusta, 344 e Rua Caio Prado, 230/232 – distrito Consolação). Grátis.

12 de Novembro

Duo de artistas VJ Suave projeta animações que misturam tecnologia e arte urbana, como parte da programação da Virada Sustentável. Às 16h. No Parque Augusta (entradas pela Rua Augusta, 344 e Rua Caio Prado, 230/232 – distrito Consolação).
Grátis.

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13 de Novembro

Apresentação instrumental “Pic Nic Lounge”, com sons da natureza e convite para participação do público em um piquenique colaborativo, como parte da programação da Virada Sustentável. Das 14h às 18h. No Parque Augusta (entradas pela Rua Augusta, 344 e Rua Caio Prado, 230/232 – distrito Consolação). Grátis.

Este texto foi publicado em:
https://www.estadao.com.br/sao-paulo/como-esta-o-local-um-ano-apos-a-inauguracao/

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