Os engarrafamentos das ruas de São Paulo ainda são marcados pela fumaça preta de combustível queimado, mas a tendência é que, no futuro, essas cenas sejam menos comuns. Não os congestionamentos, estes ainda devem durar bastante. Porém, com a expansão da produção e crescente popularização dos carros elétricos, eles devem se tornar mais sustentáveis.
No ano de 2022, o Brasil registrou crescimento de 41% na venda de carros elétricos, de acordo com levantamento da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). E um estudo da McKinsey projeta que o Brasil terá uma frota com 11 milhões de carros movidos a bateria elétrica até 2040. A perspectiva de avanço, entretanto, esbarra na falta de estrutura do Brasil para atender esse público.
A ausência de postos de carregamento e de uma infraestrutura adequada para os veículos elétricos nas cidades ainda cria resistência em potenciais compradores, desacelerando a velocidade desse desenvolvimento. No entanto, o poder público e entidades privadas já começaram a se mobilizar para tornar o ambiente mais propício aos carros elétricos.
Em São Paulo, por exemplo, a Lei n° 16.642 determina obrigatoriedade da instalação de tomadas de energia elétrica nas garagens de novos condomínios construídos no município. Sancionada em meados de 2021, a norma obriga que todos os edifícios novos possuam estações de recarga para veículos elétricos. Enquanto isso, os condomínios já construídos correm atrás para se adaptar.
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“O processo é mais simples do que parece, mas assusta no início”, comenta Andresa Malisano, assistente executiva e síndica de um condomínio de alto padrão no Brooklin, zona sul de São Paulo. “Meu prédio tem 13 anos de idade. Quando foi construído nem havia a idealização de receber carros elétricos. Essa demanda só surgiu há uns três anos, por causa da solicitação de um morador”, resume.
Ela conta que, por não ter um direcionamento claro, recorreu a uma gestora que a orientou a criar um sistema de consumo de energia elétrica individualizado. Ou seja, o posto de carregamento é instalado na vaga de estacionamento do morador e ele recebe os custos do uso na própria conta de luz, de forma automática. Antes da instalação, porém, foi necessário a participação de diversos profissionais.
Um engenheiro precisa fazer a avaliação técnica para analisar se o prédio suporta a instalação do posto de recarga e, com o documento de autorização em mãos, Andressa explica que uma empresa homologada foi contratada para dar seguimento ao projeto. “A instalação varia entre 6 e 15 mil reais. Como cada morador do prédio tem 5 vagas de garagem, foi fácil encontrar um pilar para instalar”.
A síndica esclarece que todos os custos foram arcados pelo próprio morador e a primeira instalação criou uma tendência. Desde então, outros três proprietários passaram a contar com suas tomadas. “E se todos quiserem colocar, não vai ter problema. O prédio não sofre com sobrecarga de consumo e é até uma forma de valorizar o imóvel. Um diferencial na hora de vender ou alugar”, pontua.
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A preocupação dos condomínios com as questões ESG se mostra cada vez mais notável. Pelo menos é isso que indica o levantamento da CondoConta apontando que os condomínios brasileiros estão solicitando mais crédito para investir em energia solar do que em segurança. “Diante desse cenário, está aumentando a busca por atualizar a situação das garagens”, sintetiza José Roberto Graiche Junior, advogado especializado em Direito Imobiliário e vice-presidente do Grupo Graiche.
Morador de um condomínio no Paraíso, na zona centro-sul de São Paulo, ele usa a própria experiência para ilustrar o processo de atualização do setor. “Houve demanda de condôminos para a instalação de uma estrutura para carregamento de carros elétricos. O condomínio fez um estudo para entender a capacidade elétrica e entender o que era possível ou não fazer”, explica.
O laudo constatou que era possível que cada uma das 24 unidades do edifício pudesse contar com sua própria tomada. Realizaram um orçamento e a contratação do serviço precisou ser aprovada em assembleia. Atualmente, cinco moradores possuem um carro elétrico e fazem uso das tomadas de cobrança individual. Ainda assim, todos possuem um posto de recarga particular.
Graiche alerta que mesmo para os prédios que não conseguem oferecer opções individuais, é possível adaptar para quem deseja carregar seu carro elétrico por meio do rodízio de carregamento, por exemplo. “Você tem que dar condições iguais. Se hoje você tem apenas dois ou três pessoas usando, é necessário criar um sistema que os atenda e depois esteja preparado para acomodar a todos”, finaliza.
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