O engenheiro de software Fabrício do Espírito Santo foi morar nos Estados Unidos quando tinha 16 anos, em 1995. Lá ele construiu uma vida pessoal e uma carreira profissional que lhe permitiram financiar dois imóveis. Depois de mais de 20 anos, veio ao Brasil com a perspectiva de comprar uma casa no País de origem. Nesse processo, se deparou com uma burocracia exaustiva e resolveu buscar um meio menos habitual.
“Tentei um financiamento com os grandes bancos, mas como nunca morei no Brasil durante minha vida adulta, não tinha um histórico de renda ou pagamento de imposto em moeda brasileira para eles avaliarem”, narra Fabrício. “Depois de ser recusado várias vezes, me indicaram uma solução que avaliasse minha história de crédito também aqui nos EUA”, explica.
A resposta veio da Creditú, uma fintech de empréstimos imobiliários que nasceu no Chile há cinco anos e está prestes a completar o segundo aniversário no Brasil. A startup se propõe a disponibilizar crédito para as pessoas que são recusadas pelas instituições financeiras tradicionais. A maior fatia do público é composta por profissionais autônomos, informais, pessoas com nome negativado e brasileiros expatriados.
De acordo com Armando Botelho, Diretor Comercial da companhia no Brasil, a empresa consegue atender 20% deste público que foi preterido anteriormente. A estratégia para alcançar esses resultados passa pela flexibilização dos processos e condições mais inclusivas. “Atualmente, quem não é visto pelo motor de crédito dos bancos não é aprovado. Muitas pessoas que seriam boas pagantes se perdem aí.”
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Uma das formas de desatar esse nó criado pela automatização foi investindo mais na humanização do atendimento. “A gente utiliza tecnologia nessa jornada, mas a participação dos atendentes é substancial. Quando um cliente não é aprovado, tentamos entender o porquê. E fazemos isso com menos documentos e mais velocidade”, justifica Botelho.
Ao todo, a empresa recebe de 150 a 180 solicitações por mês e disponibiliza um valor de financiamento médio de 430 mil reais. Em contrapartida, a matriz, no Chile, já concedeu R$ 1 bilhão de crédito em mais de 3.500 financiamentos em 5 anos de atuação. “10% dos créditos foram concedidos a famílias imigrantes”, destaca Priscilla Nicolellis, Coordenadora de Marketing da Creditú no Brasil.
A proposta atual da empresa é chegar ao final do ano com R$ 100 milhões cedidos em crédito imobiliário. Para isso, se apoiam no atendimento humanizado e em juros mais baixos. Esses diferenciais são alcançados porque a empresa está sob o braço da Avla, uma empresa com atuação na América Latina especializada no segmento de seguros de garantia, e que se certifica de diminuir os riscos das operações de crédito da Creditú.
Enquanto atua para se estabelecer no Brasil, a fintech já começou a traçar metas para o futuro. Entre os próximos passos estão a oferta de produtos para melhorar o giro de estoque de incorporadoras, soluções de crédito para condomínios e uma oportunidade de financiamento de placas solares. “O mercado imobiliário é carente de inovação”, defende Botelho.
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“Hoje em dia, muita gente com dinheiro e recursos não consegue crédito por causa dos processos. Imagine um médico plantonista ou um trabalhador com ocupação mista que tem dificuldade de comprovar renda”, exemplifica. Em sua visão, o setor precisa de mais recursos para que as empresas se tornem mais competitivas e beneficiem o público. “Queremos tornar essa ação mais simples.”