No início deste mês, a economista norte-americana Claudia Goldin recebeu o prêmio Nobel de Economia por sua pesquisa sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho. Ela estudou mais de 200 anos de dados relativos à presença feminina no mercado americano e traz uma análise da pauta ao longo da história para contextualizar a disparidade salarial entre homens e mulheres.
Goldin, que se tornou a terceira mulher a receber o prêmio nesta categoria e a primeira a recebê-lo individualmente, mostra que “as mulheres estão amplamente subrepresentadas no mercado de trabalho global e, quando trabalham, ganham menos que os homens”.
A análise dela me remeteu ao tal “greedy work” (trabalho ganancioso, em tradução livre), termo muito comum no setor imobiliário, em especial nas equipes de vendas, em que as recompensas são concedidas aos colaboradores sempre disponíveis.
O colaborador que está disposto a trabalhar a qualquer hora – à noite, nos fins de semana, nas férias e plantões – recebe as maiores recompensas. Uma dinâmica amplamente difundida e estimulada para alcance das metas agressivas de vendas pelas empresas do setor. E acredito esta ideia é uma das principais responsáveis pela desigualdade de gênero no contexto profissional.
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Percebo isso há mais 4 anos, desde o início do meu trabalho frente ao Mulheres do Imobiliário, quando comecei a lidar com dilemas diversos à ascensão profissional feminina no mercado imobiliário, além das dificuldades para ingressar no setor.
Destaco especialmente a chamada Síndrome do Degrau Quebrado, que nomeia os desafios que impedem nossa ascensão a cargos de alto comando. Na prática, uma mulher precisa subir uma escada enorme e, quando está próxima ao topo dela, ou seja, prestes a ascender a um cargo de liderança sênior ou comandar seu próprio negócio, ela se depara com um degrau quebrado ou perigoso.
Uma pesquisa do IBGE de 2022 indicou que há uma diferença de mais de 20% entre a remuneração de homens e mulheres. A legislação brasileira até procura combater esta desigualdade por meio de leis, mas existem diferenças estruturais que tornam esta questão mais difícil de superar.
Importante pontuar que quando falamos em mulheres em posição de liderança, estamos falando de lideranças mais perceptivas. Afinal, a presença feminina é um convite para pensarmos como estamos nos relacionando.
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Ainda deixamos a desejar quando falamos de representatividade feminina no imobiliário, principalmente frente às entidades de classe e em conselhos das principais empresas do setor. Somente quando agirmos a favor de incluir mais mulheres em mesas onde decisões são tomadas, poderemos derrubar as barreiras que ainda impedem a ascensão feminina.