Nos primeiros minutos de 2025, o céu de Pajuçara, bairro nobre de Maceió, foi tomado pela queima de fogos de artifícios. Porém, durante o restante do ano, quem olhar para cima, a partir da orla da praia, terá os olhos fisgados pelos imponentes edifícios que se espalham à beira-mar. O mercado imobiliário de alto padrão na capital de Alagoas está aquecido e a vista do oceano cada vez mais disputada.
Fruto deste movimento, o New Time é um edifício com arquitetura assinada e 13 pavimentos entregue em meados de 2024. Com direito a restaurante no terraço e uma piscina na cobertura, o prédio possui unidades de 30 m² a 110 m² e oferece comodidades de hotelaria aos moradores, como concierge, jangada particular e serviço de quarto.
“Nossa ideia é criar uma experiência em que as pessoas não saibam se estão em um hotel ou em um apartamento residencial”, brinca Hugo Dâmaso, Diretor da Colil Construções, incorporadora à frente do projeto, presidida por Gilson Calheiros.
Com unidades de 55 m² a 110 m², o prédio chegou a ter o metro quadrado negociado a mais de R$ 36 mil. “Tivemos uma unidade duplex comprada por um português que vem à Maceió uma vez por ano”, ilustra Damaso. Não à toa, um dos focos do empreendimento, assim como outros projetos na região, é atrair investidores de olho na rentabilidade da locação por temporada.
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Considerada a dona de uma das orlas mais bonitas do País, Maceió atrai turistas de todos os cantos do mundo. De acordo com um levantamento realizado pela Booking.com, a capital alagoana aparece como o destino com maior crescimento nas buscas neste verão. A cidade se destaca com um aumento de 94% em relação ao mesmo período do ano passado.
Até novembro de 2024, quase 2,5 milhões de passageiros desembarcaram em Maceió, segundo dados da Aena Brasil (Aeroportos Nordeste do Brasil S/A). Este fluxo de turistas é um dos motivos para a valorização imobiliária em Maceió, afirma Débora Cavalcanti, professora de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
“Observamos grandes lançamentos de estúdios e apartamentos de um quarto para esta região. Geralmente eles são pensados para investidores e fundos imobiliários”, aponta Cavalcanti. “Por outro lado, a população mais pobre foi deslocada para regiões mais distantes do centro, onde os imóveis custam mais barato”, critica.
Outro argumento para a valorização imobiliária na região, segundo a professora, foi um desastre ambiental que afetou mais de 60 mil pessoas em Maceió. O afundamento do solo causado pela exploração das minas de sal-gema pela empresa Braskem afetou 2,5% da área urbana da cidade. A região afetada pelo desastre era residencial e as famílias que lá viviam precisaram se mudar.
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A tragédia despejou milhares de famílias no mercado imobiliário, o que aumentou a demanda e impulsionou vertiginosamente o preço dos imóveis na capital. De acordo com o Índice FipeZAP, o preço médio do metro quadrado avançou quase 100% desde 2018.
“São pessoas de várias camadas sociais. Algumas delas foram para bairros menos valorizados, mas outras buscaram apartamentos em zonas nobres da cidade, inclusive com o dinheiro das indenizações”, contextualiza Cavalcanti.
De fato, em 2023, Maceió foi a capital onde o preço do imóvel mais subiu no País. Com uma valorização de 16% no ano, a cidade ficou à frente de Goiânia, Campo Grande e Florianópolis, outras capitais efervescentes no setor imobiliário.
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Naquele ano, a cidade ocupou as páginas de jornal de todo o país pelo acidente que provocou a evacuação emergencial de quase 5 mil famílias dos bairros Bebedouro, Bom Parto, Pinheiro, Mutange e Farol.
O embalo da valorização imobiliária observada em Maceió não é visto apenas nos arranha-céus habitados por famílias tradicionais e personalidades das colunas sociais na capital alagoana. Regiões no entorno da cidade também surfam os empreendimentos pensados para o público de alto padrão.
Marechal Deodoro, um município que faz divisa com a metrópole, por exemplo, ostenta mansões em condomínios de luxo. Na marina, os barcos, iates e jet skis indicam o poder aquisitivo dos moradores.
“Um terreno com vista para a lagoa pode chegar a custar milhões”, garante Pedro Oliveira, empresário à frente de uma franquia da Ornare, marca brasileira de mobiliário high-end. Ele conta que a chegada da empresa no estado foi motivada justamente pela demanda criada pelos moradores mais endinheirados.
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Este movimento se estende para a famosa Praia do Francês, parada obrigatória para turistas e surfistas que visitam a região. Só a incorporadora Viver Bem, por exemplo, deve lançar seis empreendimentos imobiliários com apartamentos que podem chegar a custar até R$ 5 milhões na região.
“A pandemia fez com que as pessoas entendessem a necessidade de morar bem, de ter uma melhor qualidade de vida e isso influenciou no mercado”, justifica Adoniran Guerra, diretor da incorporadora. “As pessoas vêm para cá e se apaixonam. Aí logo vão querer morar aqui”, brinca.
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*O repórter viajou para Maceió à convite da Ornare