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[OPINIÃO] A escassez de mão de obra ameaça o crescimento da construção civil no Brasil

"A falta de trabalhadores também afeta a produtividade e a eficiência dos canteiros de obras"/ Crédito: saravut/AdobeStock
Amilton Oliveira
10-11-2025 - Tempo de leitura: 3 minutos

A construção civil, historicamente um dos pilares do desenvolvimento econômico brasileiro, enfrenta um obstáculo que vem comprometendo sua capacidade de expansão: a crescente escassez de mão de obra qualificada. Esse problema, que se agravou nos últimos anos, tem impactado a produtividade, elevado os custos operacionais e desacelerado o ritmo de geração de empregos no setor.

Embora o mercado ainda mostre sinais de aquecimento, os dados mais recentes indicam que a dificuldade de encontrar profissionais especializados se tornou um dos maiores entraves para o crescimento sustentável da atividade.

De acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), 82% das empresas da construção civil relataram dificuldades para contratar trabalhadores no primeiro trimestre de 2025, o maior índice desde 2012. O setor de serviços especializados, como instalações elétricas, hidráulicas e acabamento, foi o mais afetado, com 70%. Ou seja, esse cenário tem impactado diretamente os custos do setor.

Segundo o Custo Unitário Básico (CUB/m²), divulgado pelo SindusCon-SP, os custos da construção em São Paulo aumentaram 6,54% em 2024, sendo que o componente mão de obra registrou uma alta de 8,56%, acima da inflação dos materiais (5,34%) e dos serviços (3,66%). No mesmo período, a inflação da construção civil no Brasil, medida pelo Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi), alcançou 7,32%, com destaque para o aumento de 9,5% no custo da mão de obra.

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Além disso, a falta de trabalhadores também afeta a produtividade e a eficiência dos canteiros de obras. O setor ainda convive com um perfil envelhecido de sua força de trabalho: a idade média dos profissionais da construção é de aproximadamente 42 anos. Esse dado preocupa, pois indica não só uma possível perda de produtividade, como também a falta de renovação do quadro de profissionais, já que os jovens não estão sendo atraídos para a área em volume suficiente.

Apesar do cenário desafiador, com juros ainda elevados e impactos no crédito à produção, o setor da construção civil manteve a geração de empregos em 2025. De janeiro a agosto, foram criadas 194,5 mil vagas formais, com crescimento positivo por oito meses consecutivos, segundo o CAGED, e até o final de agosto foram registrados mais de 3 milhões de pessoas trabalhando formalmente no setor. Considerando o acumulado até maio, o setor registrou 149,2 mil novas vagas, uma retração de 6,7% frente ao mesmo período do ano anterior, quando o saldo era de quase 160 mil postos com carteira assinada.

Ainda assim, a projeção da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) é otimista, estimando um crescimento de 2,3% no PIB da construção civil em 2025.

Portanto, a consequência imediata desse cenário é a desaceleração do crescimento da construção civil. Após um avanço de 4,1% em 2024, o PIB do setor deve crescer entre 2,3% e 3% em 2025. Já a confiança dos empresários também está menor do que o esperado: o Índice de Confiança da Construção (ICST), da FGV, ficou em 94,9 pontos em janeiro de 2025 — abaixo da linha de 100 pontos, que separa o índice otimista do pessimista.

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As causas dessa crise de mão de obra são diversas. A baixa atratividade das profissões do setor para os jovens, a carência de formação técnica adequada, a alta rotatividade de trabalhadores e a informalidade são fatores que contribuem para a perpetuação do problema. Além disso, muitas empresas ainda operam com modelos de gestão ultrapassados, com baixa adoção de tecnologias que poderiam melhorar a produtividade e atrair novos perfis profissionais.

Diante desse cenário, é urgente a formulação de políticas públicas e privadas que incentivem a formação profissional, valorizem as carreiras no setor e melhorem as condições de trabalho. A construção civil precisa de um novo pacto social que une governo, setor produtivo e instituições de ensino para qualificar trabalhadores, reduzir a informalidade e modernizar os processos produtivos. Sem isso, o setor corre o risco de perder competitividade e não conseguir responder à crescente demanda por habitação, infraestrutura e obras públicas em um país que ainda precisa construir muito.

Portanto, enfrentar a escassez de mão de obra na construção civil não é apenas uma questão de gestão de recursos humanos, mas uma necessidade estratégica para o desenvolvimento do Brasil. O futuro do setor depende da capacidade de atrair, formar e reter talentos.