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Financiamentos mais caros? Saiba como Selic a 13,25% influencia mercado imobiliário

Setor não foi pego de surpresa pelo anúncio do Copom, mas efeitos devem ser de longo prazo/ Crédito: Antony Weerut/AdobeStock
Breno Damascena
30-01-2025 - Tempo de leitura: 4 minutos

Nesta quarta-feira, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) anunciou o aumento da Selic para 13,25%. A alta de 1 ponto percentual representa a segunda elevação seguida e indica a tendência de escalada na taxa básica de juros da economia brasileira.

Ainda que o movimento já fosse esperado como uma tentativa para mitigar os efeitos da inflação, a ação é capaz de impactar o mercado imobiliário, principalmente financiamentos e acesso a crédito.

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“Conviver com juros elevados trava o desenvolvimento, reduz a geração de empregos e penaliza empresas e famílias”, afirma o Luiz França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC), em nota enviada à imprensa. 

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Impacto da taxa Selic

A Selic é a principal ferramenta do Banco Central para controlar a inflação. Quando a inflação está alta, a instituição aumenta a taxa de juros para diminuir o consumo e, como consequência, baixar os preços. 

Ela está atrelada às taxas cobradas pelos bancos em empréstimos, financiamentos imobiliários e até em fundos imobiliários. Em teoria, se uma pessoa recorrer a um financiamento a partir da quarta-feira, vai se deparar juros mais altos. 

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“O ciclo atual de elevação da Selic certamente gerará aumento das taxas cobradas nos financiamentos”, aponta Fábio Moraes, economista da E2+. “É algo que está ocorrendo desde o final do ano passado (quando a Selic subiu para 12,25%). A Caixa, por exemplo, anunciou um aumento de juros começando já na primeira semana de janeiro”, relata. 

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Mercado preparado

Ou seja, a alta na Selic não pegou o mercado de surpresa. Desde a última reunião do BC, em dezembro, já se antecipava esse movimento para janeiro. E o Copom já confirmou a previsão de mais uma alta de 1 ponto percentual em março. A conduta simboliza uma permanência de visão da instituição mesmo com a troca na presidência do Banco Central. 

A reunião desta semana foi a primeira sob o comando de Gabriel Galípolo, nome indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que assumiu o cargo este mês, substituindo Roberto Campos Neto. “Os bancos e instituições financeiras não vão mudar o planejamento de custo do crédito por conta desta decisão”, observa Moraes. 

“O cenário que contempla um ciclo de elevação da Selic para um patamar entre 14,25 e 15,25% ao ano já está sendo incorporado por essas empresas desde o final do ano passado”, afirma. Isso não significa, porém, que os custos dos financiamentos passarão ilesos. 

Como efeito prático, a expectativa é que o setor enfrente um período de estagnação em 2025. “O mercado deverá apresentar redução relevante do vigor que apresentou no último ano. O ambiente será de ajustes, muito provavelmente com menos negócios”, analisa o economista. 

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Fundos imobiliários de papel em destaque

Os investidores também já acenderam um sinal de alerta para o patamar que a Selic alcançou. Carol Borges, head da EQI Research, entende que o impacto não será imediato, mas as projeções demandam adaptações na carteira de quem atua no segmento. 

Diante do quadro que se desenha, ela sugere que os fundos de papel – aqueles ligados a ativos financeiros, como Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras Hipotecárias (LH) – se tornem o foco dos investidores. 

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“FIIs de papel anexados à inflação que capturem os repasses do IGP-M e, principalmente do IPCA, vão proteger a carteira contra picos inflacionários”, explica. “A segunda recomendação são os fundos de papel atrelados ao CDI, que oferecem fluxos de caixa mais previsíveis. As taxas reais são positivas e ajudam a diminuir a volatilidade do portfólio”, acrescenta a economista. 

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Fundos de tijolo

Entre os fundos de tijolo – aqueles relacionados a imóveis físicos -, a analisa sugere cautela, mas entende que tanto o setor logístico quanto o de shoppings centers e híbridos podem ser uma saída. “Os fundos de galpões logísticos contam com contratos de longo prazo, às vezes acima de 10 anos, que são corrigidos por índices inflacionários e garante esse fluxo de caixa recorrente”, contextualista.

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“Hoje, a vacância do setor está abaixo de 10%, o que aumenta a segurança destes ativos e protege ali indiretamente contra a inflação”, acrescenta. 

Já os shoppings e híbridos se destacam pela diversidade apresentada nestes espaços. “Como não são específicos de um determinado setor e conseguem abarcar interesses de diversos segmentos. A miscelânea de produtos tem ajudado a mitigar o impacto dos juros altos”.

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