Estamos vivendo na era da fazenda moderna. É por isso que muitas de nossas cozinhas têm pias com cuba destacada, armários de estilo shaker e iluminação industrial, seja em um apartamento do período pré-guerra em Manhattan, seja em uma casa de dois andares em Mamaroneck. Uma sala de jantar não estaria completa sem uma mesa de madeira recuperada, talvez de um celeiro. Não do nosso celeiro, óbvio, porque quem em Westchester ou Manhattan tem um celeiro?
O estilo, com um toque moderno na fazenda americana clássica, aproveita as linhas limpas do design contemporâneo e as acentua com acabamentos industriais, enquanto dá um aceno ao que é considerado caseiro ou rústico. Uma variação do fenômeno shabby chic dos anos 90, o visual foi usado com destaque por Chip e Joanna Gaines no programa “Fixer Upper”, da HGTV, que terminou no ano passado. O casal, que redefiniu a cidade de Waco, no Texas, como capital do design, deixou temporariamente as ondas da TV e se prepara para lançar sua própria rede a cabo, mas sua marca de paredes shiplap e sofás brancos aconchegantes não parece estar evoluindo muito bem.
As lojas vendem acessórios decorativos que parecem fantasiosos em relação ao que verdadeiros agricultores escolheriam para pendurar nas paredes: molduras imitando janelas feitas com madeira velha falsa; palavras entalhadas na madeira – um monte – com frases grosseiras em textos troncudos como “Seja uma voz, não um eco”, ou uma sentença mais direta para a parede da cozinha: “Coma”. Além disso, ainda tem aquelas mesas de café envelhecidas que parecem ter sido plantadas em torno da lareira da família há décadas, não recentemente chegadas da China.
Contas do Instagram como Our Faux Farmhouse, The Modest Farmhouse e Our Vintage Farmhouse acumularam centenas de milhares de seguidores com fotografias infinitas de salas brancas, portas de celeiro penduradas em dobradiças pretas e cestas de vime cheias de cobertores felpudos. A hashtag do Instagram Modern Farmhouse tem quase 1,2 milhão de posts. Percorra o conteúdo e você começará a se perguntar se existe cor além da madeira branca, preta e recuperada. “O celeiro moderno, ou casa da fazenda, chegou para ficar”, afirma Sasha Bikoff, uma designer de interiores da cidade de Nova York que está construindo para si um celeiro branco moderno de 370 metros quadrados em East Hampton.
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Mas quis relatar essa história imaginando que talvez tivéssemos chegado ao auge da moda das fazendinhas. Encontrei sinais hesitantes de que a busca incansável por fazendas falsas pode estar diminuindo. Há um ano, a revista Southern Living pediu o fim da decoração de casas de fazenda e palavras entalhadas na madeira. E no mês passado, a House Beautiful perguntou: “A tendência da fazenda moderna morreu?”
Se o Pinterest é uma janela para a psique da estética americana, a paisagem permanece incansavelmente agrária, ou pelo menos falsamente agrária. Em novembro, as pesquisas no site por “decoração boêmia para a fazenda” aumentaram 335% em relação ao ano anterior e 302% para “varandas de fazenda para a frente da casa”. As pesquisas por “ideias de decoração de Natal para a fazenda” subiram 4,780%. Ou seja: pode esperar por uma temporada de férias bem rústica.
O visual é decididamente nostálgico, uma nova versão de “casinha na pradaria”, onde podemos ter uma cozinha com manteiga batida em casa, exceto pelo fato de que, na verdade, não precisamos mexer manteiga. “Há uma simpatia nisso”, diz Vanessa Alexander, designer de interiores em Los Angeles que recentemente construiu uma casa de fazenda de 600 metros quadrados para si mesma, em Malibu. “Tem algo de memória afetiva, conforto, família, nação e uma conexão com a terra.”
A ascensão da “fazenda moderna” – Laura Fenton, em artigo para a Curbed, informa que o termo se juntou ao léxico americano em 2016 – coincide com um momento de instabilidade e incerteza americana. Se o futuro não estiver claro, não é de admirar que desejemos recriar uma pastoral americana onde possamos nos enrolar em um cobertor de flanela e sentar em uma cadeira de vime na varanda olhando para longe como pioneiros, mesmo que a vista seja o subúrbio de Nova Jersey e não as Grandes Planícies. Esta versão da propriedade é pontuada por detalhes ousados, como lâmpadas de Edison, torneiras de latão e acabamentos austeros, talvez como um aceno para outra estética idealizada: o loft do Brooklyn.
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A fazenda moderna nos dá licença para arregaçar as mangas, para sermos adeptos do estilo de vida autossuficiente numa versão mais leve. Aqueles de nós que procuram uma saída astuta podem se expressar reformando uma cômoda antiga, adaptando novamente as molduras de janelas descartadas ou envolvendo os frascos de pedreiro com estopa. Quem precisa de um designer de interiores caro quando as lojas de decoração estão cheias de mesas com barris de uísque e vasilhas de cozinha vintage implorando para serem compradas?
Os Gaineses “são legais, são atraentes. Eles estão criando cabras e jardinando, todos os filhos parecem bem ajustados”, conta Gideon Mendelson, designer de interiores de Nova York. “O visual que eles comercializam é bonito, é fácil para os olhos, não é arriscado, parece caseiro, toca em muitas coisas que queremos.” O programa de TV “Fixer Upper” pode ter terminado, mas os Gaineses não. Sua marca, Magnolia, agora é uma revista, um mercado e uma agência imobiliária. Em outubro de 2020, Magnolia lança uma rede a cabo, substituindo a Rede DIY. “Eles estão avançando”, afirma Mendelson. “Estão indo em direção ao sucesso.”
Mas nenhum olhar único pode durar para sempre, mesmo que seus maiores campeões estejam ascendendo e vendendo uma linha de utensílios domésticos na Target. Deve haver um ponto de ruptura, certo? “Eventualmente, todo mundo se cansa. É por isso que uma tendência é passageira”, reflete Michael Amato, diretor criativo da Urban Electric Company, designer de iluminação. Embora a fazenda moderna tenha um apelo amplo, ela também pode se transformar em kitsch. “Para mim, o momento em que isso acontece é o minuto em que você entra no HomeGoods e há uma explosão de ‘Coma, viva, ria, ame, morra'”, diz ele.
Designers estão percebendo mudanças sutis. As lâmpadas de Edison estão perdendo a preferência, pois os proprietários percebem que, embora uma lâmpada bruta possa parecer bonita, olhar diretamente para uma delas não é muito atraente. E a cor parece estar voltando – cozinhas verdes! “A fazenda moderna está evoluindo para algo um pouco mais global”, diz Bikoff. “Pode ser balinês, pode ser chinês. Poderia ser um pouco italiano dos anos 70.” Portanto, se cansarmos das casas de fazenda americanas, sempre poderíamos nos dedicar a outras que parecem estar no sul da França ou talvez no interior da Inglaterra ou na Indonésia. Quem sabe? Essa vida de fantasia na fazenda pode ser ilimitada. / TRADUÇÃO DE ELENA MENDONÇA
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