O Brasil recebeu 70% dos valores investidos em proptechs na América Latina em 2022, de acordo com o Latin America: Future of Proptech. O País vem se consolidando como um ambiente promissor para quem empreende no setor, mas ainda apresenta um cenário complexo de inflação, juros e de mudanças contínuas nos hábitos de consumo. Qual será, então, o futuro das proptechs no Brasil?
Para responder a essa pergunta, o Estadão Imóveis ouviu Brian Requarth, fundador do Viva Real, ex-conselheiro do Grupo Zap e co-fundador do Latitud, fundo que investe em tecnologia para startups na América Latina.
“O mercado brasileiro ainda é atendido por pequenos corretores familiares e agentes independentes sem capital para se tornar digital”, avalia Brian. Esse ambiente fragmentado contribui, na sua visão, para serviços que não atendem completamente às necessidades dos consumidores. “O baixo NPS (Net Promoter Score – nota que mede a satisfação dos clientes) dos bancos, por exemplo, abriu espaço para as fintechs”, afirma.
Brian critica a falta de transparência que gira em torno do setor. “Quando comprei uma casa nos EUA, há cinco anos, consegui acessar uma quantidade imensa de informações do imóvel, incluindo a quantidade de ex-proprietários e coisas do tipo”, exemplifica. “Essas informações permitem que a proptechs realizem inovações e construam a partir do que é coletado”, pontua.
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“A Inglaterra avançou muito nos últimos 10 anos, porque as empresas locais se tornaram mais transparentes.” Para ele, esse movimento passa por duas transformações: a participação de governos para determinar normas que promovam a transparência e o surgimento de empresas focadas especificamente nessa consolidação de dados em território nacional.
O empreendedor descreve o mercado nacional como uma “caixa preta”. “Muitas vezes essas informações já estão dentro do banco de dados das empresas, mas elas não são disponibilizadas para o público. É difícil encontrar detalhes claros sobre imóveis comerciais e preços, por exemplo. Dessa forma, muitas oportunidades de negócio, seja de venda, aluguel ou temporada, se perdem”, lamenta.
O Brasil tem 242 milhões de smartphones, o que significa mais de um celular inteligente por habitante, de acordo com levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A alta penetração dos dispositivos no País é outra possibilidade ainda pouco explorada, segundo Brian. “Comprar um imóvel agora é como comprar um imóvel na geração passada. Ainda estamos no minuto 10 e tem muito jogo pela frente.”
Ele destaca obstáculos do processo, como a burocracia envolvendo cartórios, mas prevê que o trabalho remoto vai estimular a transformação ao permitir que mais pessoas migrem para o subúrbio ao invés de precisar continuar morando nos grandes centros. “A mudança é de longo prazo e uma adoção em larga escala desse movimento migratório vai impactar diferentes aspectos do setor”, acredita.
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O ano de 2022 ficou marcado pelo “inverno das startups”. De grandes unicórnios a startups emergentes, diversos negócios anunciaram demissões em massa para continuar funcionando. O movimento foi impulsionado pela alta de juros em cenário global e a retração dos fundos de venture capital e de aportes. Brian entende que a perspectiva é que o setor se mantenha nessa toada.
“O dinheiro em capital de risco no Brasil vai ser ainda maior. Todos os setores devem ser atingidos por isso, não apenas as proptechs”, avalia. Dessa forma, ele prevê a necessidade das companhias de se adaptarem ao modelo de asset light, quando as estratégias que norteiam o negócio passam por utilizar a menor quantidade possível de dinheiro e recursos necessários para tornar a operação viável.
Diante da diminuição dos potenciais investimentos para as startups no País, as proptechs, em 2023, deverão buscar modelos mais eficientes de gestão. “Antes os negócios precisavam de muito capital para sobreviver. Agora elas devem criar processos que aumentem a eficiência e a tornem mais rentável, de forma rápida e sem diminuir a importância da inovação”, orienta.