Uma medida inédita da Prefeitura de São Paulo para o carnaval de 2023 vetou o cadastro de novos blocos de rua nas subprefeituras Sé, Pinheiros, Lapa e Vila Mariana, que concentram mais da metade dos desfiles da cidade, alguns com centenas de milhares de foliões. A nova restrição e a busca por circuitos menos aglomerados têm levados agremiações a outros distritos do entorno do centro expandido, como Butantã (zona oeste) Santana, Casa Verde (ambos na zona norte) e Ipiranga (zona sul).
O Bloco Emo está entre os que decidiram sair da região central. “A zona norte acaba sendo menos escolhida pelos blocos do que os outros lugares. E, para a gente, é legal tentar desfilar sozinho na avenida”, diz o produtor cultural Alexandre Cavalcanti, de 35 anos, fundador da agremiação. Em outros carnavais, o bloco chegou a ser o quarto a desfilar na Avenida Tiradentes no mesmo dia. Desta vez, estará sozinho na segunda-feira de carnaval, 20.
Com o veto à Tiradentes neste carnaval, o grupo poderia tentar outro trajeto no centro, mas optou pela Av. Luiz Dumont Villares, nas imediações da Estação de Metrô Parada Inglesa. “É uma avenida larga e com facilidade de acesso. Optamos pela geografia do lugar”, diz Cavalcanti. “Mas não posso dizer que estou me ‘afastando’ do centro, porque é uma região super centralizada ainda.” A expectativa é atrair de 50 mil a 100 mil pessoas.
Na avaliação dele, a organização e realização do desfile no centro ou na Vila Madalena causariam maior “desgaste”. A mudança para o distrito de Santana permite atrair um público mais restrito a moradores do entorno e frequentadores do bloco – que é temático de rock (principalmente emocore) –, diferentemente do que ocorre nos circuitos mais visados, que atraem foliões por serem referência em carnaval de rua em, e não apenas por desfiles específicos.
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Como o Estadão mostrou em 2020, com o “boom” do carnaval paulistano, parte dos blocos têm adotado estratégias variadas para evitar um grande público, como mudar o trajetos e restringir a divulgação da data e do horário dos desfiles. A ideia é garantir um público mais reduzido, sem aperto, ocorrências significativas e atraente para pessoas de todas as idades. A estimativa da gestão Ricardo Nunes (MDB) é ultrapassar os 15 milhões de foliões do último carnaval oficial.
Somadas, as subprefeituras Sé (121 desfiles), Pinheiros (74), Lapa (47), Vila Mariana (32) representam 53,6% da programação do carnaval. Na sequência, as mais visadas neste ano são Butantã (24), Santana (21), Freguesia do Ó (18), Ipiranga (18), Santo Amaro (17), Mooca (16), Casa Verde (15) e M’Boi Mirim (15).
A limitação a novos blocos em quatro subprefeituras amplia uma regra que começou a ser implementada em 2020, para o fim de semana de pré-carnaval. Em 2023, a restrição não afetou a todos os estreantes. Segundo a Prefeitura, a regra não incide nas agremiações que já tinham cadastro prévio na subprefeitura, como as que se inscreveram no carnaval de rua do ano passado, suspenso por causa da covid-19.
Também na zona norte, o estreante Benjores optou por desfilar no Bairro do Limão, na subprefeitura Casa Verde. Um dos fundadores do bloco, o bancário Bruno Carino, de 39 anos, conta que o trajeto foi escolhido porque é próximo da região central. “Fica no meio do caminho para todos”, aponta.
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A agremiação – que homenageia Jorge Ben Jor – tem a expectativa de atrair cerca de mil foliões. Pela localização, Carino avalia que seja mais fácil se manter de menor porte. “Grande é legal também, é divertido. Mas o pequeno é mais charmoso. A gente se diverte mais com os amigos, os familiares, as crianças. Todo mundo sentia falta de ter isso, essa coisa mais nossa.”
Já o Cordão dos Trapezistas vai estrear no distrito Morumbi, na subprefeitura do Butantã. “Acho que estava bem saturado nessas subprefeituras que não pode mais. Por sorte, a gente já queria na nossa subprefeitura”, conta o tabelião Reinaldo Velloso dos Santos, de 47 anos, coordenador do bloco – que mistura rock nacional e circo.
A ideia é atrair um público mais local, de moradores do entorno, amigos e frequentadores da escola de circo dos fundadores do bloco, a Trapézio Voador. Santos comenta que um bloco com esse perfil circense não seria viável em um circuito que atrai multidões, pois a ideia é aproximar o folião dos artistas, e também exigiria um maior investimento em infraestrutura e mão de obra, para trio elétrico, cordeiros (que seguram a corda de isolamento) e outras exigências.
Embora a maioria dos desfiles siga concentrada em quatro subprefeituras, o prefeito Ricardo Nunes tem afirmado que o carnaval de rua está se tornando mais “descentralizado”. Em coletiva de imprensa na quinta-feira, 2, chegou a citar a experiência que teve de participar da fundação de um dos nove grupos que desfilam na subprefeitura de Capela do Socorro, na zona sul, o Bloco Carnavalesco Atrás do Copo, em 2012.
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Na mesma coletiva, a secretária municipal de Cultura, Aline Torres, disse que o edital de premiação de até 300 blocos lançado em novembro passado é destinado a fomentar a descentralização e blocos periféricos, além dos mais tradicionais. A liberação do recurso, de R$ 14 mil por agremiação, atrasou por problemas no sistema de inscrição e, segundo a gestora, deve ocorrer nesta quinzena.
“Estamos pensando nos blocos mais periféricos e com menos visibilidade de patrocínio”, garantiu a secretária. O atraso gerou insatisfação por parte dos inscritos. Pela primeira vez desde a liberação oficial do carnaval de rua, em 2013, o número de desfiles autorizados teve uma queda, de quase 25%.
Para José Cury, coordenador do Fórum Aberto dos Blocos de Carnaval São Paulo, as medidas tomadas pela Prefeitura não são suficientes para uma efetividade maior na descentralização, ainda mais com o atraso na liberação do fomento. Ele concorda que alguns pontos da cidade estão sobrecarregados e que as restrições poderiam em parte desafogar os bairros com maior público, desde que válidas para todos os estreantes.
“É importante descentralizar. O que faz o garoto da periferia gastar R$ 20 de condução para ir até o bloco? Se a Prefeitura fomentar um bloco grande para sair na zona leste naquele dia ninguém vai sair de lá”, compara. Ele diz que os blocos menores saem “na raça”, ainda mais porque parte dos patrocinadores prefere apoiar desfiles em locais de maior visibilidade e há um custo de infraestrutura e mão de obra para realizar os desfiles.
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Cordão dos Trapezistas: dia 11 (sábado), das 11h às 16h, saída da R. Calíope, 109, na subprefeitura Butantã.
Gal ToTal: 12 de fevereiro (domingo), com concentração a partir das 12h, na Praça Elis Regina, no distrito Butantã, na zona oeste.
Bloco Carnavalesco Atrás do Copo: dia 12 (domingo), das 14h às 19h, na Dr. Rui Rodrigues Doria, na subprefeitura Capela do Socorro.
Carnavrah: 18 de fevereiro (sábado), às 9h, com saída da Avenida Vital Brasil, 74, no Butantã, na zona oeste.
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Me Viram no Ipiranga: 18 de fevereiro (sábado), às 10h, com saída da esquina das Ruas Bom Pastor e Patriotas, no distrito Ipiranga, na zona sul.
Bloco Emo: dia 20, das 13h às 18h, saída da Av. Luiz Dumont Villares, 1.501, na subprefeitura Santana/Tucuruvi.
Benjores: dia 20 (segunda-feira), das 13h às 18h, saída da R. Miguel Nelson Bechara, na subprefeitura Casa Verde.
Texto completo publicado aqui:
https://www.estadao.com.br/sao-paulo/2023-em-sp-centro-e-pinheiros-vetam-novos-blocos-quais-outros-bairros-tem-mais-desfiles/
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