O que as pessoas esperam das cidades em que querem morar? Essa foi a pergunta que especialistas do setor imobiliário tentaram responder durante uma plenária no Conecta Imobi. Entre as respostas, destacam-se a busca pelo home office e a cidade de 15 minutos – modelo defendido por urbanistas em que é possível acessar qualquer serviço e até chegar ao trabalho em menos de 15 minutos.
“Quando você pensa na vida útil de um prédio, temos a consciência de que ele vai durar 200 anos, mas as demandas do que nós procuramos para moradia mudam o tempo todo”, afirma Isadora Rebouças, CEO da Citas, empresa especializada na realização de retrofits para locação de apartamentos no centro de São Paulo. “E essas transformações foram bastante intensas durante a pandemia”, complementa.
Para ela, a percepção de uma cidade de 15 minutos já é aplicada nos bairros do centro, onde as pessoas moram perto de serviços, do trabalho e de alternativas de transporte. “Apesar disso, o movimento de ocupação do centro só é possível por meio do retrofit”, acrescenta.
Tendência na arquitetura moderna, o retrofit é o processo de modernizar empreendimentos históricos que não podem mais ser usados. Muitas vezes são prédios que oferecem perigo aos moradores por causa da falta de manutenção ou estrutura ultrapassada.
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“Como o centro de São Paulo não vivenciou o retrofit antes, muita coisa acabou se perdendo”, lamenta Isadora. Quem corrobora essa perspectiva da região é Marcelo Dadian, VP de Novos Negócios ZAP+ na OLX Brasil. “A solução para os problemas de habitação da cidade passam pela revitalização do centro”, acrescenta.
Dadian entende que o centro está conectado à tendência das pessoas, principalmente as mais jovens, se interessarem menos pelos carros. Em sua visão, a questão do conforto e de perder menos tempo no trânsito tornaram a ideia de não ter um automóvel menos assustadora para a população.
Depois de tanto tempo preso em casa por causa da quarentena, as pessoas ressignificaram as formas de viver e isso impacta diretamente a maneira como as casas são vendidas. É nisso que acredita Dadian. “Antigamente, o corretor de imóveis tinha que ser especialista em uma área. Hoje, além disso, ele precisa ser um membro influente da comunidade em que está inserido”, aponta.
Não à toa, aliás, a quarentena foi tão significativa para a mudança no formato dos prédios e da estrutura oferecida aos moradores. O aumento na busca por apartamentos com home office e maior espaço físico são algumas das tendências notórias desse sentimento.
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“As pessoas querem estar cada vez mais no seu lugar de lazer. A pandemia alterou a experiência do que é viver e o que significa ir ao trabalho. Tanto é que os escritórios vêm mudando tanto para que as pessoas se sintam com a sensação de estarem dentro de casa”, exemplifica Leila Jacy, diretora de aquisições e desenvolvimento na Tishman Speyer.
Ela acredita que o próprio conceito do que é escritório também está se transformando. “O escritório não é mais uma mesa ou uma sala de reunião, é um lugar onde as pessoas se encontram. E junto com essa ideia, transformou-se, também, o modo de viver nos apartamentos”, afirma.
O crescimento na busca das incorporadoras pelos terrenos localizados em ZEUs (Zona Eixo de Estruturação da Transformação Urbana), incentivadas pelo Plano Diretor da Cidade de São Paulo, ajudaram a definir a tônica do que seriam projetos de alto padrão, segundo a reflexão de Jacy.
“Hoje em dia, o alto padrão está no conceito e não no valor pago pelo imóvel”, ela defende. “O grande desafio do mercado imobiliário atual é promover uma quebra de paradigmas e entender que as tendências tomam tempo para acontecer e se consolidar”, aponta.
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Eudoxios Anastassiadis, fundador e CEO da Alfa Realty, concorda com o apontamento ao levantar que o ciclo imobiliário segue uma velocidade particular. “Muitas pessoas saíram das grandes cidades na pandemia. E quem não saiu, idealizou. Hoje, elas estão voltando, mas já com outras expectativas”, elucida.
A prova disso, segundo ele, é vista na própria escolha dos modelos de apartamentos. “Antes, não existiam unidades com acabamentos prontos, como armários embutidos, mas hoje as pessoas solicitam isso de cara porque não querem perder tempo. Querem o apartamento pronto”, pontua.