O mercado de arquitetura e design de interiores não passou ileso aos impactos negativos sofridos pela economia durante o isolamento social e quem trabalha na área teve que se readequar de diversas maneiras. Porém, a demanda do setor cresceu durante a pandemia, segundo um estudo feito em 2020 e 2021 pela Archademy – startup brasileira que oferece soluções para arquitetos. Entre os 900 profissionais entrevistados durante o levantamento, 80% afirmaram que a pandemia aumentou a procura de clientes por projetos para arquitetos e designers de interiores.
De todos os escritórios participantes da pesquisa, 95,5% dos profissionais receberam demanda para reforma de ambientes residenciais. Entre eles, 67,4% relataram ter recebido pedido de adequação do layout geral da casa, 65,8% para adequação da casa para home office e 58,4% para alterar os espaços de convivência.
“Notei que em 2020 muitos apartamentos vinham com a demanda por escritório, mas agora é padrão ter até dois escritórios para o casal. Em 2021, o que aconteceu com meus clientes foram as mudanças grandes: saíram de apartamentos pequenos para casas com área de lazer”, conta Jéssica Martins, sócia da Buriti Arquitetura. “Brinco que antes da pandemia eu reformava apartamentos; hoje reformo e construo casas – com exceção de um cliente antigo, que em 2020 nos procurou para adequar os espaços de trabalho e em 2021 para sair de São Paulo e mudar para a praia.”
Para o CEO da Archademy, Raphael Tristão, a necessidade de novas adequações em residências, que agora se tornaram local de trabalho para grande parte das pessoas, contribuiu para o aquecimento deste mercado, mesmo em um período de cautela com os gastos. “A pandemia adicionou o home office ao programa de necessidades básicas de qualquer projeto. A própria pesquisa mostrou isso, já que 65% dos entrevistados disseram que foram procurados para reformas relacionadas a ambientes de trabalho remoto, o que antes era incomum”, conta.
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Se em junho de 2020, as mudanças no perfil de projeto em meio à pandemia ainda eram tímidas (44,3% disseram ter recebido demandas para adequação da casa em decorrência da COVID-19 à época da pesquisa), este ano a tendência se consolidou. Em 2021, 59,3% responderam que “estão recebendo solicitações diferentes para adequações de ambientes pós-COVID-19”. Além do espaço para montar a estação de trabalho, Jéssica Martins aponta também que os pedidos recentes enfatizaram o contato com a natureza, a criação de espaços para estar, áreas de lazer e flexibilidade de usos.
Ainda de acordo com a pesquisa “Impacto da COVD-19 para Arquitetos e Designers de Interiores”, 81% dos participantes relataram a percepção de que os clientes estão valorizando mais seus espaços. Tristão acredita que entender essa mudança de comportamento por parte de quem procura o serviço deve gerar crescimento de demanda ainda maior para os próximos anos.
“Esse estudo pode auxiliar os arquitetos sobre como o mercado está se comportando, principalmente neste novo cenário de valorização da casa. Sabendo o real impacto da quarentena no ramo de arquitetura e urbanismo, é possível traçar estratégias para aproveitar melhor as oportunidades que podem surgir, gerando mais negócios e aumentando a visibilidade dos projetos”, explica o CEO da Archademy.
2021 também trouxe novos desafios, como a escassez de matéria-prima que levou a falta de produtos necessários à reforma e construção. “Ocorreram dificuldades com relação a valores, que subiram 20% a 30%. Desde o ano passado nós estocamos material por um período maior também”, afirma Jéssica. “Esperamos principalmente o aço, a madeira e o concreto reduzirem o valor, mas sabemos que está atrelado ao dólar e a economia está flutuante neste momento. Esperamos que a instabilidade política do País não afete ainda mais esses mercados.”
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O estudo também identificou que 72% dos arquitetos e designers de interiores alegaram que muitos fornecedores estão sem produtos para entregar. Não à toa, 67,4% relataram maior incidência de atrasos nas obras. O boom de reformas fez com que os prazos de entrega ficassem mais longos também. 77,8% dos profissionais concordam que esse foi o maior impacto negativo da pandemia no setor.