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Tenda tem salto na dívida e pode levar negociar ‘licença’ com credores

A Tenda reportou prejuízo líquido consolidado de R$ 67,3 milhões no primeiro trimestre de 2022, uma reversão perante o lucro de R$ 36,9 milhões no mesmo período de 2021/ Crédito: Getty Images
Circe Bonatelli, O Estado de S. Paulo
12-05-2022 - Tempo de leitura: 3 minutos

Os estouros de orçamentos de meio bilhão de reais causaram um terremoto na Tenda em 2021 e estão reverberando em 2022. Desde que as contas saíram do prumo, a construtora – uma das maiores do programa Casa Verde e Amarela – passou a reduzir o ritmo de lançamentos e aumentar o preço dos imóveis para recuperar as margens. Mas o esforço terá que ir além disso. O próximo passo será conversar com credores para manter suas contas em dia.

A Tenda levou o primeiro “cartão amarelo” por infringir compromissos estabelecidos nos contratos de financiamento – os chamados covenants. A regra é que a companhia mantenha uma alavancagem de até 15%, considerando a relação entre dívida corporativa (sem contar financiamento à produção) e o patrimônio líquido. No balanço do primeiro trimestre, ela bateu em 33%, mais que o dobro do limite.

Se a situação se repetir por um total de dois trimestres dentro de um período de 12 meses, será configurada quebra do covenant, levando o “cartão vermelho” . A penalidade aí será antecipar o pagamento das dívidas tomadas sob essa regra, que totalizam R$ 990 milhões. No fim de março, a companhia tinha R$ 803 milhões em caixa e R$ 768 milhões em recebíveis de vendas de imóveis.

“Já estávamos esperando isso (alavancagem maior). E estamos trabalhando com todas as opções para resolver a geração de caixa da empresa”, afirmou o diretor financeiro e de relações com investidores, Marcos Antonio Pinheiro Filho, em entrevista. “Se não conseguirmos, vamos falar com credores, convocar uma assembleia e pedir um waiver (licença para o não cumprimento do covenant). Não há problema nenhum com nossos credores. É um negócio que não espanta a companhia”, complementa.

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Pinheiro Filho considerou “descabida” a hipótese de a dívida vencer de forma antecipada. Ele argumenta que a Tenda não enfrenta problemas de liquidez, nem de viabilidade. Segundo ele, o estouro de custos registrado no último ano foi causado pela inflação generalizada no País, que encareceu muito os materiais de construção. Por sua vez, a alavancagem maior é temporária e não compromete o negócio. “Estamos lançando novos projetos e melhorando a margem. Não é momento de estresse”.

Alerta

Nesta semana, a equipe de analistas de construção do Citi cortou o preço-alvo das ações da Tenda de R$ 23 para R$ 6,50 (o papel fechou cotado em R$ 4,70 nesta quarta-feira, 11) e reduziu a recomendação de compra para neutro. A razão para o rebaixamento, segundo os analistas, foi a expectativa de que a inflação cause mais impactos nos custos de produção da Tenda do que em outras construtoras. A segunda razão foi o risco de quebra dos covenants.

“A hipótese de cenário de estresse é da turma do contra”, rebateu o diretor da Tenda, sem citar nenhum nome de analista. “Do ponto de vista da gestão do dia a dia, a empresa é muito sólida”. “Com o que eu tenho de caixa e de carteira de recebíveis, eu pago a dívida tranquilamente”, emendou. Ele disse ainda que a construtora tem muitos terrenos que poderiam ser vendidos. “É só bater em outra incorporadora que isso vira dinheiro. Por que ainda não fizemos isso? Porque não estamos desesperados!”.

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Paralelamente, a Tenda está buscando reverter a queima de caixa. Desde o começo deste mês, os novos prazos de pagamento a fornecedores de materiais e serviços passaram de 30 dias para, no mínimo, 60 dias. A medida foi revelada pela Coluna do Broadcast em abril. A intenção é trabalhar com níveis mínimos de estoque para não comprometer o caixa. O diretor ponderou que está compartilhando acesso a linha de crédito mais atrativas para não desamparar fornecedores.

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