As vendas das cotas de consórcio cresceram 14,6% em 2021, segundo levantamento da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac). Até julho deste ano, as adesões já subiram 11,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Mesmo em alta, será que a modalidade é a melhor forma de adquirir um produto?
O consórcio reúne pessoas que buscam adquirir um mesmo bem, com prazo estabelecido em contrato. Ele pode ser um carro, moto, veículo ou eletroeletrônico. O grupo é representado por uma administradora de consórcio, que deve ter aval do Banco Central do Brasil para funcionar.
O pagamento se dá por meio de parcelas reajustadas por indicadores econômicos, como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). Já a contemplação ocorre por meio de sorteios ou lances.
Você acha que não consegue guardar dinheiro e, para isso, precisa de um boleto para destinar a uma compra de um bem? Não tem pressa para obter o bem imediatamente? Não tem disciplina para fazer uma reserva e investir? Então, o consórcio pode ser uma alternativa para você. Essas, inclusive, são as características apontadas por especialistas ouvidos pelo E-Investidor para aderir à modalidade.
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Mas, antes de tomar a decisão, é importante verificar alguns pontos, recomenda Eduardo Reis Filho, educador financeiro e especialista em investimentos. “É importante avaliar se as parcelas cabem no seu bolso, escolher uma administradora de confiança, fazer simulações comparando diferentes valores e prazos, e ter paciência”.
Tolerar prazos é essencial para o sentimento da empolgação não se transformar em frustração, comenta a psicanalista Márcia Tolotti. Ela cita um exemplo: se a pessoa adere a um contrato com 100 parcelas, ela tanto pode ser sorteada no início como no fim do contrato. “Então, a pessoa tem que ter uma consciência e uma autorresponsabilidade de saber que poderá ser contemplada apenas no final (do consórcio)”, diz. Segundo Tolotti, não dá para contar apenas com a sorte.
O objetivo do consórcio é que todos, ao final do grupo, adquiram a carta de crédito. Então, é importante manter o pagamento em dia para evitar processos por inadimplência, alerta Eliane Tanabe Deliberali, da Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar).
De acordo com Tanabe, desfazer-se de um consórcio pode acarretar prejuízo. Mesmo tendo a possibilidade de passar a cota para outro interessado, “sempre vai ter um deságio, e, com isso, perda de parte do que a pessoa pagou”, diz. Ela desencoraja o perfil indisciplinado com pagamento de boleto a contratar um consórcio.
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Diferentemente do financiamento, no qual a compra é imediata, no consórcio é preciso contar com a sorte ou ter dinheiro para ofertar lance e obter o crédito. Para quem tem condições de dar um lance e antecipar a contemplação, pode ser uma forma de furar o sorteio e conquistar o bem de modo mais rápido.
Para o consultor financeiro Alvaro Bandeira, o ideal é ter uma poupança para dar entrada no bem e buscar o financiamento, “ pois as taxas ainda estão baixas”. Bandeira afirma que há maneiras melhores de ter retorno financeiro ao optar por investimentos, como renda fixa, ações e fundos multimercados.
Já para o especialista em consórcio do Ailos, Josemar Aguiar, a modalidade é uma forma de estar livre das taxas de juros do financiamento. “O principal benefício da aquisição do consórcio é a possibilidade de adquirir um bem ou serviço com poder de compra à vista e não pagar juros por isso, apenas uma taxa de administração”, afirma.
A taxa de administração funciona como uma remuneração à administradora do consórcio “pela formação, organização e administração do grupo de consórcio até o encerramento”, prevê a lei nº 11.795, de 2008, sobre o Sistema de Consórcios.
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Eliane Tanabe explica que a taxa é diluída nas parcelas. Além disso, ela chama a atenção para dois pontos: as parcelas passam por correção monetária “para que todos tenham a condição de comprar um bem, mesmo que ele sofra com a inflação” e alguns consórcios embutem na cobrança os custos com seguro.
E o consórcio, é investimento ou não? De acordo com o educador financeiro Eduardo Reis, ele é uma “compra programada”, na qual você vai reservar uma quantia para um fundo para conseguir a mercadoria ou serviço. Para Reis, a modalidade não é um produto de investimento.
Reis ainda afirma que seria até mais vantajoso reservar o dinheiro para aplicar nas rendas fixa e variável do que em um consórcio. “Se eu investir o dinheiro, ele vai estar rentabilizando de acordo com o investimento que eu escolhi”, afirma.
Este texto foi publicado antes em:
https://einvestidor.estadao.com.br/comportamento/vale-a-pena-fazer-um/
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