Não é segredo que as contas de casa estão mais caras. Puxado pela alta nos preços do combustível, energia e alimentos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) variou 0,96% em julho/2021 – e no acumulado dos últimos 12 meses, a inflação já soma 9%.
Uma das alternativas para aliviar o bolso é compartilhar o aluguel e morar com amigos. O Imovelweb realizou a pesquisa “Mudar-se com amigos, sim ou não?” para entender os motivos, as preferências e os receios dos brasileiros na hora de dividir o lar. O resultado mostrou que 30% dos participantes topariam morar com amigos. Destes, 69% gostariam porque distribuir as despesas ajudaria financeiramente.
Outros motivos apontados foram: preferir ter uma companhia a morar sozinho (29%), ter um estilo de vida parecido (26%), viver em harmonia (18%), tornar-se independente dos pais (13%) e, na circunstância de uma separação conjugal, preferir não morar sozinho (5%). A pesquisa mostra que a moradia compartilhada, também chamada de coliving, é um suporte não somente financeiro, mas emocional e afetivo.
“Eu gosto de ter com quem conversar em casa”, conta Breno Venturi, 23 anos, analista de investimentos. Desde 2019 ele optou por dividir o apartamento com o amigo Vinícius. “A gente acaba se motivando também a manter uma dieta mais saudável e fazer atividade física. Imagino que seria ainda mais difícil se tivesse que manter a disciplina por conta própria.”
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No começo de 2021, com o reajuste do aluguel e a inflação, eles se mudaram para um apartamento maior em Moema e trouxeram um terceiro amigo para dividir as despesas. “O clima é sempre bem amistoso. Temos uma mentalidade aberta e, com bom senso, todo mundo convive bem”, completa.
A pesquisa do Imovelweb também investigou as questões mais importantes para uma boa convivência. Entre as principais condutas estão: respeitar a privacidade do outro (79%), ter confiança e boa comunicação (75%), respeitar espaço e horários (73%), manter a limpeza da casa e distribuir as tarefas de maneira equitativa (69%), distribuir as despesas de maneira igual (65%), definir as diretrizes de coexistência desde o início (60%), não se empolgar diante das situações que surgem e incomodam (26%).
Angelica Quintela, Gerente de Marketing do Imovelweb, ressalta que a pandemia mudou de maneira consistente as buscas por imóveis. Se antes as pessoas procuravam imóveis mais próximos ao trabalho, hoje preferem imóveis maiores e que sejam mais confortáveis para trabalhar de casa. “O levantamento também foi realizado na Argentina e percebemos um comportamento muito semelhante nas pesquisas entre os dois países: os argentinos também têm como principal motivo para morar com amigos a possibilidade de compartilhar os custos de casa”, afirma. A pesquisa identificou também que os nossos vizinhos são um pouco mais receptivos com a ideia de dividir o lar com amigos: 35% deles topariam o coliving, contra 30% dos brasileiros.
A pesquisa também mostrou que 46% dos entrevistados preferem morar com conhecidos, apenas 1% optam por desconhecidos e 52% morariam com desconhecidos ou conhecidos, dependendo da situação. Além disso, para 60% a convivência pode arruinar uma amizade a longo prazo. Os motivos apontados foram o desgaste da relação de amizade (49%), os limites de confiança serem ultrapassados (16%), a dificuldade em solucionar problemas (15%) e questões financeiras (8%).
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Letícia Dantas, 20 anos, agente de Customer Experience, conheceu de perto as agruras de morar com um amigo e perceber que não dá certo. Por nove meses a convivência foi problemática, até que uma briga final a separou do amigo. “Tínhamos combinado de fazer a limpeza mais pesada nos fins de semana e ele nunca cumpria, chamava outros amigos em dias de semana para ficar até às 5h da manhã ouvindo música alta, quebrava nossos móveis e não consertava, atrasava o pagamento das contas.” Com tantos problemas e uma comunicação que não resultava, a paciência acabou. “Relevei e tentei entender por conta da amizade, até que não deu mais para aguentar e tivemos uma briga feia por ele deixar um balde com vômito na porta do meu quarto por duas semanas e comidas estragadas. Foi horrível, mas ele decidiu se mudar após a briga.”
Apesar da experiência ruim, Letícia mora hoje no bairro do Bom Retiro com outros quatro amigos e uma gatinha. Para ela, a relação está muito mais saudável. “Temos atritos normais, porque estamos nos vendo todos os dias, mas é mil vezes melhor.” Para quem está considerando apostar no coliving e juntar as escovas de dentes com um amigo, ela dá a dica: “É preciso estar preparado para novos costumes e combinar de forma bem clara as regras para uma boa convivência. Porque, apesar da amizade, viver diariamente com a pessoa pode afetar a relação.”
A pesquisa do Imovelweb também levantou os motivos para não dividir uma casa com amigos. As razões apontadas foram:
– Preferir morar sozinho (53%);
– Preferir viver em casal (33%);
– Preocupação com conflitos que podem acabar com a amizade (16%);
– Vidas e horários diferentes (7%);
– Dificuldade em concordar com amigos (5%)
– Outros motivos (15%).
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Dos participantes que já moraram com amigos, mas tiveram que reverter a situação, os motivos apontados foram: pensar em morar sozinho (31%), vários conflitos ao longo da convivência (29%), dificuldade em concordar com tarefas domésticas (14%), pensar em morar com companheiro (9%), não ter as mesmas condições econômicas (7%) e outros motivos (9%).